Akashi Takeomi tocou a campainha antes de olhar em volta, o moletom com o capuz levantado escondendo seu rosto da rua mal iluminada. A porta abriu segundos depois revelando Sano Shinichiro parecendo assustado com algo, o Sano suspirou ao reconhecer o amigo convidando-o para entrar.
Os dois seguiram caminho passando pela sala e pelo corredor antes de saírem para o jardim, de um lado havia o dojo, porém eles seguiram para o fundo onde havia um pequeno barraco que Shinichiro havia transformado em sua casa quando eles ainda eram adolescentes.
– Então, sobre o que queria falar? - O Akashi se jogou contra a cama do amigo observando-o trancar a porta antes de se aproximar com um suspiro - Xi! Você parece tenso, o que houve?
– Take... lembra quando éramos crianças e eu simplesmente sabia quando algo ia acontecer? - Shinichiro sentou na cama de frente para o amigo, ele realmente parecia transtornado
O demônio ergueu uma sobrancelha sem saber o que esperar, a mente de Shinichiro estava tão perturbada que ele sequer conseguia ler direito
– Lembro bem, era sempre engraçado quando você acertava e todo mundo ficava assustado - O Akashi deu de ombros por fim fazendo Shinichiro suspirar
– Mikey é igual - O Sano contou de uma vez - Acho que deve ser uma condição genética, talvez o vovô saiba mais sobre isso, mas não sei se devo perguntar...
– Tempo! - Takeomi se sentou devidamente encarando o melhor amigo - Que diabos você está dizendo?! Como assim Mikey é igual?!
– Eu o encontrei mais cedo no dojo, ele parecia bem perturbado e acabou me contando. Take, ele tem visões, são ainda mais complexas que as minhas, mas ele enxerga claramente futuros possíveis e sempre que tenta evitá-los um pior é mostrado.
Takeomi levantou não aguentando mais ficar sentado, o príncipe do inferno começou a andar de um lado para o outro confuso. Como isso era possível?! Era altamente improvável que Manjiro fosse uma pureza, não, improvável não, era impossível que Manjiro fosse uma pureza.
Já era um evento raro duas purezas coexistirem como Sano Shinichiro e Hanagaki Takemichi, mas três?! Não... era impossível! Manjiro não era uma alma pura então não tinha como essa habilidade vir das purezas, mas como ele poderia ter tal habilidade?
Alguns demônios poderosos tinham poderes, ele e os irmãos eram prova disso, anjos de alto patamar também tinham habilidades únicas, Lúcifer era o exemplo do que alguém que já fez parte das duas classes poderia ser extremamente poderoso, mas um humano comum? Simplesmente impossível!
O que queria dizer que Manjiro não era um humano comum, porém como os anjos deixaram isso passar? Essa anomalia na ordem "natural" das coisas? E como os demônios não o perceberam?
Puta merda! Ele estava na vida dos irmãos Sano desde que Shinichiro tinha quatro anos, como nunca notou nada?!
Sentou-se respirando fundo antes de encarar a pureza em sua frente contendo um riso de descrença. Purezas, almas que estavam em sua primeira vida, tão raras que possuíam um poder imensurável, não tendo sido corrompidas pela maldade humana, era algo tão raro que era a primeira vez desde que a humanidade existia que duas de uma vez estavam vivas, o poder deles era tão grande que Takeomi salivava só em pensar em possuir suas almas.
Era realmente irônico que, apesar de tantos anos, o Akashi nem havia chegado perto de devorar a alma de Sano Shinichiro, mesmo quando teve oportunidades para tal, porém as coisas estavam ficando complicadas e em breve ele não teria escolhas sobre isso e, para proteger os irmãos, ele não se importaria de matar e devorar, nunca se importou.
– Take? - A voz de Shinichiro o trouxe de volta e o príncipe do inferno balançou a cabeça antes de suspirar - No que tá pensando?
– N-nada, eu só... - O Akashi estalou a língua - Imagina todo o terror que Manjiro viveu, afinal você tinha a mim para desabafar e acreditar no que dizia, ele não teve ninguém.
– Eu sei, por isso chamei você, Manjiro precisa de nosso apoio.
Takeomi assentiu.
– Qual foi a última visão que ele teve?
– Ele viu Draken no corredor da morte, Hanagaki cercado de fogo e sangrando e um túmulo com o nome do Baji.
O mais velho assentiu, era o futuro que Baji disse ter visto nos olhos de Hanagaki na noite em que ele socou Kisaki, o futuro mais provável de acontecer no momento em que estavam, pelo visto o Hanagaki não era o único tentando evitar as coisas, Manjiro também queria.
Ele teria de mandar Sanzu ficar de olho no Sano do meio para que não estragasse tudo, afinal se o Hanagaki recebesse ajuda seria mais difícil para eles conseguir o que queriam com as duas purezas.
– Vou pedir para Sanzu ajudar, mesmo não contando tudo a ele - Decidiu por fim.
– E Sanzu te escutaria? - O Sano ergueu uma sobrancelha fazendo o Akashi bufar.
– Ele faria isso pelo bem estar de Mikey, não se preocupe.
O humano assentiu.
– E como está Senju?
– Ainda na mesma, porém os médicos estão otimistas, acreditam que ela acordará logo.
– Isso é uma ótima notícia.
Os dois amigos começaram a falar de coisas mais triviais, porém a mente do Akashi ainda estava na habilidade recém descoberta de Mikey, algo em si formigando, como se ele soubesse de onde isso vinha, mas não conseguisse se lembrar no momento.
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Draken tirou o próprio cardigã colocando sobre o ombro do melhor amigo, Mikey estiveram o dia todo distraído, parecendo em um limbo, se isso era só pela possibilidade que em dois meses brigariam com um antigo amigo ou por algo mais o Ryuguji só poderia supor.
– Ken-chin - O Sano chamou baixo enquanto se aconchegava contra a roupa do amigo - O que você acha? Essa guerra é evitável?
– Pode ser, eu não vejo um real motivo para brigarmos - O maior confessou - Kazutora está puto porque ficou preso por tentativa de homicídio, mas o que isso tem haver conosco? Shinichiro sequer quis depôr contra ele...
– Ainda sim ele acha que é nossa culpa ter ficado tanto tempo - Mikey encarou o céu escuro, as estrelas aparecendo lentamente - Acha que... acha que alguém disse a ele? Que era minha culpa?
Ken parou encarando o melhor amigo antes de suspirar.
– É uma possibilidade.
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Quando Demônios Vão à Terra
Fiksi PenggemarExiste sempre uma razão para as coisas que dão errado, a maioria das pessoas culpam entidades, mas, acredite se quiser, a maioria dos demônios não vão à Terra para causar mal e sim para se divertir com o mal que a própria humanidade causa