Capítulo 41

201 41 5
                                    



Já era tarde quando acordaram. Não perceberam nenhuma mudança externa, Kilayra colocou uma capa e Ritshy vestiu as roupas da princesa. Apenas ao saírem nas ruas perceberam que havia funcionado. Magda ficou perplexa pelo resultado. Eram completamente idênticas. Ritshy passou a ser Kilayra. E assim efetuou-se a troca. Cuidaram a seguir, de executar o plano. A princesa, agora representada pela figura enfeitiçada de Ritshy, havia se jogado da escada e rolado alguns degraus, simulando uma providencial perda de memória. Todo o reino estava triste com sua condição. Ritshy tentava se convencer da nova personalidade. Perdia horas a imaginar o que a outra estava fazendo. A Rainha Sara não saía de seu quarto. Às vezes tinha vontade de dizer que não se preocupasse, pois ela não era a sua filha, e que a Kilayra de verdade não estava no palácio. Que agora era outra pessoa, mas que estava tudo bem. Pensando melhor, era melhor que acreditasse que sua filha estivesse bem à sua frente, sã e salva do que andando por aí sozinha e desamparada. A ideia de contar a verdade à rainha era péssima. Na melhor das hipóteses, deixaria a rainha muito mais preocupada com seu estado mental. Tinha que se acostumar em atender pelo novo nome.

— Quer ouvir uma história, filha?

— Sim, rainh... Sim, mamãe — deu-se por conta que nunca havia chamado ninguém por esse nome.

A rainha devia ser uma ótima figura materna. Gostaria de ter conhecido a sua. Porém, ter sido criada pelos pais de Ryan foi algo especial. Os tios, como os chamava na meninice, eram pessoas muito corajosas, amorosas e cheias de vitalidade. Uma pena que tenham morrido tão jovens ainda.

— Em um reino não muito perto daqui, em uma época onde...

E mais uma vez a Rainha contou uma linda história de uma princesa e um charmoso príncipe. Enquanto ouvia imaginou-se junto a Ryan. Como queria estar com ele agora. Precisava arranjar uma maneira de encontrá-lo.

Kilayra, sem o sobrenome real a pesar sobre os ombros, agora realmente sentia-se outra pessoa, muito embora sua aparência continuava a mesma. A vida nunca foi tão maravilhosa! Era livre! Não havia jantares, almoços, cafés da manhã e chás. Não olhava a cara enfadonha de toda aquela gente diariamente. Sem todas as futilidades. Sem os grandes salões, as grandes festas, tudo que parecia tão grande e desnecessário. Enquanto caminhava, aproximava-se das passagens secretas do palácio. Precisava repassar algumas coisas e detalhes com sua amiga e sósia. Mas precisava tomar cuidado em não andar sem o capuz. Pois ela ainda permanecia a mesma. Sua aparência não ter mudado mostrou-se muito útil para o caso de algo dar errado e para que pudesse voltar, se necessário, para auxiliar a amiga. Apenas uma coisa a incomodava: a saudade de seu pai. Apesar de brigarem, ela o amava! Sabia se virar sozinha, só não sabia até quando poderia ficar sem dar um abraço naquela figura tão querida. Lembrou que não precisava manter-se longe dele. Pensou em ensinar as passagens secretas a amiga e assim trocar de vez em quando, novamente, a personalidade. Entretanto, percebeu que isso aumentaria a confusão na cabeça de sua sósia.

Os corredores escuros, tornaram-se ainda mais úteis depois de consumada a troca. Enquanto se aproximava do quarto, pisava levemente, um deslocamento fantasmagórico.

— Oi Kilayra! — disse ao entrar no quarto saindo da passagem que terminava dentro do ambiente. Ironizava o fato de Ritshy agora ser sua sósia, chamando-a de Kilayra. Mas devia admitir que tudo parecia-lhe bem estranho.

— Princesa? Como chegou aqui? Está maluca? Sua mãe tem ficado comigo o tempo todo. Quase que vocês se esbarram.

— Que droga! Esqueci disso, minha mãe e sua preocupação. Tenho que tomar mais cuidado, admito.

— Como entrou aqui?

— Ali tem uma passagem secreta, você só tem que empurrar a terceira pedra da terceira coluna pra dentro e se abrirá, por ela poderá sair do palácio, mas lembre-se de virar sempre para a direita. Assim que mamãe for dormir, desça que eu estarei te esperando.

— Está bem. Mas agora vá! A rainha deve voltar a qualquer momento.

— Até mais tarde — despediram-se.

Assim que a amiga entrou na passagem, a rainha entrava pela porta. Tinha prendido a respiração, pois as duas cenas aconteceram ao mesmo tempo. O abrir e o fechar de portas em um movimento inversamente sincronizado. A rainha apresentava sinais de cansaço evidentes. Decidiu ir para o seu quarto após a suposta filha garantir que estaria bem. Ritshy fechou a porta e foi encontrar Kilayra, ou o certo seria: Kilayra foi ao encontro de Kilayra.

— Quer estragar seu plano é?

— Me desculpe... Foi sem pensar.

— Está bem, princesa.

— Olha princesa, eu... — brincava Kilayra novamente.

— Kilayra, não me venha chamando de princesa... Tá bem?

— Tem que se acostumar com isso, precisa...

— Mas é difícil, vejo-me no espelho e a figura que encontro no espelho ainda é o meu rosto. Sei que o mundo não compartilha comigo essa mesma imagem. Tenho medo que o feitiço se quebre a qualquer momento... E eu seja descoberta.

— Faça um esforço para ficar tranquila. Tenha um pouco de fé. Agora não temos outra maneira.

— Está bem, mas o que queria?

— Queria conversar. Tenho me sentido muito só.

— Você só e eu com companhia demais. Não posso respirar sem que alguém queira saber se estou bem. Mamãe, digo, a rainha.

— Não se corrija! Agora é sua mãe mesmo! Precisa trabalhar essa ideia. Continue.

— Está bem. Ela tem ficado comigo o tempo todo.

— Tem visto os rapazes?

— Como? Estou sobre vigilância cerrada.

— Olha isso — disse Kilayra, a original, tirando um papel de sua capa.

— Que mapa é esse?

— É todo o trajeto dessa passagem secreta, poderá usá-la quando ouvir o sinal.

— Acha que eles me chamarão?

— Assim que eu assinar um bilhete dizendo que a única coisa da qual me lembro é de nossos ideais, tenho certeza que virão. Eles não sabem o quanto eu perdi a memória sobre a Rebelião.

— Acabo de lembrar uma coisa. Se por qualquer motivo eu precisar, não consigo escrever como você, minha letra é diferente.

— Então esqueça que sabe escrever, finja que não enxerga direito, sei lá!

— Está certo. Mas quando mandará o bilhete?

— Hoje à noite.

— A rainha pode acordar a qualquer momento e vir no seu quarto conferir seu sono... Digo no meu quarto... Meu sono... Nossa que difícil isso!

— Boa sorte amiga!

— Vou mesmo precisar! Boa sorte pra nós duas!

************************************************

Vejo vocês no próximo capítulo!Votinhos... Votinhos... Estrelinhas... comentáriosss... kkkk

Se estão mesmo gostando, indiquem, isso motiva tando essa que vos escreve! :) : P

Meu muito obrigada! E...

Aquele Abraço,

W.F.Endlich


A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora