Capítulo 34

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Ao entrar no palácio de Lemúria, Joice teve que soltar as suas ouriçadas e despenteadas madeixas vermelho dourado. Cair de seis mil metros de altura devia ser uma boa justificativa para seu estado catastrófico. Era uma pena que não podia usar essa desculpa. Trotar freneticamente em um corcel alado de volta pra casa, também não ajudava a manter o penteado impecável. Foi a primeira vez que ela se referiu ao palácio como sendo sua casa. Isso a princípio a inquietou, mas a seguir sentiu-se confortável. A ideia de ter novamente um lar era inegavelmente reconfortante. Foi em direção ao seu quarto e ouviu quando o tio a chamou. Não era costumeiro encontrarem-se pelos corredores do castelo, mas naquele exato dia e momento, em que tinha tantas travessuras a esconder, com quem mais poderia esbarrar? A famosa "Lei de Murphy", deduziu sorrindo. Arrumou como pôde as madeixas e virou-se para o interlocutor.

— Princesa, por onde andou?

— Estive treinando sozinha e lendo os livros que Erycles deu — mentiu, pois sabia que admitir onde estivera deixaria o tio nervoso e preocupado. Ela precisava processar tudo o que acabara de vivenciar antes de decidir-se por contar a mais alguém.

— Venho do quarto do meu amigo mago, perguntei sobre você e não a viu durante todo o dia.

— Precisava estar sozinha por um tempo. Sinto falta de casa, de meus amigos... — hesitou, mas aquilo era uma verdade absoluta. — Tudo bem, né? Posso estar sozinha vez ou outra, não posso?

— Claro. Não é prisioneira neste palácio, mas não vá muito longe. Existem muitas pessoas e seres que não nos são muito favoráveis.

— Está bem — Pôde comprovar isso hoje mesmo.

Queria poder falar-lhe sobre o elfo, mas como contar ao tio apenas parte do dia? Sabia que seria alvejada com questionamentos para os quais não tinha uma resposta pronta, ou pelo menos uma que fosse devidamente satisfatória e onde não confessasse seu desatino. Não. Não estava disposta a admitir nada naquele exato momento. Precisava apenas de descanso para colocar os pensamentos no lugar e pedir para o coração descer da garganta. Onde se instalara durante a queda e pulsava desesperadamente desde então. Dava-lhe uma incômoda sensação de sufoco.

— Tome cuidado! Aconselho que sempre esteja acompanhada de um criado. Ele será capaz de ao menos alertá-la quanto aos perigos do Daran que ainda desconhece.

— Tudo bem, eu me lembrarei disso! — Fazendo menção de continuar sua jornada até o quarto.

— O jantar está servido, me acompanha?

— Claro que sim! — Comer na companhia do tio também agradava.

Ele estendeu o braço e ela o agarrou como se fossem dançar uma quadrilha de festa junina. Ela sorriu. Gostava muito da presença do tio. Era quase tão bom como estar com o próprio pai. Eles eram idênticos.

— Tio, preciso te contar uma coisa sobre Erycles.

— Diga minha querida, sou todo ouvidos.

— É que não confio nele.

— Ele tem essa casca grossa, mas é um bom homem.

— Eu acho que ele está te traindo e ao reino. Acho que ele é um espião.

— Como e por que pensa isso? — interessou-se.

— São vários motivos, diversos detalhes. Não sou capaz enumerar especificamente, mas tenho uma forte impressão de que trama algo.

— Você o viu fazendo alguma coisa errada?

— Ver, assim propriamente dito, eu não vi. Mas... — titubeou por não ter provas do que acabaria de falar. — Quando estávamos em Montherran, eu o vi conversando com uma bruxa. Ela era bonita e muito estranha, quase tão sinistra quanto ele. Acho que eles tramavam alguma coisa.

— Trocar conhecimentos e feitiços com outros de poderes mágicos é uma coisa natural. Você o viu fazendo algo suspeito?

— Já disse, ver mesmo eu não vi, mas...

— Fique tranquila, vou investigar — garantiu. — Mas adianto que ele é de confiança. Está com nossa família há muitos anos.

— Tem mais uma coisa — decidiu-se. — Quando nós ainda estávamos lá no palácio, eu ouvi que uns...

Jonas, afoito, entrou aligeirado. Sua expressão contorcida em preocupação e com uma urgência na voz.

— Meu rei, a rainha o aguarda em seus aposentos, precisa falar-lhe. Pede que vá urgente.

— Já estou indo, continuamos essa conversa depois Joice? Preciso ver o que a rainha quer.

— Está bem, continuaremos. Sei que deve ser difícil controlar tanta terra de seu reino e ainda ter uma família para cuidar.

— Minha família apenas estará completa quando eu puder reencontrar meu amado irmão. Só falta isso, já que você está aqui conosco.

— Vamos encontrá-lo tio, tenho certeza disto, é sobre isso que preciso lhe falar, mas vá. Minha tia precisa de você.

— Sim, você tem razão, é muito difícil cuidar de tanta coisa. Embora seja uma tarefa muito satisfatória essa de ser um rei. Por falar em tarefas, em algumas semanas haverá o torneio em Montherran para a escolha da Guarda Real. Nossa família estará presente. Faço parte do Conselho de Metistas e nossa ausência seria considerada uma falta de modos e de comprometimento.

— Vamos ver um torneio? Aquelas lutas medievais que envolvem mortes de verdade?

— Não sei se é da maneira que você conheceu no seu mundo, mas lhe garanto que é um evento muito interessante. O início será no Dia dos Três Sóis. Mas precisamos chegar a Montherran um dia antes.

O rei deu meia-volta e se afastou da sobrinha. Joice ficou observando parada enquanto ele ia e pensando quando poderia rever seu pai. Era tudo o que mais queria na vida! Reencontrar os que lhe eram tão caros! Lamentava que o tio fosse um homem tão ocupado e que não passassem mais tempo juntos.


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Todos esperando o torneio, e vocês o que acham? Estão preparados para enfrentar esse novo desafio? 

Votinhos... Votinhos... Estrelinhas... comentáriosss... kkkk

Estou ansiosa!

Espero os votos e os comentários de vocês! Se estão mesmo gostando, indiquem, isso motiva tando essa que vos escreve! :) : P

Meu muito obrigada! E...

Aquele Abraço,

W.F.Endlich


A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora