03 | que porra de sonho

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Estava no gelo, deslizando com força e precisão, o som do movimento dos patins ecoando pela arena vazia

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Estava no gelo, deslizando com força e precisão, o som do movimento dos patins ecoando pela arena vazia. Era o único lugar onde conseguia organizar meus pensamentos. No gelo, tudo era simples. Eram apenas eu, a velocidade e o som das lâminas cortando o chão frio. Às vezes, sentia que o hóquei era a única coisa que realmente fazia sentido na minha vida.

Afinal, estava longe da minha família e basicamente vivia para esse esporte e para meus estudos. Meus pais, que sempre me incentivaram a estudar, tinham uma ideia romântica de que eu faria física para depois lecionar. A verdade é que amava a matéria, mas me enxergar preso a uma sala de aula não era algo que me animava. Eu queria mais. Talvez uma pesquisa ou algo que me permitisse explorar o mundo, mas nunca soube como explicar isso para eles. O hóquei, por outro lado, sempre foi minha válvula de escape.

Depois do treino, saí do vestiário ainda com a cabeça no gelo, nos movimentos que havia treinado e nos cálculos de força e física que havia mentalmente testado enquanto jogava. Mesmo que eu estivesse com o corpo cansado, minha mente ainda girava como se procurasse respostas para questões que, provavelmente, nem existiam.

"Ei, Hoffmann!"

A voz de John ecoou pelo corredor enquanto ele se aproximava com aquele sorriso fácil. Ele era o tipo de cara que parecia sempre estar em paz com a vida, o que era um contraste completo comigo. Já Mickey vinha logo atrás, com aquele ar despreocupado que era sua marca registrada.

— Parece que você estava ensaiando para uma apresentação — John comentou, jogando a toalha sobre o ombro. — Leve um pouco mais leve, cara, ou vai acabar se matando.

Revirei os olhos, mas sorri de leve. Sabia que ele só estava tentando relaxar as coisas, como sempre.

— Treino nunca é demais, John. Você deveria saber disso — retruquei.

Mickey riu, pegando uma garrafa d’água e oferecendo para mim.

— Ele só fica com essa intensidade toda para impressionar alguém. Aposto que tem uma garota no meio disso.

Ignorei o comentário, mas foi impossível não pensar na nossa última sessão de estudos. Evelyn era exatamente o tipo de pessoa que eu evitava. Patricinha, sem paciência, sem foco. Claro, sua beleza era evidente, mas eu sabia que o exterior era uma casca frágil para esconder… o quê? Não sabia. E talvez nem quisesse saber.

No entanto, por mais que eu tentasse ignorar, havia algo intrigante nela. Toda vez que ela demonstrava um pouco de curiosidade em física, por mais superficial que fosse, minha irritação diminuía um pouco. Mas ainda assim, nossa dinâmica era complexa e forçada. Tínhamos uma conexão? Provavelmente, mas era mais uma conexão de antipatia mútua do que qualquer outra coisa.

— E então, Viktor, essa sua "aluna" vai aprender física ou só vai te dar mais trabalho? — John perguntou, com um tom provocativo.

— Ela não é exatamente a aluna mais fácil do mundo. Tem dias que nem sei se ela quer aprender de verdade ou só me fazer perder tempo — respondi, tentando manter um tom neutro.

Corações GeladosOnde histórias criam vida. Descubra agora