Capítulo 37

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Depois do almoço ela chamou Moade até seu quarto.

— Tenho uma boa notícia pra você, Moade.

— O que é princesa?

— Calma, vou te contar, mas primeiro, vamos dançar — Agarrou a amiga pelos braços e saiu dando voltas com ela pelo quarto enquanto cantarolava. — Você livre será... Assim que eu me decidir... Assim que eu me casar... Mas te peço... — Parou de brincar — por favor, fique aqui. Continue aqui no reino, comigo... Mas não por ser obrigada, apenas por que deseja. Por favor — abraçou-a —, depois que for livre fique em Montherran.

Moade continuava parada, como se não entendesse o que acabara de escutar. As lágrimas desceram. Não entendia como a princesa poderia brincar com coisa tão séria.

— Não devia brincar com isso! — lembrou-se que falava com a princesa. — Desculpe, mas acho que não é bom brincar com os sentimentos das pessoas.

— Não se desculpe — percebeu que não devia ter falado em tom de zombaria. — É que não me entendeu. Não estava mentindo pra com você. Quero que esse seja nosso segredo: meu pai me prometeu que assim que eu me casar, você e o Jimmy não serão mais escravos. É o presente de casamento que ele me deu, liberdade para os dois.

— Não minta pra mim!

— Acha que eu seria capaz?

— Princesa... Nem sabe como fico feliz com essa notícia. Ser livre! Sou escrava há mais de trinta anos. Se você diz que serei livre, então acredito.

— Com quantos anos foi encontrada no deserto?

— Dezesseis.

— Por que estava lá? Mamãe disse que tinha tido um bebê. O seu bebê, o que aconteceu?

— Sempre evitei falar nisso...

— Tudo bem, não precisa falar nada.

— Mas... contarei. Será a única pessoa que compartilharei o meu segredo.

— Agradeço a honra.

— Eu tinha apenas quinze anos quando ia à casa de uma senhora doente, queria ajudá-la. Foi quando conheci seu sobrinho, que não era da Brimeia. Conversamos poucas palavras, o achei muito digno, de confiança. Minhas visitas à pobre enferma tornaram-se diárias e ele sempre me levava até próximo à minha casa. Certo dia, ele quis mostrar um lugar novo e bonito. Eu fui.

"— Querida Moade, venho percebendo um sentimento muito intenso entre nós. Posso continuar a vê-la todos os dias?

— Isso... Acho que não seria certo.

— Acha certo então que eu seja um pobre apaixonado por tão grande beleza e que tenha o infeliz destino de jamais poder tocar na única mulher em que amarei por toda vida.

— Me ama?

— Mais que a mim mesmo."

Nós nos beijamos, eu queria muito estar com ele. Queria senti-lo perto. Passei a ser, desde aquele dia, apenas dele. Amava aquele homem e nada depois do que aconteceu ali naquela tarde conseguiria nos separar. Tudo o que sentia então era alegria, uma alegria inexplicável, que invadia todo o meu corpo, me dominando. Nem sei se devo te contar tudo isso, mas o fato é que eu acabava de encontrar o amor da minha vida. Isso se prolongou por alguns meses, fomos ao mesmo local todos os dias à tarde, ou quase todos. E foi quando percebi que estava esperando uma criança. Comecei a perder as formas do corpo, às vezes enjoava e não pude esconder dele o que estava acontecendo.

"— O que está acontecendo, mulher?

— Estou esperando um filho teu!

— Filho? Mas do que está falando?

A Senhora do Caos - A Viajante e o DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora