Capítulo 31

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Joice passava seus dias lendo os livros e estudando as aplicabilidades de como poderia utilizar as habilidades que recentemente adquirira. Não conseguiu estar a sós com o tio para tentar sondar o que ele achava sobre o envolvimento de Erycles no rapto de seu pai. Ele fazia várias viagens a lugares remotos do Daran e o que pôde descobrir era que eram viagens pacificadoras, mas percebia que sempre voltava trazendo itens belíssimos, "Presentes recebidos dos povos que ajudava", deduziu. Com o passar dos meses, constatou que seu tio ficava muito pouco no palácio. Pensava vez ou outra quais seriam aqueles objetos que ele a enviaria para buscar. E por que ele mesmo não o trazia, já que viajava aos lugares distantes? Onde os encontraria? Para que serviriam? O que ele faria com eles? Como ajudaria a derrotar o Mago Real? Decidiu que isso não seria problema, pois o tio certamente era o mago mais poderoso que existia na atualidade. Mas ele não dedicava muitas horas ao estudo como Erycles a forçava todos os dias. É claro que já devia ter concluído o seu treinamento e não precisava estudar mais. No entanto, sempre via Erycles a estudar diversos volumes de livros da grande biblioteca do palácio.

Decidiu que andaria pelo reino antes do almoço. Levantou, colocou o capuz que Esther lhe arrumou e saiu sem ser vista, deixando o palácio atrás de si. Em todo o tempo que estava ali, não havia voltado ao portal, pelo qual chegou àquele mundo. Fechou os olhos e rastreou mentalmente o caminho, tentando localizar o local de concentração mágica mais próximo. Ela encontrou um que era mais forte e um segundo local, com bastante magia também, só que em outra direção. Investigaria esse segundo lugar mais tarde.

Andou por alguns trechos, levitou sobre alguns territórios mais íngremes, passou por um rio e então pôde avistar uma cordilheira. Será que o portal ficava atrás dela? Era uma extensão enorme. Sabia que chegar até lá demandaria um desgaste mágico muito grande, caminhou até ali com suas defesas ativadas, para o caso de sofrer algum ataque. Seu poder ainda não havia despertado em sua totalidade, e mesmo que tivesse, não poderia usá-lo ainda. Mas a cada dia ela descobria uma coisa diferente que era capaz de realizar. Começou a levitar alto, quase um voo, estava longe do chão, mas não era rápida, pois isso exigia uma concentração muito elevada. Torcia para que seu potencial mágico não fosse algo finito, tal qual um carro que o combustível termina. Olhou para baixo e concluiu que cair dali não seria agradável. Olhou com mais atenção para a montanha que escalava magicamente e percebeu que havia uma espécie de elevador inserido entre as pedras. Era grande e poderia transportar muitas pessoas ao mesmo tempo. Se aproximou e percebeu que era acionado através de magia. Ela subiu na plataforma e com uma ordem mental, colocou as engrenagens em movimento ascendente. Após uma subida de mais de vinte minutos, ela alcançou o topo de uma das montanhas. Percebeu que o cume tratava-se de uma estrutura plana. Um planalto. Lembrou-se das aulas de geografia da Dona Estela. A vista era incrível! Perfeita. Podia ver uma extensão sem fim de montanhas em uma imensa cordilheira. Levaria a vida inteira caso resolvesse explorar aquele lugar. No centro daquela cadeia de gigantescas elevações na terra, uma planície lhe chamou a atenção. Mais ao longe, do lado esquerdo, avistou um vulcão. Mas numa montanha um pouco mais baixa que ele, havia outro planalto, coberto por construções de pedras e de uma vegetação verde intensa. Ela percebeu na parte central, após aguçar sua visão para que visse melhor, que havia uma espécie de círculos agrupados, formando um desenho como se quisessem parecer um labirinto e bem ao centro, via um semicírculo com cinco janelas. Seria aquele o Portal Humano?

Lá de cima ela não conseguia discernir onde a magia era mais forte, pois havia magia emanando de todos os lados. Tentar identificar os focos a deixava zonza. Tentou concentrar-se, melhorar ainda mais o alcance de seus olhos e ver o portal mais de perto. Foi neste momento que desmaiou. Estando desacordada ela sonhou ser levada daquele lugar para outro por um dragão. Encarou seus olhos no momento que a criatura devolvia o olhar. Presa naquelas garras. No olho direito uma cicatriz, ela cruzava da pálpebra até a metade do focinho do monstro. Ele parecia imenso e inofensivo. Mas como um dragão podia parecer inofensivo? Isso era quase inconcebível. Permitiu-se embalar pelo momento, meramente por se tratar de uma alucinação causada pelo desmaio. Olhou abaixo e as montanhas que compunham a paisagem pareciam uma imensa tela pintada por um grande artista. As cores de verde mais escuro sobrepunham-se às outras. O detalhe que chamava mais a atenção eram as ruínas. Como existiam ruínas entre as planícies naquelas cordilheiras, que apenas podiam ser vistas daquele ângulo! Observou com mais atenção a cicatriz no olho do dragão. Ele agora lhe contava sobre o lugar, como um guia bizarro. Alertou sobre sua atitude impensada e que ela não deveria estar naquele local.

A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora