A atmosfera estava eletrizante. O desafio de hóquei universitário era um dos eventos mais esperados da temporada, e a tensão no ar podia ser sentida a quilômetros de distância. Eu estava aquecendo com os outros jogadores no vestiário, verificando meu equipamento e ajustando meu capacete quando ouvi risos e murmúrios vindos do corredor. Me virei, curioso, e foi aí que a vi.
Evelyn estava ali, no corredor que levava à arquibancada, usando a camisa do nosso time. Não só isso, mas também a minha camisa, com o meu número e o meu nome nas costas. Era um ato de provocação, como se ela quisesse me desafiar. A visão dela naquela camisa fez meu coração acelerar e a adrenalina subir de forma ainda mais intensa do que o normal.
Ela lançou um sorriso de canto ao perceber que eu a observava, como se soubesse exatamente o efeito que estava causando em mim. Aquilo mexeu comigo, e era quase impossível disfarçar a mistura de orgulho e uma admiração genuína que senti. Era como se, por mais que tentássemos manter as provocações, houvesse uma admissão silenciosa de que havia algo a mais entre nós.
— Vejo que você veio preparada para me apoiar — provoco, tentando soar casual, mas minha voz carregava uma pitada de satisfação que eu não conseguia esconder.
Ela sorriu, inclinando a cabeça e cruzando os braços, como se estivesse avaliando minha reação.
— Claro, alguém tem que garantir que você jogue bem hoje, Viktor. Não quero ser associada a um perdedor, — respondeu ela, com uma leveza provocativa.
Eu soltei uma risada, balançando a cabeça. Evelyn sabia exatamente como mexer comigo, e essa confiança dela só me fazia querer provar para ela – e para mim mesmo – que eu poderia ser o melhor em qualquer situação. O jogo de hoje não seria apenas para vencer o time adversário; seria também para impressioná-la, mesmo que eu não admitisse isso em voz alta.
No gelo, a temperatura parecia despencar ainda mais com a expectativa do público. Os gritos e aplausos da torcida reverberavam no estádio, e a energia era contagiante. Nossos rivais estavam preparados, cada um deles com olhares determinados, e eu sabia que não seria um jogo fácil. Evelyn ainda estava ali, à beira do gelo, me observando com uma intensidade que eu sentia até do outro lado da pista.
O apito inicial soou, e o jogo começou. A disputa foi feroz desde o primeiro segundo. O disco se movia rapidamente de um lado para o outro, e nossos adversários estavam determinados a nos derrubar. Minhas luvas pareciam grudar no taco enquanto eu fazia jogadas, movendo-me pelo gelo com precisão calculada. A pressão estava em cada movimento, e cada passe, cada interceptação, era uma batalha para manter o controle.
Evelyn, com a camisa do time e a minha, era o lembrete constante de que eu tinha algo a provar. A cada vez que eu olhava na direção dela e via seu olhar fixo, sentia uma faísca a mais para continuar lutando. Em um momento crítico, o atacante adversário avançou em direção ao gol, tentando me driblar. Ele era rápido, e seus movimentos eram quase imprevisíveis. Mas eu estava preparado, focado. Antecipei sua jogada, deslizei na direção certa e, com um movimento ágil, bloqueei o disco, afastando-o para longe.
— Isso aí, Viktor! — ouvi o grito de Evelyn, misturado ao clamor da torcida.
Minha confiança aumentou, e eu me sentia mais motivado a cada minuto. O jogo foi acirrado, e a cada ponto marcado, a tensão só aumentava. O placar estava apertado, e nenhum dos dois times parecia disposto a ceder. Nossos oponentes pressionavam, e a quadra se tornava um campo de batalha, com empurrões e golpes sutis entre os jogadores.
Durante o segundo tempo, houve um momento em que consegui pegar o disco, deslizando pelo gelo e ultrapassando dois defensores. Um deles tentou me interceptar, mas com um giro rápido, consegui escapar, aproximando-me do gol. Era o momento perfeito. O goleiro adversário avançou, tentando prever meu movimento, mas fiz uma finta e, com um golpe preciso, enviei o disco direto para o canto inferior do gol.
A torcida explodiu em gritos, e minha visão rapidamente se voltou para Evelyn. Ela estava vibrando, seu rosto iluminado por um sorriso que, sem querer, eu desejava guardar na memória. A cada vez que ela me olhava assim, sentia que, de alguma forma, estava quebrando as barreiras que eu mesmo havia construído. Ela era minha rival e ao mesmo tempo meu apoio, e essa dualidade me deixava mais determinado do que nunca.
Mas o jogo estava longe de acabar, e a equipe adversária logo se recuperou, empatando o placar novamente. Os minutos finais foram intensos, cada movimento exigindo concentração total. O gelo parecia ainda mais escorregadio, e os gritos dos espectadores mal podiam ser ouvidos em meio à tensão.
Num último esforço, com o tempo quase acabando, nossa equipe conseguiu uma jogada em equipe, trabalhando em perfeita sincronia. O disco passou por mim, e eu sabia que aquele era o momento decisivo. Com um passe rápido, enviei o disco para nosso atacante, que se aproximava do gol adversário. E então, com um golpe certeiro, ele marcou.
O som ensurdecedor da torcida celebrando a vitória ecoou pelo estádio. Havíamos vencido.
Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego, mas a sensação de realização era indescritível. Me virei para a lateral e vi Evelyn, seus olhos fixos em mim, com uma expressão que misturava admiração e surpresa. Ela sabia o quanto esse jogo significava para mim, e aquele olhar, mesmo que breve, era a confirmação de que talvez, só talvez, eu estivesse realmente conquistando algo que ia além do gelo.
Os outros jogadores me abraçaram e comemoraram ao nosso redor, mas, por um momento, o tempo pareceu parar. Estava tudo ali – a euforia da vitória, o suor e a exaustão, e o olhar de Evelyn que parecia atravessar qualquer barreira entre nós.
Por mais que eu tentasse racionalizar, negar ou ignorar, havia uma certeza surgindo em mim: Evelyn estava se tornando mais do que apenas uma rival, mais do que alguém que eu queria impressionar. Ela era uma força que me empurrava a ser melhor, e talvez, sem perceber, eu já estivesse completamente envolvido.
Mas aquele era o momento de comemorar com o time, e Evelyn fazia parte disso. A vitória não era só minha, mas de todos que estavam ali, de todos que haviam acreditado que podíamos vencer. E enquanto a torcida gritava nosso nome, enquanto eu via o orgulho nos rostos dos meus amigos e colegas, uma ideia começou a surgir na minha mente.
Essa admiração silenciosa que eu sentia por Evelyn talvez precisasse ser dita em palavras. Mas, por agora, a comemoração seria a nossa linguagem, e o momento era de todos nós, juntos, comemorando a vitória que tínhamos conquistado no gelo.
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Corações Gelados
FanfikceEvelyn Bianchi, uma estudante italiana de moda, sempre viveu no luxo, com o mundo a seus pés. Mas, por trás da imagem de patricinha está uma garota determinada a desafiar as expectativas de todos ao seu redor. Quando suas notas em física ameaçam seu...