— Consegue lembrar de todo mundo? — conversavam.
— Das pessoas sim. Perdi algumas recordações de situações, dos detalhes.
— Você se lembra de quando me machuquei?
— Lembro. Isso não teria como esquecer — A mais pura verdade.
— Admirá-la torna-se cada vez mais fácil, sabia? É maravilhosa, Kilayra! — Tomou coragem.
Ela indicou com o corpo de que queria descer do cavalo. O fato de saber que ele via a princesa doeu como uma bofetada na face.
— O que fará?
— Vou caminhar um pouco — desceu.
— Falei de errado? — Repetindo o gesto de descer.
— Não. — incisiva. — O que há realmente entre nós? Temos algum outro tipo de envolvimento que eu tenha esquecido com a minha queda?
Surpreso, mas vendo uma chance de se aproveitar da situação, contudo, duvidava ser capaz.
— Tem algo que eu preciso saber? — ela estava se divertindo ao pressioná-lo.
— Não há nada entre a gente. Pelo menos nada que seja recíproco. — garantiu. Ele caminhava logo atrás dela, segurando a corda que trazia a montaria.
— Mas gostaria que houvesse? — parou e olhou. Encarou-o.
— Se isso dependesse só de mim? — titubeava. — A verdade é que... É que... Eu te amo.
Ritshy sabia que a declaração que acabava de ouvir não era para ela, o que não a impediu de perder o fôlego. Ainda assim era maravilhoso poder ouvi-lo e estar ali.
— Nossa, como é bom poder dizer isso em voz alta! Eu te amo, Princesa Kilayra!
Kilayra! Um nome, um golpe no estômago. Será que as borboletas foram nocauteadas? Isso era estranho e desapontador. Ser alvo de um amor destinado à outra pessoa era, no mínimo, confuso. Apenas não era pior, pois ele dizia que a amava. Ali. Bem na sua frente. Só os dois. Naquele instante era ela e não Kilayra. O momento lhe pertenceria para sempre. Odiou a amiga com todas as suas forças. Culpou-se por isso com o restante de dignidade que lhe restava. Abaixou os olhos. Não devia encará-lo. Ainda que esse fosse o seu desejo mais sincero.
— Não precisa ficar triste com o que te falei — consolou. — Não se preocupe, eu jamais pretenderia que algo pudesse de fato acontecer entre nós.
— Eu não...
— Sou feliz apenas por me permitir que eu a ame! Libertador é palavra. Você insistiu. Um relacionamento entre nós é improvável. Só não posso fugir... Apenas me permita sentir. Isso já me fará feliz.
— Por que isso? É tão bonito, atraente. Aposto que existem garotas que gostam de você. Por que insistir comigo? — Não conseguia desviar os olhos.
— Porque preciso. — disse enigmático.
Enquanto ouvia, convencia-se de que aquilo não era seu. Não lhe pertencia aquelas palavras, aquele amor imenso.
"Ele não fala de você! Tá falando dela. Não está te vendo, vê a Kilayra. Mas como era tão cego? Sou eu, Ryan! Eu! Seu estúpido." Mas não era a princesa que estava ouvindo sua declaração ao luar. Por que insistia em amá-la desta maneira? "Não se anime, Ritshyla! Não fique feliz! Não se sinta feliz por ouvir essas palavras. Não hoje. Não agora. Não assim.", ordenava mentalmente a desconsiderar. Enquanto a invasão de euforia tomava conta de sua alma e comandava os insetos bailarinos e voadores exibindo suas cores em seu ventre. A sensação estava causando-lhe náusea. "Não sorria, sua maldita! O que ele fala não é seu. Lembre-se! Não ouça! Ignore." Impossível. Já era tarde.
Ela não desprezaria os sons daquelas frases entrando e martelando em seus ouvidos nem mesmo se fosse por uma fração de segundos. Pelo simples e único motivo básico: não era capaz. Não daquela maneira. Amo. Amor. Amada. Corresponder. Correspondido. Ser amada. Permitir. Felicidade. Parado à sua frente, sem escudos, sem barreiras e sem os impedimentos de sempre. Tão entregue, total e incondicionalmente. Tão seu. Só seu. Ainda que fosse apenas por aquela noite. Embora estivesse consciente daquela realidade roubada e que era para outra a destinação daquele amor. Consciente de que o amante não era capaz de ver a figura real à sua frente. Embora fosse... Mas de uma forma oblíqua, sabia que ele era sim, correspondido, ela o menos o amava. Mas saber disso não amenizava a sensação de estar usurpando o que não era seu... Mas que deveria ser! Pegaria apenas o que já era seu por direito. O mais puro e imenso amor verdadeiro. Ela era a Princesa naquele momento e pronto! Ela e se aproveitaria da situação! Que mal haveria em torná-lo mais feliz e vivendo momentos dessa felicidade juntos?
"Aproveite-se, Ritshy!", enquanto perdia o bom senso, convencia-se! Lembrou-se de como a amiga a aconselhara dias antes, autorizando essa atitude desmedida. Era ela quem estava ali, ouvindo tudo. Seria ela que o beijaria. Ela que estava completamente apaixonada. Ela que retribuiria o amor de forma plena. Embora ele não soubesse disso! E nunca precisaria saber!
Saiu correndo desenfreada. Fugir. Foi sua derradeira saída. Não conseguiu dizer. Não conseguiria beijá-lo. Não queria beijá-lo enquanto ele declarava seu amor à Kilayra. Não! Uma sanidade insana a envolvia. Uma que não tinha razão nenhuma. As pernas trôpegas corriam e o pescoço se negava a virar para trás e ver a figura boquiaberta. De uma maneira desnecessariamente correta ela sabia que não poderia ser daquele jeito. Não roubado. Não quis aquele beijo que não era seu. Não era assim que havia sonhado toda a sua vida. Ficar ali, ao lado dele era o natural, o que mais desejava. Não devia. Não resistiria ao impulso uma segunda vez. Poderia contar a ele toda a verdade? Mas não suportaria estar ao lado do homem que amava e não ter o direito de ser amada de volta. Ela. Não como a princesa, mas apenas ela, Ritshy.
— Preciso ir. – gritou de longe. — Nos falamos depois. — Foi o que deu. Fugia e isso era seguro, por enquanto.
— Eu sei — engoliu o sorriso honesto e colocou nos lábios um representante do conformismo por saber que ela jamais seria dele.
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Espero os votos e os comentários de vocês!
Aquele Abraço,
W.F.Endlich
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A Senhora do Caos - A Viajante e o Dragão
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