Tocar Música da Midia!
S/N POV
Era um dia chuvoso em Xangai, o tipo de chuva que parecia interminável, encharcando tudo até ao mais fundo. Fiquei junto à janela do nosso pequeno apartamento, a ver as gotas a correr pelo vidro, mil pequenas vidas a cair em direção ao seu fim. Cada gota espelhava uma parte de mim, como se eu também estivesse a cair. Mas, ao contrário da chuva, não tinha a certeza se iria aterrar. Sentia-me oco, uma dor surda algures no meu íntimo que não conseguia explicar.
O mundo lá fora agitava-se, indiferente aos meus pensamentos. Os carros buzinavam ao longe, as pessoas passavam apressadas com guarda-chuvas e a linha do horizonte de Xangai se erguia, meio obscurecida pela névoa pesada da chuva. Zhou estaria a chegar a casa em breve. Suspirei, com o hálito a embaciar o vidro, e afastei-me da janela.
Há semanas que andava nesta rotina, com um estranho entorpecimento a apoderar-se de mim, toldando-me a visão como a chuva lá fora. Tinha perdido a minha centelha - aquela chama interior que sempre me guiou pela vida, pelos desafios, pelo ruído. E parecia que a minha relação com Zhou estava a cair no mesmo ritmo. Não era fria, nem distante, mas... calma. Como se fôssemos duas pessoas a partilhar o mesmo espaço, mas a afastarem-se em comprimentos de onda separados.
Mas hoje, algo estava diferente.
Conseguia senti-lo, zumbindo sob a minha pele como eletricidade, e por mais que tentasse ignorá-lo, era persistente. Era um sussurro no fundo da minha mente, dizendo-me para me libertar, para me reconectar comigo mesma antes de qualquer outra coisa. E talvez, apenas talvez, isso se propagasse e me ligasse novamente a ele.
O som das chaves a tilintar à porta tirou-me dos meus pensamentos. Zhou entrou, sacudindo a chuva do casaco e do cabelo, e a sua presença encheu a pequena sala. O seu rosto iluminou-se quando me viu, embora o seu sorriso fosse mais suave, mais desgastado do que costumava ser. Voltei a sentir aquela estranha atração, lá no fundo, como se estivesse à beira de algo importante.
"Dia difícil?" perguntou ele, a sua voz um zumbido baixo, suave e familiar. Aproximou-se de mim, os seus dedos roçaram nos meus quando pegou na minha mão. Até aquele pequeno toque me fez sentir uma sacudidela, daquelas que não sentia há muito tempo.
Olhei para ele, olhei mesmo para ele, pelo que me pareceu ser a primeira vez em semanas. Os seus olhos estavam cansados, o tipo de exaustão que vem de mais do que apenas esforço físico. Eu sabia-o bem. Ele estava a esforçar-se, a tentar provar algo na pista, num mundo que exigia tanto dele. Eu estava a tentar fazer o mesmo à minha maneira, mas a verdade é que já não tinha a certeza do que estava a tentar provar.
"Tenho andado... desligada," admiti, a minha voz mais suave do que pretendia. As palavras eram difíceis de dizer, mas pareciam verdadeiras. A sobrancelha de Zhou franziu-se ligeiramente, e ele manteve o meu olhar, perscrutador.
"Desligada?", ele repetiu, com preocupação em seu tom. "Como?"
Abri a boca para explicar, mas as palavras não saíram. Como poderia descrever um sentimento que não era tangível, que não era físico, mas que me atormentava todos os dias? Em vez disso, disse simplesmente: "Perdi algo".
Zhou não insistiu em mais nada. Limitou-se a acenar com a cabeça, com a mão a apertar a minha suavemente, como se quisesse dizer que compreendia, mesmo que não tivesse uma ideia completa. Ele sempre soube quando insistir e quando apenas estar presente, uma força silenciosa que eu sempre admirei nele. Mas desta vez, eu precisava de mais do que admiração. Precisava de encontrar essa força em mim própria.
Ficámos ali em silêncio por um momento, com a chuva como pano de fundo constante, e senti uma estranha sensação de calma apoderar-se de mim. Era como o silêncio entre as respirações, uma pausa em que eu podia pensar claramente pela primeira vez em semanas. E nessa pausa, houve um estalido.
Não se tratava apenas de mim ou de Zhou. Era sobre nós. Sobre o que significávamos um para o outro e como, algures ao longo do caminho, deixámos que o barulho do mundo abafasse a ligação que outrora tínhamos. Mas apercebi-me naquele momento que essa ligação não estava perdida. Estava apenas enterrada sob camadas de dúvidas, exaustão e o peso das nossas lutas individuais.
"Quero reencontrá-la", sussurrei, quase sem que Zhou conseguisse ouvir. Mas ele ouviu.
Aproximou-se mais, com a mão a tocar-me a face, o polegar a roçar-me a pele daquela forma que me fazia sempre sentir segura. "Nós vamos", ele disse, sua voz firme. "Vamos encontrá-lo juntos."
Fechei os olhos, inclinando-me para o seu toque, e algo dentro de mim se agitou. Não foi uma explosão repentina de clareza ou um relâmpago de revelação. Foi mais como uma pequena brasa, um lampejo de calor que tinha estado adormecido. Tinha-me esquecido dela, tinha-a negligenciado, mas nunca se tinha apagado. Só precisava de um pouco de ar, um pouco de espaço para crescer novamente.
Enquanto estava ali com o Zhou, com a sua presença como uma força estabilizadora, apercebi-me que a centelha que me faltava não era algo que tivesse perdido. Era algo que eu tinha enterrado, escondido sob o peso das expectativas, do medo e da rotina diária. Mas ela ainda estava lá. E não estava apenas dentro de mim; estava dentro de nós.
O amor tinha uma forma engraçada de fazer isso, de ser simultaneamente simples e complexo, de ser a coisa que mantinha tudo unido mesmo quando parecia que tudo se estava a desmoronar. Não se tratava de grandes gestos ou de momentos perfeitos. Tratava-se da compreensão silenciosa, da ligação não dita que permanecia mesmo no silêncio. Tratava-se de aparecer, não apenas um para o outro, mas para nós.
Abri os olhos e voltei a encontrar o olhar de Zhou. Havia algo diferente agora, algo mais profundo. Não precisávamos de dizer mais nada. Ambos sabíamos que, qualquer que fosse a faísca que se tivesse apagado entre nós, tínhamos o poder de a reacender. Juntos.
A chuva lá fora tinha abrandado para um chuvisco suave e, no rescaldo silencioso da tempestade, senti algo a mudar. Não apenas na sala, mas dentro de mim. A dormência não tinha desaparecido completamente, mas estava a desaparecer, substituída por uma centelha de esperança. E quando Zhou me abraçou, puxando-me para perto de si, eu sabia que encontraríamos o caminho de volta. Um para o outro. Para nós próprios. Porque o amor, o verdadeiro amor, tem sempre a ver com ligação - e essa ligação era a nossa faísca.
Por enquanto, isso era suficiente.
Olá pessoal!Espero que tenham gostado deste imagine.Se tiverem algum pedido, não hesitem em fazê-lo que irei com todo o gosto, amor, carinho e dedicação escreve-lo.
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F1 Imagines
Fanfiction*F1 Imagines* é um livro que mergulha na imaginação criativa dos fãs da Fórmula 1, oferecendo uma experiência única e imersiva. Cada página captura momentos vibrantes e intensos, permitindo aos leitores vivenciar histórias fictícias com seus pilotos...