Capítulo 63

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Joice, na arquibancada, percebeu o dragão vindo em sua direção, minutos antes do maldito tornar-se visível a todos. O rei ainda se preparava para fazer o seu pronunciamento. Os cavaleiros discutiam alguma coisa no centro da arena. Quando ela sentiu o mal envolvendo tudo ao seu redor. Ele viera disposto a atacar. A moça rapidamente analisou o escudo de proteção que estava ao redor do local. Sabendo que era apenas contra o calor dos sóis, e àquela altura do dia, a maior parte de seu poder já havia se dissipado. Lançou mão de seu poder máximo naquele instante. Reuniu toda a sua magia e assim reforçou o escudo em torno daquela arena. Olhou em volta e percebeu o quanto todos estavam alheios ao perigo que se aproximaria em instantes. Ela teve alguns momentos de ação antes que todos entrassem em pânico. Viu mulheres, crianças e pessoas que não tinha a menor chance contra o dragão. Lamentou por todos. Seguiu na realização de uma sequência de feitiços que tornaria o ambiente o mais seguro possível. Enquanto conjurava uma imensa onda de proteção que se agregava ao escudo preexistente no local, ela pensava que talvez a ignorância fosse mesmo uma benção.

O rei acabava de se levantar e ainda não havia começado seu discurso. Os dois cavaleiros se colocavam no centro novamente enquanto os palhaços que animavam os intervalos ainda concluíam seu número de trapalhadas. Concentrou-se mais e reforçou as proteções entorno de todos nas cortes, pois haveria alguém ali que a besta procurava, podia sentir isso. Preocupou-se com o seu tio, reforçou ainda mais seu escudo pessoal em volta dele e de Helena.

As pessoas, alheias ao perigo que se aproximava, gargalhavam com as apresentações dos artistas. Joice olhou para a arena e após acionar todos os seus poderes mágicos e preparar-se para a batalha que viria, ela percebeu algo estranho emanando de Kilayra, sentada logo à sua frente. Notou que a moça sentada ao lado do rei não era a princesa, mas sim a garota com o choro descompassado que viu enquanto ajudou o revolucionário na noite do aniversário da princesa. O que estaria fazendo sentada ali? Como todos não sentiram a falta da princesa? O que estava acontecendo? Era uma impostora! Estaria mancomunada com os dragões? O que tinha feito com a herdeira de Montherran? O rei pronunciava suas palavras de encerramento. Então o dragão chegou mais perto. Seus ouvidos doíam com o ganido do animal, ela lançou um olhar que cruzou com aquele par de olhos vermelhos. Não tinha tempo para tratar da impostora naquele momento. Precisava atingir o dragão antes que ele os atacasse. Uma voz ecoava dentro de sua mente, como a que ouviu do cavalo alado no primeiro dia que saiu a passear e conhecer aquele novo mundo.

— Você não deveria estar a favor destes inúteis.

— E o que, supostamente, acha que eu deveria fazer?

— Você deveria honrar o sangue que corre em suas veias, mas prefere ser rebaixada. Morrerá como um deles.

— Isso é o que veremos seu dragão de merda!

— Acha que essa proteção que lançou me impedirá de conseguir o que vim buscar?

— Não conseguirá levar nada para lugar nenhum se estiver morto.

O espanto e o rebuliço foram tamanhos que a arena parecia cair. O que não impediu Joice de movimentar o ar todo, o vento em volta do céu que os rodeava, desestabilizando o voo da criatura. Após ter feito esse movimento, ergueu as mãos e tentou algo que nem mesmo ela saberia se funcionaria. Ela canalizou o restante do pôr do sol que estava aparente no céu e com ele lançou uma rajada de luz solar em direção ao atacante. O sol canalizado daquela maneira escureceu o céu e uma luz pôde ser vista atingindo as costas negras e escamosas. Ela percebeu que ele também conjurou uma magia. Outra sombra esfumaçada envolveu algumas pessoas da corte de Montherran e quando se dissipou, pôde ver que a impostora havia sumido naquela penumbra. Deduziu que de fato ela estaria ajudando o dragão. Naquele instante viu que os dois cavaleiros subiam na torre mais próxima. Percebeu que o mais franzino mirava uma enorme flecha em direção ao dragão. Após ser solta no ar, Joice a reforçou com sua magia. Só então percebeu que a jovem da Ordem do Dragão estava desacordada nas garras da criatura ferida. Sem entender mais nada, Joice tomou cuidado para que a flecha não a atingisse. Poderia ser uma vítima daquela situação. A flecha cravou em uma das asas, mas não foi o suficiente. Ela continuou a movimentar o ar tentando impedir que o dragão conseguisse fugir. Percebeu que já ia longe, fez mais uma tentativa. Canalizou novamente os raios solares e lançou-os em direção às costas negras e escamosas. Uma ferida se abriu e o monstro urrou de dor. Cambaleou e quase soltou a moça desacordada. Seguiu seu curso ainda que parecesse muito fraco. 


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E essa foi a segunda perspectiva...


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A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora