Capítulo 26

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No trajeto, encontrou sua tia, uma mulher alta e magra, uma figura singular e amorosa. Sentia saudade de Raquel, mas Helena era uma pessoa acolhedora. Tinha ainda aquele aspecto doente, frágil. A moça olhou no fundo de seus olhos e percebeu a tristeza que habitava aquela alma. E se sentisse a falta do marido que vivia em suas viagens, sempre fora do palácio. Não tiveram muito tempo para conversar, com a rotina de treinamento exaustiva da jovem. A tia apoiou a mão sobre seu ombro e sorriu:

— Me acompanha? — sugeriu.

— Claro, tia. Aonde vamos?

— Pouco conversamos desde que chegou. Deve sentir tanta falta de sua casa. Eu sinto falta de Montherran, muitas vezes.

— Você cresceu próximo ao mar, não foi?

— Não cresci, mas passei boa parte de minha vida no palácio de verão de minha família. Tinha o hábito de caminhar na praia durante as tardes. Pensar na vida e em tudo que me reservaria. Era um tempo tão diferente — Chegaram à frente de uma porta. O quarto dos tios.

— Acho que vou para o meu quarto — disse Joice.

— Não vá, entre um pouco. Fico tão sozinha aqui neste palácio.

— Está bem — Ela entendia perfeitamente o que a tia queria dizer com aquilo e compartilhava a solidão, embora houvesse pessoas o tempo inteiro pelos corredores.

Ela não tinha entrado naquele cômodo do palácio ainda. Era um quarto luxuoso e cheio de pequenas esculturas de madeira e pedra. Joice se aproximou e viu a perfeição em cada detalhe delas.

— Que lindo, tia! São todas suas?

— Sim, cada uma delas. Eu que faço.

— São de uma beleza encantadora! Como se fossem vivas a pulsar.

Ela observava as pequenas esculturas. Havia pássaros e outros pequenos animais. Olhá-los dava uma estranha tristeza. Era como se estivessem ali pra valer! Não importava se feitas em madeira, como as de pedra, eram magníficas! A mulher possuía um talento natural para trabalhos manuais.

— Como as faz? Parecem perfeitas nos detalhes.

— Eu crio as esculturas com um pouco de ajuda de encantamentos. Por isso são tão perfeitas, não são mesmo? — Seu sorriso era ingênuo, encantador.

— Sim, são lindas! Mas eu acho meio... tristes.

— Tristes?

— Sim, como se faltasse algo... Faltasse... Não sei... Vida? O que é esse aqui? Um órgão humano?

— Ah, é sim. É que me interesso muito em magia de cura. Por isso eu preciso estudar os órgãos. Tenho outros aqui também, olhe — Ela apontou para um cantinho onde deixava uma caixa fechada que abriu para a moça, revelando um pequeno coração do tamanho de um pulso fechado. Pelas aulas de ciências que teve, sabia que o formato era realista. — É importante sabermos como tudo funciona para que possamos curar. Vê? Nem tudo parece triste, não acha?

— Você tem magia?

— Um pouco. Mas nada comparado a seu tio e a você. Sou apenas uma mulher que se interessa por encantos. Mas me fale um pouco mais sobre você — incentivou.

— Não tem muito o que falar... Eu sou a Joice — Sorriu amarelo. — Vocês parecem saber mais de mim do que eu mesma — manteve o movimento minguado nos lábios, arqueando as sobrancelhas. — E tenho estado muito ocupada. Erycles me ocupa o tempo todo, quase não resta nada pra mim.

— Entendo... Mas acabará em breve. Pelo que sei, seu treinamento está adiantado.

— Sim, eu estou aprendendo rápido. Acho que isso seja uma boa coisa.

A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora