Hanemiya Kazutora encarou-se no espelho, ele não fazia isso há dois anos: se encarar.
Estava magro, com os hematomas do pescoço e do rosto já descoloridos, os cabelos bicolores presos em um rabo de cavalo e as roupas que usava eram emprestadas. Soltou um longo suspiro enquanto colocava na orelha o brinco de sino que havia ganho de Keisuke quando começaram a namorar três anos atrás, no dia seguinte era Halloween, no dia seguinte eles completariam três anos se ainda estivessem juntos.
– Senpai? - A voz de Takemichi era mansa e o fez se virar para encarar o amigo no corredor.
– E-eu só estava usando uma última vez - Kazutora se explicou, a mão ainda no brinco - Passei tanto tempo com ele que é estranho não ter um barulho na orelha.
– Podemos encontrar algo...
– Sim... eu vou sair - O Hanemiya suspirou colocando as mãos nos bolsos do moletom - Vou me livrar dessa coisa e de tudo que me lembra Keisuke.
– Quer companhia?
– Valeu, mas isso é algo que preciso fazer sozinho.
O mais novo assentiu com um sorriso solidário.
– Não demore muito, vou preparar algo para a gente jantar.
– Claro, eu não vou longe.
Kazutora passou por Takemichi ainda mantendo um sorriso no rosto, a conversa de mais cedo ainda presa em sua mente, esperava muitos gritos quando contasse sobre aquele plano ser de Keisuke e Hanma, mas Draken e Mitsuya apenas ouviram em silencio e então se encararam antes de agradecer a informação.
Não o acusaram de mentir, não gritaram consigo, apenas aceitaram essa verdade e decidiram que tinham de fazer algo a respeito, por algum motivo isso foi o suficiente para deixá-lo sensível pelo resto do dia e ele agradeceu por Takemichi permitir que se isolasse no quarto o dia inteiro.
Também foi quando tomou a decisão: não iria assistir a luta. Não queria mais nada com Valhalla ou com ToMan, buscaria outra forma de lidar com Mikey e sua arrogância sem fim, mas sem uma gangue, estava farto de tanta violência em sua vida.
Havia vivido desde cedo levando socos e chutes da vida, primeiro de seus pais, então de pessoas na rua que só queriam o machucar, era tão natural que quando Keisuke perdia o controle e depois pedia desculpas Kazutora só aceitava, até mesmo no reformatório e depois na escola ele era agredido então por que em outros lugares seria diferente?
Bem... com Takemichi foi diferente e se com Takemichi foi diferente o Hanemiya não permitiria que nunca mais fosse igual, ele iria mudar tudo isso, não mais aceitaria surras de ninguém!
Saiu de casa encontrando com o ar frio do outono, um sorriso em seu rosto, sempre adorou o frio! Balançou o próprio corpo e então seguiu seu caminho, sua intenção era parar perto de um campinho e enterrar o brinco e todos os presentes que Keisuke já havia o dado e estavam dentro dessa mochila, porém não foi longe, ao virar a esquina alguém o puxou para um beco.
– Filho da puta, quer morrer?! - O Hanemiya se virou com tudo parando pouco antes de acertar o soco, seu coração acelerando - K-Keisuke...
– Finalmente te achei - O Baji sorriu tocando a bochecha do menor - Sentir sua falta, Tora.
– O-o que faz aqui?! Me solta!
– Eu vim pedir desculpas - Keisuke suspirou o soltando e colocando a mão no bolso - Eu acho que me deixei levar por todo o plano de Tetta, não era minha intenção te chatear, Tora.
– Vocês iam me acusar de assassinato! O seu assassinato!
– Foi uma ideia deles, ok?! Eu estava tentando os convencer a buscar outro bode expiatório! - O moreno garantiu - Tora, por favor, não podemos terminar por tão pouco, nós temos uma história juntos!
– Histórias acabam, Keisuke, e a nossa acabou - Kazutora tentou se soltar novamente.
– Não, a nossa só acaba quando eu decido - Keisuke rosnou puxando o menor para mais perto.
– Estou te avisando para me soltar!
Os olhos dourados de Keisuke ficaram vermelhos enquanto encarava as íris ouro do humano sussurrando em uma língua desconhecida.
– Você está preso a mim, sua alma me pertence e você irá me seguir e obedecer até o fim dos seus dias.
Kazutora balançou a cabeça, de repente sua mente parecia confusa enquanto piscava, o que estava acontecendo?
O Príncipe Demônio se aproximou com um sorriso puxando Kazutora para um beijo. Isso pareceu acordar o humano que arregalou os olhos e o empurrou para longe.
– O-o que diabos pensa que está fazendo?! Não me toque!
– Cansei de ser bonzinho! - Keisuke rosnou antes de puxar Kazutora, sua força causando dor no mais novo que grunhiu enquanto era arrastado mais para o fundo.
– Keisuke, eu mandei me soltar!
– Cala a boca! - A voz de Keisuke soou tão animalesca que emudeceu o Hanemiya de susto enquanto abria um portal arrastando Kazutora por ele - Se não quis por bem, será por mal, mas você não vai atrapalhar meus planos!
O portal para o inferno fechou fazendo Kazutora gritar assustado ao se ver em outro lugar além do beco, porém não deu tempo de se situar já que continuou sendo arrastado.
– Talvez se eu terminar de quebrar essa sua mente volte a me obedecer, se não é melhor me livrar do que não serve de vez!
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Takemichi encarou o relógio na parede e estalou a língua decidindo procurar por Kazutora, já passavam das onze e o amigo não havia voltado, onde estaria?!
Fechou o zíper do casaco e trancou a porta de casa antes de começar o caminho, precisava encontrá-lo logo, estava muito frio do lado de fora!
Olhou em volta preocupado, decidindo se mandava uma mensagem para Draken pedindo ajuda ou não quando um brilho no chão chamou sua atenção fazendo-o se aproximar, os olhos arregalados.
Era um pequeno amuleto roxo, porém não pedia proteção a nenhuma divindade e sim amarrava quem tenha comprado a um demônio, estremeceu com isso perguntando-se quem seria estúpido o bastante para comprar quando abaixou decidindo pegar, mas antes que tocasse o amuleto algo o assustou.
– Hey, Takemichy! - O chamado animado do vice capitão da primeira divisão o fez levantar para encarar Matsuno Chifuyu - O que faz por aí nesse frio?
– Matsuno, poderia dizer o mesmo de você - O Hanagaki sorriu - Eu estava procurando um amigo, em todo caso.
– Que coincidência! Eu também! - Chifuyu pareceu notar o amuleto e piscou - Oh! Isso é de Baji-san, é melhor eu guardar, ele vai ficar chateado se perder!
– De Baji? - Takemichi estreitou os olhos, então Baji estava por perto? Havia vindo atrás de Kazutora?
– Ele me disse uma vez que foi de quando fundaram ToMan, todos os fundadores reuniram as moedas que tinham consigo e pediram para que Baji-san comprasse um único amuleto, para dar sorte.
– Entendo... Bem, é melhor eu ir ver se encontro esse meu amigo, não vá para casa tarde, Matsuno!
– Na verdade, se Baji-san passou por aqui então não irei o encontrar, que tal eu te ajudar em sua busca? Andar por aí sozinho pode ser perigoso, ainda mais às vésperas de uma briga.
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Quando Demônios Vão à Terra
FanfictionExiste sempre uma razão para as coisas que dão errado, a maioria das pessoas culpam entidades, mas, acredite se quiser, a maioria dos demônios não vão à Terra para causar mal e sim para se divertir com o mal que a própria humanidade causa