DIAS ÚTEIS

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Os dias estão em silêncio, um silêncio que não sabemos se é o medo vindo, ou a alegria em uma surpresa ou o derradeiro fim de algo que aguarda.
  Os amigos sumiram, fizeram em pó os vestígios de suas presenças, não restou nenhum deles, e quando precisei de sua ajuda para afastar algum vestígio de solidão, eles se fizeram ausentes para com minha dor. Quando levantei-me da cama, nada ouvir, nenhuma coisa mágica que faria os sertões agradeceram o contra seca. O que ouvi foi o silêncio agonizante do ranger do chão. A gaveta fez seu trabalho, mostrou que há de ser apenas um dia sozinho, calado e mudo nas próximas horas até o leito enfim, ser verdadeiro fato do dia.
  O café que errei, agora é amargo, nem o açúcar que lhe é destinado, é capaz de reverter a solidão no canto da mesa, onde encaro o quadro da cidadezinha antiga e penso no verso último de Drummond com Itabira — Que dó.
  A parede parece ser apenas um obstáculo, mas sem a sua face que desejo, não há opção para ouvir as fendas do que encaro. Os papeis, as vezes perde a graça, não me toca no peito, a vontade de trabalhar, pois cadê os que em momentos sorriam, e hoje há o mistério de que não sei, o sorriso agora é memória, pois difícil é encarar. Minha ilusão é de que em breve, alguma coisa aconteça no meu coração, as preces podem ser ouvidas, amarguras inevitáveis são parasitas que infestam nosso ser. O sentimento egoísta, consome a nossa mente para não se importar com o outro. Mas pense, o que o outro está pensando? Se não queres, não insista, o afastamento é voluntário, chorar as vezes é bom, mas dói em saber o porque você foi rejeitado a quem você nunca teve injúria. Saber aceitar a solidão, é algo dos fortes, mesmo não sendo bom, pois ainda que me resta todos os luxos do mundo, eu quero está com você, andar com você, ser feliz nos breves momentos em que estamos juntos, e crer na graça, graça essa que nos é dada pelo simples ato do perdão.
  Não me caberia essa dor de ignorar o outro, mesmo que você tenha morrido, e hoje está aqui com uma chance que a vida não responde em linhas retas o objetivo, não fazeis dela uma brincadeira, abraçar também é afeto, mesmo não sendo verdadeiro, pois na continuidade repetitiva de demonstrações nessa convivência, aprendemos na ironia da vida, sentir esse tal amor, que pode fazer os dias em que o café estava amargo, em doce para o paladar, a parede recheada de memória onde rimos, onde nós vivemos intensamente essas rimas. Cada prosa vale a pena, digo por experiência, tenha o pingo de empatia, não podemos transportar a dor para o próximo, devemos ser infectados pela vida em que aqueles que nos querem bem, que a nossa dor seja morta, assim fazendo o dia mais luz, com os desenhos que a criança interior de cada um, fez pensando, em tranquila, agitada e cantada melodia das manhãs, que já não serão mais frias, serão apenas melodia suave e doce, com todos os proveitos que cada detalhe tem na janela para o céu afora.

Fragmentos de Memória e MelodiaOnde histórias criam vida. Descubra agora