Boa leitura. 📚
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Narrador pov
O ar frio da noite queimava a pele de S/n enquanto ela saía, respirando com dificuldade. Seu coração ainda batia acelerado pela tensão no apartamento de Margot, mas agora que estava sozinha, outra tempestade se formava dentro dela - uma que tinha Kendall no centro.
S/n pegou o telefone, hesitando por um momento antes de pressionar o nome de Kendall. O telefone tocou duas vezes antes de a voz dela surgir, tensa com emoção. "S/n, onde você está?"
S/n apertou o telefone com mais força, tentando manter a voz firme. "Eu te disse, mãe. Eu precisava de um tempo para pensar. Eu não podia ficar lá."
O suspiro de Kendall ecoou pelo telefone, frustrado e cheio de dor. "Eu sei, tá? Eu sei. Mas fugir não vai consertar nada. Você não pode simplesmente ir embora sempre que as coisas ficam difíceis."
A frustração na voz de Kendall acendeu uma faísca de raiva em S/n. "Eu não *simplesmente* fui embora.-" Ela parou, a voz falhando enquanto as memórias do tapa e dos gritos voltavam com força. "Você me machucou."
Houve um silêncio do outro lado da linha, e por um momento, S/n pensou que Kendall tivesse desligado. Mas então ouviu uma respiração suave, seguida por um tom mais vulnerável. "Eu sei. Eu sinto muito. Mas, S/n, você não pode me afastar. Eu sou sua mãe. Precisamos resolver isso juntas."
A mão de S/n relaxou um pouco no telefone, mas a raiva ainda borbulhava sob a superfície. "Eu só... eu não consigo lidar com você agora. Toda vez que estou perto de você, sinto que estou sufocando. Você sempre me diz o que fazer, como sentir-"
"Isso não é justo," Kendall interrompeu, a voz mais afiada agora. "Eu estou tentando, tá? Estou tentando te entender. Mas é você quem se fecha toda vez que eu me aproximo."
As palavras de Kendall atingiram S/n como um tapa, a culpa rastejando em seu peito. Talvez Kendall estivesse certa. Talvez ela estivesse se fechando, fugindo sempre que as coisas ficavam intensas demais. Mas como ela poderia ficar quando a pessoa que mais amava era a que mais a fazia sofrer?
"Você não entende, mãe," S/n disse, a voz se quebrando. "Eu sinto que estou me afogando, e ao invés de me ajudar, você me empurra ainda mais para baixo."
Kendall ficou em silêncio de novo, e por um momento, S/n pensou que finalmente tivesse conseguido alcançar a mãe. Mas quando Kendall falou novamente, sua voz era mais suave, mais cautelosa. "Então me deixa te ajudar. Eu não quero que você se sinta assim, S/n. Eu só quero minha filha de volta."
S/n fechou os olhos, o peso da noite pressionando sobre ela. Ela não tinha mais energia para brigar, e o som da voz de Kendall, crua e sincera, mexia com algo profundo dentro dela. Talvez ela realmente precisasse de sua mãe - talvez fugir não fosse a resposta.
"Eu vou voltar pra casa," S/n sussurrou, a voz quase inaudível.
Houve uma pausa, seguida por um suspiro suave de alívio vindo de Kendall. "Tá bom. A gente conversa quando você chegar. Nada de mais fugas, tá?"
"Tá," S/n concordou, embora uma parte dela ainda se sentisse incerta.
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S/n - Chegando em Casa
S/n entrou na casa com passos leves, sentindo-se esgotada tanto física quanto emocionalmente. O corredor parecia mais longo do que o normal, e cada passo a aproximava de uma conversa que ela temia, mas sabia que era inevitável.
Kendall estava sentada na sala de estar, os olhos fixos na entrada como se tivesse passado a noite inteira esperando. Quando S/n entrou, os olhos de Kendall se suavizaram, mas o silêncio entre elas era denso, carregado de palavras não ditas.
S/n sentou-se no sofá à frente de Kendall, sem dizer nada. Ela não tinha certeza de como começar. O cansaço e a culpa pesavam em seus ombros, e ela mal conseguia encontrar as palavras.
"Você sabe que eu te amo, né?" Kendall quebrou o silêncio, sua voz mais suave do que S/n esperava. "Eu só... eu não sei como lidar com isso. Com você fugindo, me empurrando para longe."
S/n olhou para as próprias mãos, incapaz de encarar os olhos da mãe. "Eu também te amo, mãe. Mas às vezes... às vezes parece que você não me entende. Que você quer me controlar."
Kendall suspirou, inclinando-se para frente. "Eu não estou tentando te controlar. Eu só quero o melhor pra você. Mas, talvez, eu tenha sido dura demais. Eu sei que errei, e sinto muito por te machucar."
As palavras de Kendall, cheias de sinceridade, fizeram S/n levantar os olhos. Havia dor e arrependimento no rosto da mãe, uma vulnerabilidade que S/n não via com frequência. Aquilo a desarmou um pouco.
"Eu me sinto perdida," S/n admitiu, sua voz trêmula. "Eu não sei o que quero, nem para onde estou indo. E parece que, toda vez que tento entender, acabo pior."
Kendall se aproximou e segurou as mãos de S/n, os dedos quentes contra a pele fria da filha. "Você não precisa ter todas as respostas agora. Só quero que saiba que estou aqui. Eu sou sua mãe, e vou estar com você, mesmo que não concordemos com tudo."
S/n sentiu as lágrimas se formando em seus olhos, mas segurou-as. "Eu só preciso de espaço, mãe. Pra respirar, pra entender quem eu sou."
Kendall assentiu lentamente. "Eu entendo. Mas não quero que você me exclua. Eu posso te dar espaço, mas não vou desistir de você."
S/n balançou a cabeça, concordando. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu que havia uma ponte se formando entre ela e sua mãe, algo que poderia realmente ajudá-las a superar aquela fase difícil. Ela não tinha todas as respostas, mas pelo menos, agora, sabia que não precisava enfrentá-las sozinha.
"Obrigada, mãe," ela murmurou, a voz suave.
Kendall sorriu com ternura. "Sempre."
As duas ficaram em silêncio por um momento, mas era um silêncio confortável, repleto de compreensão e aceitação. Embora o caminho à frente fosse complicado, ambas sabiam que podiam seguir juntas, mesmo que com passos cuidadosos.
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