Capítulo 26

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LIEL

Solicitei a Calvin que incluísse apenas as memórias relacionadas à Daisy. Assim que ele finalizou, tudo começou a fazer sentido. O Android foi criado com base na minha personalidade; mesmo sendo muito jovem quando o cientista removeu meu coração, eu já possuía essa postura autoritária, e foi isso que fez com que Daisy se apaixonasse por ele. Além de ter meu coração, ele usurpou o amor que poderia ser meu, o que me deixa extremamente enfurecido. Portanto, não irei desistir de conquistar o amor dela e Daisy retornará ao seu verdadeiro dono.

Como ela tem a audácia de me contrariar, ciente de que detesto ser desobedecido? Quando eu a encontrar, vou mostrar quem é o verdadeiro garoto.

Lançando o celular dela sobre a cama, deixo o quarto e sigo para a sala, onde vejo meu irmão e os outros se preparando para procurá-la.

— É inútil ir — digo, e todos me observam.

— Por quê?

— Porque Daisy não está mais no laboratório — respondo, e Malu se levanta do sofá. — Ela ligou no celular dela e eu atendi. Ela me pediu para se desculpar com as amigas, pois não voltará mais.

— Para de brincar, Liel — Malu diz, segurando meu braço. — Daisy nunca nos abandonaria.

— Mas ela abandonou. Ficou com medo de me encarar e fugiu — afirmo com raiva, puxando meu braço.

— Que absurdo — Malu diz, sentando-se no sofá. — Ela não pode nos deixar. Daisy precisa de nós, então faça algo, Liel.

— Liel não tem nada a ver com isso — Saramyr diz, aproximando-se. — Daisy fez a escolha dela.

— Você está muito enganado, irmão — falo, e ele me observa. — Tudo que envolve Daisy, eu me interesso — continuo, começando a andar. — E não vou descansar até encontrá-la.

— Você não é um substituto daquela máquina. Então, não se deixe influenciar — Saramyr diz, segurando meu braço.

— Aquela máquina roubou o que era meu por direito: o amor dela — afirmo, e Saramyr solta meu braço. — Eu vi todas as memórias da máquina. Ele possuía minha personalidade, e Daisy se apaixonou por isso, então era para ser eu e não ele — digo, retomando minha caminhada.

— Isso é apenas uma ilusão, Liel — Saramyr diz, e ignoro. — Não importa o que faça, ela nunca deixará de amar o Android.

— Eu não sou você, irmão — respondo, e ele arregala os olhos. — Você pode lamentar por não conquistar o amor dela, mas eu não vou ficar parado e nunca desistirei dela — reafirmo, continuando a andar.

— Espera, Liel.

— Deixa ele, Saramyr — Nulo diz, segurando o braço dele. — Você percebeu que seu irmão não é mais o mesmo desde que recuperou o coração dele?

— Isso não deve ser possível, Liel amar a Daisy.

— Há coisas que nem a ciência pode explicar. Talvez seja o destino — Zarky diz, e todos o olham.

Em algum lugar

DAISY

James me levou a uma mansão e, ao entrarmos, uma equipe médica me aguardava. As enfermeiras começaram a me preparar para o parto, e as contrações tornaram-se cada vez mais insuportáveis. Horas depois, meu bebê nasceu; ele é pequeno. Mas o que me chamou a atenção foram seus olhos, de um violeta idêntico ao de Liel, e percebi que seria impossível que Matt fosse o pai biológico dele. Sentimentos de felicidade e tristeza se misturaram em meu peito, mas preciso ignorar, pois meu filho não tem culpa de nada. Assim, não importa quem seja o pai; amarei meu anjo com todas as minhas forças.

— Já escolheu um nome para ele? — James pergunta, sentando-se na cadeira ao lado da cama.

— Ele se chamará Matt Santiago Jr. — digo, olhando para o bebê que estou amamentando. — Meu pequeno Matt.

— Tenho certeza de que o Android ficaria muito feliz com essa homenagem — ele fala, e olho para ele. — Ainda quer desaparecer?

— Estou cansada de ficção científica — respondo, e ele ri. — Quero viver em paz com meu filho. Recomeçar bem longe de tudo isso.

— Já que não mudará de ideia, mandei limpar seu nome, e você não é mais procurada pela polícia. Assim que se recuperar do parto, um jatinho estará te esperando no aeroporto, e ele te levará para sua nova vida.

— Obrigada.

— Eu destruí sua vida. Portanto, o mínimo que posso fazer é te oferecer uma nova — ele diz, levantando-se da cadeira. — Vou te deixar descansar — diz, começando a se afastar. Nesse momento, Matt começa a chorar.

— Calma, meu anjo — falo suavemente, então começo a cantar para ele. Ele para de chorar e, em alguns segundos, adormece. — Agora será só eu e você, meu pequeno anjo.

(...)

DAISY

A noite chegou e avisei a James que estou pronta para ir. Ele me leva até o aeroporto e, ao chegarmos, tenta me convencer a ficar, mas sou uma covarde e não quero encarar Liel. Assim, é melhor desaparecer para que ele possa seguir sua vida sem se deixar influenciar por um sentimento que não lhe pertence.

— Onde será minha nova vida?

— Você gosta do clima do sul? — James pergunta, e não respondo. — Como quer desaparecer, sua nova vida será em uma cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul.

— Por que não pode ser em outro país?

— Não tive tempo de preparar algo melhor que isso. Então, desculpe.

— Tudo bem. Espero que Saramyr não consiga me encontrar.

— Não se preocupe. Ele nunca irá te encontrar.

— Obrigada — agradeço, olhando para o jatinho. — Chegou a hora — digo, fitando-o. — Não esqueça de cumprir sua promessa de aceitar o povo do Saramyr em sua terra.

— Nunca irei entender as mulheres; você se importa com ele, mas está fugindo dele.

— Mas não é dele que estou fugindo — respondo, soltando um suspiro. — Preciso ir, adeus.

— Tchau e tenha um ótimo voo — ele diz, enquanto começo a andar, entrando no jatinho. Sento-me, olho pela janela e, em seguida, fecho os olhos, respirando fundo.

— Adeus, Liel — digo, abrindo os olhos.

matt. Amor de androideOnde histórias criam vida. Descubra agora