Ela estava cansada. Cansada demais. E com muita fome. Só faltou chorar de alivio ao constatar que passava das 17 horas. Enfim iria embora. Seu estomago resmungava por algum alimento e ela tentou enganar a fome o dia inteiro bebendo o máximo de água que podia. Havia esquecido de levar sua marmita para o trabalho naquele dia e não podia se dar ao luxo de comprar algo na rua. Trocou de roupa com uma alegria desnecessária e se corresse um pouco mais daria tempo de tomar um banho antes de chegar à casa da Sra. Franklin para cuidar de Duda. Já era comum todas as terças e quintas tomar conta do garoto para que a mãe dele pudesse ir junto com o pai às aulas de dança. Ela adorava isso. Duda era uma criança calma e o casal sempre lhe dava generosas gorjetas. Estava cada vez mais difícil conseguir pagar todas as contas no fim do mês, então os trabalhos extras eram inevitáveis. Com a mãe internada em uma casa de repouso não podia se permitir sobreviver apenas com o salário que recebia como serviços gerais na Herrera Enterprises. Parecia desumano manter a mãe, sua única família, tão longe. Mas era a única forma de garantir que ela teria todos os cuidados necessários, além das refeições.
Sentiu um leve tremor ao sair pela porta dos fundos da empresa. O tempo estava bastante frio e o céu um pouco nublado. Seu casaco não era grosso o suficiente para mantê-la totalmente aquecida, mas ela fazia o que podia. Colocou as mãos nos bolsos e caminhou de cabeça baixa em direção ao metrô, assim protegia-se um pouco mais do frio. Ao chegar em casa constatou que realmente teria tempo de tomar um banho rápido antes de enfrentar seu terceiro turno de trabalho. Um gemido involuntário de prazer escapou de seus lábios ao sentir a água quente deslizar por seu corpo. Fechou os olhos e permitiu-se relaxar por alguns minutos.
Deus! Daria tudo que pudesse para ter ao menos uma noite de sono. Oito horas já seriam suficientes. Sentia-se esgotada e completamente abandonada. Não havia amigos e nem família. Apenas sua mãe, a qual fazia o possível para visitar ao menos quatro vezes por semana. Mas não era a mesma coisa que tê-la morando ali. Só que não seria egoísta ao ponto de sacrificar o bem estar da mãe só para suprir a necessidade de uma companhia ao final de um dia incansável de trabalho. Além do mais seu minúsculo apartamento não daria para acomodar duas pessoas. Sequer dava para ela. O único cômodo que o compunha mal dava para sua cama muito gasta, seu fogão portátil e uma pequena geladeira, que no momento estava praticamente vazia. Não havia mesas ou cadeiras. Sequer televisão. Não podia pagar pelo aparelho e muito menos pela conta de energia que aumentaria a partir do momento que passasse a usufruir daquele eletro eletrônico. Sua vida sempre havia sido sofrida, mas sua mãe fez o possível para que ela tivesse tudo que fosse necessário. Agora era a vez dela de fazer algo por aquela que a criou com tanto esforço.
No dia seguinte sua rotina não foi muito diferente. Bom, ao menos não estava sendo, até que uma mulher se aproximou dela enquanto fazia a limpeza por um corredor lateral envidraçado do ultimo andar da empresa. Uma olhada para baixo, e ela podia ver toda Manhattan. Ouvia-se música no ar, que ela não reconheceu que era Mozart. Nunca sabia distinguir a trilha sonora. A mulher era alta e tinha um excelente corpo. Os cabelos negros estavam presos em um perfeito coque no alto da cabeça. A maquiagem era impecável e sua feição suave. Sem duvida era uma das milhares de secretárias que haviam ali. Admirava em segredo as mulheres que conseguiam se arrumar impecavelmente, dos pés à cabeça, sem esforço aparente.
- Você poderia limpar a sala do Sr. Herrera? Ele acabou derramando café sem querer. – informou Josie, uma da das secretárias que desfilavam por aquele andar.
Nada disse, apenas concordou com a cabeça e se encaminhou para a sala do diretor logo atrás da mulher. Sabia muito bem quem era o Sr. Herrera. Todos sabiam. Afinal, ele era o grande manda chuva. Não o via muito, mas ouvia fofocas a respeito de seu temperamento forte e semblante fechado. Não era para menos, duvidava que alguém conseguisse construir aquele império todo sendo um tolo.
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All of me - AyA
RomanceA vida de nossa jovem protagonista nunca havia sido fácil. Durante toda sua infância e adolescência viu a mãe fazer o impossível para que nunca lhe faltasse absolutamente nada. E agora era sua vez de retribuir tanta dedicação, mesmo que isso a obrig...