Alfonso não desgrudou de Anahí nem por um segundo naquela tarde. Permaneceu ao seu lado, na cama, enquanto conversavam sobre assuntos aleatórios. Seu braço rodeava a garota e ela mantinha a cabeça apoiada no ombro dele, como se aquele fosse seu lugar. Apesar de orgulhosa não podia negar que era extremamente gostoso saber que tinha alguém ao seu lado agora. Alguém que sabia detalhes de sua vida que nem a própria mãe havia tomado conhecimento até o presente momento. E nem as coisas mais horripilantes que foram jogadas na roda fizeram com que ele desistisse de permanecer junto a ela.
Alfonso, por outro lado, não conseguia entender como ela havia passado por tanta coisa sozinha. E isso porque tinha certeza que não tinha sido informado de todas as ocasiões que sofrera na mão do ex-padrasto. Mas não importava, já se sentia satisfeito com o pouco que havia conseguido dela. Sabia que Anahí não tinha contado detalhes e que por trás daquelas informações deveriam ter muitos podres escondidos. Daria tempo ao tempo. Não adiantaria de nada forçá-la a falar. Já havia aprendido isso.
Falou sério quando disse que não iria resolver a vida dela, mesmo que quisesse muito isso. Possuía uma grande quantidade de dinheiro e poderia solucionar qualquer problema financeiro com apenas uma ligação. Não o faria porque tinha prometido, além de admirar imensamente aquela independência e força de vontade dela de crescer por si só.
Anahí, ao ver de Alfonso, era um exemplo a ser seguido por milhares de pessoas que se deixavam abater pelo menor obstáculo que encontrava pelo caminho. A garota, mesmo com a pouca idade, trabalhava arduamente para – tentar – não viver na miséria, sustentava a mãe proporcionando-lhe uma vida mais confortável, já havia morado na rua e desde cedo sofria abusos, aparentemente, de todos os tipos. E apesar de tudo ela não desistia.
- Para onde você pensa que vai? – questionou ao ver a loura se separar de seus braços e tentar levantar da cama mesmo com a perna imobilizada.
- Preciso ir ao banheiro – disse a ultima palavra em um tom mais baixo. Era incrível como qualquer besteira a deixava sem jeito.
- Venha, eu ajudo você.
Ignorando previamente o possível protesto que poderia sair da boca dela, Alfonso a ajudou a levantar da cama e a pegou nos braços, levando-a até o banheiro.
- Você não precisa me carregar para todos os lugares – murmurou.
- Quando terminar me chame – ignorando-a mais uma vez Alfonso depositou um beijo em sua testa – cuidado para não forçar a perna – avisou antes de sair do banheiro e fechar a porta.
Anahí ainda olhou para a porta fechada por alguns segundos antes de fazer uma pequena manobra para sentar no vaso sanitário. Sua cabeça dava mil e uma voltas depois dos acontecimentos repentinos. Era tudo tão inacreditável que ela sequer sabia como agir diante dele. Tudo bem que havia contado parte de sua vida, que havia chorado diante dele, que haviam se beijado (!!!), mas isso não excluía o fato de que eram patrão e empregada, e que existia um abismo infinito entre eles.
Alfonso estava lhe proporcionando abrigo e proteção, além de carinho e atenção que Anahí nunca se imaginou recebendo de outra pessoa que não fosse sua mãe. Tinha vergonha de compartilhar com ele todos esses pensamentos, mas estava ciente que uma hora ou outra teria que fazê-lo.
- Senhor Herrera, terminei – falou de dentro do banheiro com a voz um pouco mais alta que o tom normal. Era estranho chamá-lo de senhor depois de tudo, mas também não se sentia a vontade chamando-o pelo primeiro nome. Ainda.
- Não é possível que você ainda vai me chamar de senhor – entrou no banheiro resmungando de uma maneira cômica, fazendo-a rir.
- Desculpe – apoiou os braços ao redor de seu pescoço quando ele a pegou no colo.
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All of me - AyA
RomanceA vida de nossa jovem protagonista nunca havia sido fácil. Durante toda sua infância e adolescência viu a mãe fazer o impossível para que nunca lhe faltasse absolutamente nada. E agora era sua vez de retribuir tanta dedicação, mesmo que isso a obrig...