Capítulo 11

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Kilayra de fato não teve a permissão para sair do quarto o resto do dia. Alimentou-se da forma que conseguiu, nas idas e vindas pelos corredores escondidos do palácio. Passada a noite, tomou seu café da manhã na própria cozinha, escondida de todos, menos de Moade. Treinou como usualmente fazia com seu mestre e amigo, Jimmy. Era um homem alto e forte. A pele era morena e os olhos escuros. Possuía cicatrizes no rosto e costas. A jovem nunca falou sobre esse assunto, tinha receio de conhecer a verdade. Alguns diziam que ele descendia dos primeiros povos do Daran. Às vezes ela se distraia imaginando como havia sido capturado, ou mesmo porque nunca havia sequer mencionado o seu pedido por liberdade. Jimmy era um metista, a graduação máxima nas artes das lutas, e um direito que era reservado apenas aos homens. Até onde sabia, ele não havia estudado na Escola das Armas. Não tinha certeza se ele usou o direito do Desafio do Forasteiro para lograr o título. Os guerreiros eram assim nomeados por um conselho, cujo maior poder era do próprio Rei Lucas. Os outros membros também eram da realeza e nobres de várias terras vizinhas. Reuniam-se uma vez por ano, formando o conclave, que precedia as cerimônias de nomeação dos jovens que se graduariam na Escola das Armas de Montherran. Ou em ocasiões em que se escolhiam os chefes da guarda de alguma localidade. A princesa não estava longe de ser a primeira mulher na história do Daran a obter essa classificação, mesmo sem possuir o direito de frequentar as aulas na instituição, ela sabia que tinha muitas chances. Só precisava de uma oportunidade. A guarda dos reinos que integravam as Terras Aliadas era treinada pelos melhores e os alunos eram escolhidos desde bem jovens e saiam de lá adultos. Ser um dos escolhidos era uma grande honra. Tornavam-se exímios guerreiros, e alguns deles alcançavam o nível de metista.

A princesa possuía muitos segredos e vários meios de conseguir o que queria. Moade e Jimmy eram seus verdadeiros amigos no palácio. Guardavam algumas de suas maiores confidências. A maioria das pessoas da corte cobiçava descobrir algum deslize da garota para difamá-la. Contudo não conseguiam nada além de tolos comentários. Um de seus atos mais sigilosos eram os treinos, realizados em sua câmara secreta, que foi devidamente transformada por Jimmy em um espaço particular de luta. Onde ela treinava lutas marciais, com armas e aparatos, bem como estratégias de guerra. A princesa havia ensinado um caminho para que ele chegasse até ali. Com a devida cautela para não comprometer os outros corredores secretos que se entroncavam no local, manteve seu mapa e sabedoria em sigilo. O ambiente tinha apenas duas entradas visíveis: uma por um cômodo há muito não utilizada do palácio e outra pelos aposentos da princesa. As demais entradas eram todas camufladas e de difícil localização. A menos que o curioso soubesse exatamente o que procurar, não as encontraria. Desconheciam quem foi o inventor de todas aquelas escavações abaixo do palácio, mas ela era bastante grata por isso. Os corredores secretos e em labirinto eram um de seus maiores segredos.

O dia se aproximava da metade quando foi comunicado à princesa sua autorização para sair e que se dirigisse à sala de refeições.

— Não foi agradável tê-la deixado de castigo com tantas providências a serem tomadas para o seu aniversário. Contudo, não me deixou com muita opção! Ofendeu-me com seu comportamento indesejável.

– Sobre este assunto, papai... — hesitou, mas continuou decidida — perante todos, nessa corte que eu tanto amo — uma leve ironia na voz —, gostaria de declarar que o tempo que passei sozinha mostrou-me o quanto fui desagradável com o senhor — já não ironizava quando falava do seu pai. — Peço minhas sinceras desculpas. Estou arrependida de ter-lhe dirigido a palavra de forma tão ineficaz e impensada. Espero que me perdoe por essa atitude. Afinal, apesar de não concordar com o que pensa, amo muito o senhor, meu pai e meu rei — Sentou-se.

Podia adivinhar os pensamentos de todos na corte, que pareciam aves do deserto famintas por um vacilo. Ela não conseguia pensar naquelas pessoas de forma diferente. Pareciam estar ali à espera de uma morte para aproveitarem-se das carniças. O rei balançou a cabeça afirmativamente num largo sorriso. Sentia-se satisfeito por tê-la deixado de castigo, questionava-se se havia sido a correção que lhe aplicara ou o enorme amor e respeito que, tinha certeza, a moça sentia por ele, que haviam-na feito mudar de ideia.

— Fico feliz ao ver sua atitude, Kilayra. Queria eu poder acreditar que tivesse algo a ver com o castigo que lhe apliquei. Mas não creio que essa seja a verdade. O que me resta, é ficar ainda mais certo do grande amor que compartilhamos.

— Pai, mas voltando ao assunto de ontem, agora com a sobriedade que precisamos ao falar disso, peço mais um tempo para tomar uma decisão acertada.

— Aguardarei o quanto me for possível. Mas é certo que deve apressar-se, há urgência nesse casamento.

— Apesar de não concordar sobre a pressa envolvida no assunto, farei a escolha com a maior rapidez que isso pode acontecer.

— Sei que fará, filha.

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A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora