Olivia, com toda sua cara de pau, levantou da cadeira e se postou de frente para o chefe. Sua feição era tranquila, como se o que estivesse fazendo fosse absolutamente normal. Anahí voltou sua atenção para o fogão e reunindo forças sabe-se lá de onde continuou a limpá-lo. Não queria encarar o confronto que, sem duvida nenhuma, começaria ali. Sabia que no fim sobraria para ela, como sempre. Olivia daria uma desculpa qualquer, Alfonso acreditaria e a história se repetiria. Por mais que ele estivesse mais solícito com ela, mesmo que não conseguisse entender o porquê, ele não a conhecia como conhecia Olivia. Era normal que desse mais credito ao que a outra falasse.
- Costumamos fazer a limpeza da cozinha ao fim do expediente.
- Já passa das nove horas da noite – consultou o relógio em seu pulso – não acha que a limpeza de um mísero fogão poderia esperar até amanhã?
- Já havíamos começado – continuou com a voz segura – achei mais prudente terminar de uma vez.
- Anahí, pare com isso! – disse irritado para que ela deixasse de esfregar o fogão. Já estava perdendo a paciência com a dor que era notória no rosto dela.
Sem nada dizer Anahí largou a esponja e virou-se para ele que rapidamente notou a pequena mancha de sangue que começava a se formar em sua blusa. Em poucos passos se pôs a sua frente e tocou superficialmente em sua barriga, sobre a mancha. Assustada, ela deu um passo para trás, arregalando os olhos.
- O que é isso?
- Nada – murmurou e deu outro passo para trás, afastando-se mais dele.
- É sangue? – questionou.
- Não é nada – repetiu e balançou a cabeça de forma negativa. Arrependeu-se disso no segundo seguinte quando se sentiu tonta. Estava exausta e com fome, o corpo começava a cobrar seu preço.
- Você não viu que ela estava machucada? – virou-se novamente para Olivia que começava a ficar impaciente com aquele drama de Alfonso.
- Não senhor – disse simplesmente – eu havia perguntado se ela queria ir para casa mais cedo e ela disse que não. Pensei que estivesse tudo bem.
- É verdade isso Anahí?
- Sim, Sr. Herrera – sua voz, infelizmente, não passava de um sussurro. Sentia que iria desmaiar a qualquer momento se não sentasse por um minuto – eu estou bem.
- Certo, certo – mesmo relutante deu-se por vencido – mas vamos terminar o expediente por hoje.
Como que em um passe de mágica Olivia desapareceu do ambiente e foi embora. Já estava ficando irritada com toda essa atenção desnecessária que Alfonso dava a Anahí. Ora, ela era paga para limpar, então tinha que fazê-lo. Ainda mostraria ao chefe que sua atitude, como supervisora, estava inteiramente correta.
Quando viu Olivia sair Anahí arrastou-se até a cadeira mais próxima e sentou-se, ignorando totalmente a presença de Alfonso. Não aguentava mais fingir que estava bem. Deitou a cabeça sobre a mesa, apoiando-a no braço e respirou fundo, rezando para que todo o mal estar passasse de uma vez.
Alfonso sabia que Anahí não estava bem. Era perceptível. Só que queria que ela informasse isso. Mas, como sempre suspeitou, a garota era orgulhosa. Então, aproximou-se e passou a mão delicadamente por suas costas. Seu rosto endureceu ao perceber que o corpo dela tremia violentamente. Adrenalina, talvez. Buscou um copo com água e o entregou à ela, que bebeu de bom grado.
- Vai me dizer se essa mancha é sangue, ou não? – Alfonso tornou a perguntar.
- Não é nada demais, senhor. Eu estou bem. Só um pouco cansada.
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All of me - AyA
RomanceA vida de nossa jovem protagonista nunca havia sido fácil. Durante toda sua infância e adolescência viu a mãe fazer o impossível para que nunca lhe faltasse absolutamente nada. E agora era sua vez de retribuir tanta dedicação, mesmo que isso a obrig...