A Senhora do Caos - A Viajante e o Dragão

Capítulo 21

Joice estava arrumada para a partida. Estaria na festa da Princesa Kilayra! Tantas vezes Mandayáh lhe contou as travessuras daquela princesinha atrevida e feiosa. A avó devia mesmo ter sido uma bruxa poderosa. Como saberia algo sobre o outro lado, o mundo posity, com os portais lacrados? O certo era que estava prestes a ir a um baile de princesa. Um baile de verdade! Faltava um pouco da hora do almoço. A princesa de Montherran havia marcado uma festa para o povo, e essa festa ocorreria no período da tarde. Seu tio achava importante que ela estivesse presente nos dois eventos. Apresentar-se para as pessoas do povo também era uma coisa que precisava ser feita. Jonas pegou as bagagens da moça e as trouxe com alguma dificuldade, mas se recusou a aceitar ajuda dela. Já no quarto de Erycles, Joice estava ansiosa para ver como funcionariam as rotas arcanas.

Eles estavam parados no quarto do velho bruxo, quando uma espécie de portal se abriu à sua frente. O bruxo balbuciava palavras mágicas de ordem ao portal e eles partiram em direção ao palácio do maior e mais poderoso reino, no que se referia a armas e seu exército. Montherran ficava aos pés de uma enorme montanha de fogo. Um importante porto conhecido naquele reino desde a época da Grande Guerra. Ele se tornou um importante aliado e foi crucial para o comércio entre as nações do Reino Pacificado. Em um passado distante e na mesma época em que a Vila de Kaosa foi devastada, uma série de erupções ocorreram naquela região. Seguiam nesta jornada Joice, Esther e Jonas. Bem como Erycles e a Rainha Helena, que era também irmã do Rei Lucas e tia de Kilayra. Montherran e tinham negócios desde a época da Rainha Elora e do pai do Rei Lucas, o Rei Nicolas III. Eles chegaram muito rápido, Joice não podia acreditar. Era muito mais rápido que metrô e até mesmo que aviões! Como nos filmes de ficção científica, tinham sido teletransportados para o outro lado do portal. Saíram no jardim do palácio, também conhecido como Campus. Era belíssimo! As rotas arcanas poderiam ser iniciadas em qualquer lugar onde o bruxo conjurador da magia estivesse, mas ela não seria capaz de adentrar os recintos pertencentes a outras pessoas. Ela, obrigatoriamente, acabaria em frente à entrada do local onde se desejava chegar. Essa era uma das regras. Após serem anunciados, sua entrada no palácio foi autorizada e o próprio Rei Lucas veio de encontro aos convidados.

— Minha querida irmã! Vejo que a ausência do mar lhe faz mal. Poderia pedir ao seu esposo que lhe permitisse uma estadia aqui para tratar-se com meus médicos. Uma temporada na praia a faria tão bem! Lembro-me que quando jovem, sua cura veio desse contato com o mar!

— Claro que sim, meu irmão! Lembro-me bem dessa ocasião. Mamãe e papai foram muito generosos em me levar para nosso palácio na praia. Isso mudou a minha vida! Mas não creio que seja uma boa hora Lucas, pois minha sobrinha, a princesa Joice, veio morar conosco. Ausentar-me seria algo inapropriado.

— Sua sobrinha? Então quer dizer que a profecia... — parou de súbito.

Falavam de Joice como se não estivesse ali. Ela achou tudo muito estranho, mas a figura daquele rei transmitia certa segurança, não se importou. Confiou nele assim que o viu.

— Seja bem-vinda, Princesa Joice Elora!

— Obrigada Rei Lucas! — Sentia que já o conhecia, após ter ouvido todas as histórias contadas por sua avó sobre as aventuras daquele rei bom e justo.

— A conversa seguia animada, mas Joice estava curiosa para conhecer a Princesa aniversariante. Uma princesa feiosa e desengonçada, como contava sua avó. Seria engraçado ver uma princesa desta maneira. As princesas de que ouviu falar em sua infância eram sempre belas e formosas. Kilayra era a única que sabidamente não tinha aquelas qualidades. Foram levados ao quarto onde cada um ficaria hospedado, e Esther e Jonas à ala onde dormiam os escravos e servos.

A festa estava maravilhosa! O calor era grande, mas as pessoas estavam felizes. A guarda havia passado nos povoados de Montherran, que eram próximos ao palácio, e convidado a todos. Foi então que ao terminar de se aprontar e sair de seu quarto, Joice viu uma jovem morena, sentada de costas no jardim do Campus. Ao virar-se pra ela, foi inacreditável! A moça usava um vestido pérola, de cetim, parecendo uma noiva. A beleza era surpreendente! O cabelo amarrado no alto, restando mexas cacheadas nos ombros e costas. Sua pele era rosada, as bochechas mais ainda, pela felicidade e o sol quente. O segredo de sua beleza só poderia ser a felicidade que sentia naqueles momentos. Elas se entreolharam e ficaram imóveis, encarando uma a outra. Quem seria aquela jovem que parecia saída de contos de fadas? Joice ouviu toda a sua infância histórias sobre aquela jovem princesa de Montherran, definitivamente não seria aquela parada à sua frente.