Capítulo 010

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Anahí não podia dizer que se assustou ao ver o carro estacionar em frente ao prédio de Alfonso, nem tampouco se surpreendeu quando ele a fez sentar no sofá de sua luxuosa sala de estar. Como ainda não se sentia no controle total de suas ações, Alfonso preferiu se acomodar em uma poltrona que ficava de frente para onde Anahí estava. Ainda estava com muita raiva da situação, e dela principalmente. Porque cargas d'água ela não havia pedido ajuda? Não havia ligado para ele? Estava completamente revoltado com tudo aquilo.

Já Anahí permanecia com a cabeça baixa e mexia freneticamente nas mãos. Não sabia bem como agir naquele tipo de situação. Tinha consciência que não devia nenhum tipo de explicação para Alfonso, mas ao mesmo tempo sentia como se devesse justificar suas ações para ele. Estava tudo bem confuso em sua mente.

- Como as coisas chegaram nesse ponto? - Alfonso questionou. Sua voz estava um pouco agressiva, a raiva mal podia ser controlada.

- Meu aluguel estava atrasado - disse em um tom de voz tão baixo que se Alfonso estivesse um centímetro mais para trás não teria ouvido.

- E colocaram você para fora sem mais nem menos? Sem um prazo?

- Não - balançou a cabeça e permaneceu olhando para as mãos - pelo contrário. Já havia passado quase uma semana do prazo quando eu sai de lá. Eram muitos meses atrasados. Não tinha como pagar tudo.

- Então era por isso que você estava trabalhando tanto?

- Sim, mas mesmo o tanto que eu me esforcei não foi suficiente. Como sempre. - uma risada triste escapou de seus lábios e ela, enfim, levantou a cabeça - não é a primeira vez que isso acontece, e talvez nem seja a ultima.

Alfonso torcia para que sua fisionomia não evidenciasse o que ele estava sentindo no momento. Mantinha os olhos fixos nela que parecia tão miúda, perdida, triste... Conformada. Tudo isso estava partindo seu coração, odiou vê-la triste daquele jeito.

- Você já esteve na rua antes? E sua família?

- Algumas vezes - deu com os ombros, como se aquilo não importasse - minha única família é minha mãe.

- E onde ela está agora?

- Em uma casa de repouso - sem perceber Anahí começou a se abrir com ele, coisa que nunca havia feito em sua vida - ela precisa de cuidados e atenção, e lá é o melhor lugar.

- E porque não a mantém junto de você? Por isso seu salário não é suficiente? - questionou rápido, antes que ela desistisse de falar.

- Se ela vivesse comigo eu não poderia morar em qualquer lugar, teria que ter alguém para cuidar dela durante o dia, viria a alimentação e os médicos, além dos remédios. O dinheiro não daria. Na casa de repouso ela tem tudo isso e eu vou me virando como posso.

- Se virando como pode correndo riscos, deixando de se alimentar e trabalhando até a exaustão? - alfinetou e se arrependeu no segundo seguinte quando observou a tristeza voltar aos olhos azuis.

- Minha mãe já fez muito por mim - disse com convicção - o mínimo que eu posso fazer é abdicar de algumas coisas para dar o melhor para ela. Ela não merece viver enfurnada em um lugar que não tem um mínimo de estrutura ou passar o dia inteiro sozinha porque não posso ficar lhe dando atenção. Ela já sofreu muito a vida inteira.

- E você? Não sofreu? - questionou - não estou dizendo para não amparar sua mãe, mas precisa pensar um pouco em você também.

- Eu consigo me virar com qualquer coisa.

- Parece que você não tem noção do risco que correu ao ficar na rua sozinha todos esses dias.

- Já passei por muita coisa na minha vida, consigo me defender sozinha. - tentou convencer a si mesma disso e forçou sua mente a espantar a imagem de Leon que começava a se formar em sua cabeça.

All of me - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora