Capítulo 35

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Kilayra mantinha sua rotina: acordar cedo e treinar com Jimmy até que os sóis começavam a esquentar. O torneio se aproximava, faltava menos de uma semana. Ao sair dali, Kilayra foi até a cozinha e comeu uma maçã. Conversou com Rosi ao passar por ela no corredor. Viu Moade e nela deu um abraço apertado, agora possuía dezoito anos, esse era o lado bom. Mas também era a idade de se casar, esse era o lado ruim.

Passou o restante da manhã fazendo as coisas de que mais gostava, ficou em seu quarto lendo e refletindo sobre o que estava prestes a acontecer. O livro era uma linda história! Previsível e ainda assim linda! Havia uma princesa bonita, meiga e sem muita sorte. Casaria com um governante tirano e de mau caráter. Imaginou-se casada com tão falso e poderoso homem. Como a pobre deveria ser infeliz para o resto de seus dias! Mas tudo se resolveu no final, como sempre, os finais felizes dos livros! Isso poderia repetir-se na vida real. Desejou. Em seguida, lamentou profundamente que isso não fosse tão simples assim. A felicidade de um final de história não era algo que se comprava em pacotes prontos nas vendas. Ela gostaria de adivinhar como seria sua vida dali em diante. Mas saber o futuro seria uma maldição, não uma benção. Tomou por exemplo a jovem bruxa, princesa de Lemúria. Todos sabiam sobre a profecia. O futuro que cercava a vida da garota. Não percebeu Joice mais feliz que as outras moças do palácio. Questionou-se se ela tinha consciência de tudo o que passaria até ser oficialmente a herdeira de Elora.

Resolveu sair de seu quarto e passear pelo palácio. Foi até a cozinha ver as delícias que estavam sendo preparadas. E papear um pouco.

— Bom dia papai! — O pai estava à sua procura e entrou no ambiente quente, repleto de fumaça e aromas.

As servas fizeram-lhe a reverência. Kilayra estava sentada próxima a um enorme fogão. Numa bancada que ela gostava de ficar desde a meninice. A filha tornara-se uma bela mulher. Precisava escolher um marido, mas como fazer que aquela moça teimosa e turrona entendesse que sua missão na vida era fazer um excelente casamento? Que apenas desta maneira ela poderia ser feliz?

— Bom dia filha! Por que não tomou café conosco?

— Não gosto de tomar café no horário de sempre quando eles estão por lá. Aqui é tão mais aconchegante. Sabe o que penso sobre o povo desta corte. Ricos e arrogantes.

— Kilayra! Não seja preconceituosa e sarcástica! Você está sendo injusta. Não quer dizer que porque possuem dinheiro e posses necessariamente são más pessoas.

— Necessariamente, não. Quase sempre, sim. Mas está bem, não serei injusta. Agora que me lembrei, gostaria de dizer que não concordo com esse novo imposto que você criou.

— Novo imposto? Do que fala?

— Alguns representantes, de bom caráter e justos — ironia era algo natural na moça —, em nome de Vossa Majestade, o Rei, estão cobrando outro imposto dos aldeões essa semana. Há boatos que a Ordem do Dragão tomará uma atitude quanto a isso.

— Mas não criei nenhum outro imposto.

— Bem, então chame aqui seus representantes, as boas pessoas das quais fala, e pergunte a eles. Montherran é um reino enorme e acho que nosso povo está sendo roubado e explorado novamente. Conhece mesmo todas essas pessoas as quais você confiou enormes limites de terras? Usam seu nome e ampliam novas taxas e impostos, enchendo suas bolsas de dinheiro suado da população. Dinheiro que lhes fará falta.

— Farei isso. Preciso mesmo rever alguns deles, e por falar em caráter, lembra-se de Sharláh?

— O Rei Sharláh, de Varshan? É uma pessoa formidável! Citou um bom exemplo de caráter na corte. Mas asseguro que são casos raros. Ouvi dizer das medidas tomou para beneficiar o povo.

A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora