JANEIRO NA CAPITAL

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Acaba mais uma história.
Mais uma vida acaba hoje.
A criança que agora nasce, verá esse novo começo cruel,
Que triste esse novo começo.
Até quando isso rodará nossas almas?

No quarto do hotel escuto, um menino de bicicleta disparada, sair no grito de alerta.
— Eles estão vindo! Não saiam de casa!
Ele é inutil para a revolução, logo um tiro acerta as rodas, logo o corpo, logo não restará mais nada dele, apenas o alerta de sua rouca voz ao querer proteger a cidade, desse caos que rodaria por tempos.

Minha filha amada, onde estás?
Na escola não estás,
Na rua sumiu
Onde estás?
Oh meu Deus, tomai conta dela.

As avenidas são campos de guerra, numa esplanada planejada, rodeada por predios modernos, fazem vista de longe, mas com corações apertados. A qualquer momento, um coquetel molotov atingirá sua casa, queimará vivo os membros da família. O que resta a fazer? Apenas dizer o último eu te amo ao seu amor.

Morena, mulata do Carnaval.
Não é hora de festa,
Porque está ai?
Venha rápido
Inútil meu clamor,
Caida no meio fio da rua.
O cavalo passa pelos seus braços, seu peito que amamenta o filho,
Agora é amostra da vulgaridade dessa morte.
Remorso nenhum dos batalhões.
Nua agora,
Será velada?

Ouvimos as correrias, os movimentos tentam lutar, mas inutilmente é seu glorioso sentimento de coragem. O fuzil é armado ao seu peito, os sangues banham as ruas, marcam as paredes, em todo cenário se ver as trevas, uma completa escuridão

O anjo da morte passa pela rua,
Olha a filha do trabalhador no chão,
Olha o menino do jornal com a cabeça no chão,
Olha a mulata nua, com semblante de paz,
Mas com pisões de cavalos.
O anjo da morte olha a cidade,
Agora em silêncio.
Ele, o anjo da morte ri,
Pois a vida não é nada,
Apenas a engrenagem

As maquinas de escrever anunciam
(Com armas apontadas na cabeça),

"A Liberdade começou, viva nosso anjo!"

Fragmentos de Memória e MelodiaOnde histórias criam vida. Descubra agora