Capítulo 004

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Assim que Anahí fechou a porta do prédio pode ouvir o carro de Alfonso se distanciando. Pegou o elevador e em poucos minutos já estava em seu andar, pena que o que lhe esperava ali não era algo muito bom.

Leon, seu ex-padrasto. Fazia meses que ele não aparecia e Anahí sempre agradecia por isso. Eles nunca se deram bem e muito menos depois que ele começou a assediá-la. Assim que descobriu isso Georgina separou-se dele e foi viver sozinha com a filha. Mas Leon não desistiu. Continuou perseguindo-as por muito tempo, tirando sempre o pouco dinheiro que tinham. Além, claro, de se divertir com a ex-enteada quando o retorno financeiro não era satisfatório.

Quando o viu Anahí sentiu o corpo gelar e o sangue sumir de seu rosto. Amaldiçoou-se internamente por não ter aceitado que Alfonso a acompanha-se até seu andar. Um filme passou rapidamente por seus olhos e ela se viu alguns anos atrás totalmente destroçada por causa dele. Os traumas que pouco a pouco iam sumindo de sua mente voltaram com força total e ela cogitou realmente em dar meia volta e ir embora para qualquer outro lugar, mas, obviamente, Leon não permitiu.

- Anahí minha querida.

O tom falso em sua voz era evidente. O sorriso mostrava seus dentes amarelados e o desprezível odor de uma cachaça barata. Ele levantou os braços e o cheio que saiu de suas axilas era capaz de fazer qualquer um passar mal. Anahí sentiu o estomago embrulhar.

- O que faz aqui?

- Vim ver minha filha, o que mais seria?

- Então deveria bater de porta em porta a procura dela, porque essa que você está impedindo a passagem é minha.

- Sempre com uma resposta na ponta da língua – o sorriso em seu rosto não vacilou e ele aproximou-se dela – vamos, abra a porta. Vamos conversar.

- Vá embora Leon – disse cansada – você sabe que não tenho dinheiro para te dar. E mesmo se tivesse não daria – completou.

- Não, não. Vamos, abra. – tornou a repetir.

Anahí não se mexeu. Não podia. Não queria viver aquele inferno todo outra vez. Se abrisse a porta sabia o que iria acontecer. Mas Leon, claro, não desistiu. Aproximou-se dela e exibiu a ponta da faca que trazia presa a cintura. Um sinal claro de que ela não tinha opção. Ou deixava que ele entrasse ou aguentaria as consequências. Anahí sabia bem que ele cumpria qualquer ameaça, já sentiu na pele, e a pequena cicatriz em sua coxa esquerda não a deixava esquecer.

Sem alternativa, passou por ele com o coração na mão e abriu a porta. Leon nem disfarçou a careta de desgosto ao analisar o pequeno cubículo que ela morava. Alguns anos atrás ela vivia em um lugar melhor, mesmo que ainda fosse simples. O fato até complicou um pouco que ele a encontrasse, mas era uma pessoa persistente. Nunca deixaria que alguém como ela escapasse de suas mãos. Mesmo que não mais tivesse dinheiro para lhe dar ainda havia o maravilhoso corpo de uma jovem no auge de seus vinte e tantos anos. E isso já estava de bom tamanho.

- Você já teve dias melhores.

- Falei para você que não tenho dinheiro – cruzou os braços na altura do peite e forçou seu coração a bater mais devagar.

- Não tem problema – de maneira distraída passou o dedo sobre a cama e olhou para ela – existem muitas outras coisas que podemos fazer.

Anahí deu um passo para trás ao vê-lo se aproximar, mas o apartamento era minúsculo e poucos passos depois ela já estava encostada à parede. Leon sorriu e ao perceber que fazia menção de escapar de seus braços pegou sua faca e a encostou no barriga dela.

O corpo de Anahí tremia e ela sentia todos os seus pesadelos voltando à mente. Leon viu o medo nos olhos dela. Eles estavam vidrados, agora, com as pupilas dilatadas. Ele ainda não havia cortado-a, mas fazia questão de mostrar-lhe a faca o tempo todo para que ela não perdesse o medo e soubesse que ele poderia fazer isso se ela negasse a dar o que queria.

All of me - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora