24 | eu vou te beijar

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Eu não sabia como tinha aceitado mais uma aula particular com Viktor

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Eu não sabia como tinha aceitado mais uma aula particular com Viktor. Ou talvez eu soubesse e só não queria admitir o motivo. Estar perto dele tinha se tornado uma espécie de vício, e, mesmo sabendo que isso não ajudava em nada a minha concentração, lá estava eu, de novo, sentada ao lado dele, fingindo prestar atenção nos conceitos de química que ele explicava com tanta calma.

— Certo, então vamos revisar essa última parte. — Viktor olhou para mim, com aquele ar focado e profissional que ele sempre mantinha durante as aulas.

Assenti, tentando me concentrar, mas assim que comecei a acompanhar as palavras dele, fui pega por algo muito mais intrigante: o jeito como ele gesticulava enquanto falava, os olhos azuis brilhando sob a luz do quarto, a forma como seus lábios se moviam devagar, enunciando cada palavra com precisão. De repente, eu estava encarando ele e não o material de estudo.

Ele me olhou de relance, e senti minhas bochechas corarem instantaneamente. A cada segundo que passava, eu me sentia mais perdida, incapaz de focar em qualquer coisa que ele dissesse. Quanto mais eu tentava me concentrar, mais ele me distraía.

— Evelyn? — ele perguntou, chamando minha atenção.

— Oi, desculpa, pode repetir? — balbuciei, fingindo que estava prestando atenção.

Ele suspirou, sorrindo de canto, e então se aproximou um pouco mais, observando-me com um olhar quase desafiador.

— Você não está prestando atenção de novo, está? — disse ele, num tom provocador.

Engoli em seco e balancei a cabeça, tentando disfarçar. Ele ergueu uma sobrancelha e se aproximou ainda mais. Seu rosto estava a poucos centímetros do meu, e o ar parecia ter ficado pesado entre nós.

— Se você não parar de me encarar assim... — Ele fez uma pausa, e o tom de voz baixou, se tornando quase um sussurro. — Eu vou te beijar.

Meu coração quase parou. As palavras dele ecoaram na minha mente, e meu rosto queimou com uma mistura de surpresa e expectativa. Tentei desviar o olhar, mas era tarde demais. Eu estava completamente hipnotizada por ele.

Nossos olhares permaneceram fixos, e, por alguns segundos, parecia que o tempo havia parado. Eu sabia que deveria recuar, voltar a focar na aula, mas como conseguiria depois de ouvir aquilo? A tensão entre nós era palpável, e eu sentia meu coração batendo mais forte a cada segundo.

— Então... vamos... continuar? — gaguejei, tentando quebrar o silêncio, embora minha voz quase falhasse.

Ele sorriu, como se entendesse exatamente o efeito que estava causando em mim.

— Claro, Evelyn. Podemos continuar — ele respondeu, mas o tom de voz dele estava longe de ser sério. Havia algo mais ali, algo que ele parecia gostar de provocar em mim.

Ele voltou a explicar o conteúdo, mas, a essa altura, era impossível me concentrar. A única coisa que eu conseguia pensar era na proximidade entre nós, no modo como ele me olhava com uma intensidade que quase me fazia perder o fôlego.

Tentei voltar a prestar atenção, repetindo mentalmente os conceitos enquanto ele falava. “Foco, Evelyn, foco!” mas eu já estava perdida novamente. A cada frase que ele dizia, minha mente vagava de volta para aquele momento, para as palavras dele, para a possibilidade de um beijo.

Ele percebeu minha inquietação e riu baixinho, com um ar divertido.

— Quer um tempo para respirar? — perguntou, meio provocador, meio preocupado.

Balancei a cabeça, tentando me recompor.

— Não, eu consigo. Vamos continuar.

Ele assentiu, mas percebi que ele se inclinou um pouco mais para perto. Suas mãos estavam a poucos centímetros das minhas sobre a mesa, e era como se uma corrente elétrica passasse entre nós. Eu sentia minha pele arrepiar com cada movimento que ele fazia, e, por mais que tentasse, era impossível ignorar o efeito que ele tinha em mim.

Ele parou de falar, apenas me observando, e eu sabia que ele estava esperando uma resposta ou um sinal. Mas o que eu podia dizer? Que estava completamente atraída por ele? Que me perdia toda vez que ele olhava para mim daquele jeito?

— O que foi? — perguntei, quase num sussurro, incapaz de desviar o olhar.

Ele sorriu, aquele sorriso de canto que eu já conhecia tão bem, mas que ainda assim sempre me pegava de surpresa.

— Sabe, Evelyn, eu realmente gosto de te ajudar com os estudos... — ele começou, mas havia uma pitada de provocação em sua voz. — Mas você não facilita.

Meu coração deu um salto, e tentei fingir que estava calma, mas era inútil. A proximidade, o olhar intenso... Tudo parecia conspirar contra qualquer resquício de autocontrole.

— O que quer dizer com isso? — perguntei, embora soubesse exatamente o que ele queria dizer.

Ele riu, e aquela foi a última gota. Num movimento impulsivo, virei o rosto para encará-lo diretamente. Estávamos a uma distância mínima, e era como se tudo ao redor tivesse desaparecido. Era apenas eu e ele, numa espécie de bolha onde o tempo e o espaço não tinham importância.

Sem pensar duas vezes, ele se inclinou ainda mais e, por um breve segundo, tive a sensação de que ele iria me beijar. O coração disparou, e me peguei desejando que ele fizesse isso, que ignorasse qualquer desculpa ou razão.

Mas então, ele parou, a poucos centímetros de mim. O sorriso voltou aos seus lábios, e ele apenas disse:

— Acredito que agora você esteja prestando atenção.

Eu o encarei, surpresa, e senti um misto de frustração e alívio. Ele estava brincando comigo, mas de uma maneira que me fazia querer mais. E naquele instante, percebi que ele sabia exatamente o que estava fazendo, que tudo isso fazia parte de um jogo silencioso entre nós.

Ele voltou a se afastar, retomando a explicação como se nada tivesse acontecido, e eu tentei ao máximo focar na matéria. Mas, agora, cada palavra dele parecia carregada de um duplo sentido, e a cada vez que ele olhava para mim, eu sentia que estava caindo ainda mais fundo.

No fim da aula, eu sabia que não tinha absorvido quase nada do conteúdo. Ele percebeu minha expressão e riu, como se soubesse exatamente o motivo da minha distração.

— Acho que você precisa de mais uma aula, Evelyn. Parece que não conseguimos revisar tudo hoje.

Eu sorri, tentando manter a compostura.

— Talvez seja você quem está me distraindo demais — retruquei, em tom de brincadeira.

Ele ergueu uma sobrancelha, surpreso com a resposta, mas o sorriso dele se alargou.

— Quem sabe? Talvez eu esteja mesmo.

Enquanto ele guardava suas coisas, me senti dividida entre a frustração de não conseguir focar e a excitação de estar tão próxima dele. A aula pode ter sido um desastre em termos de aprendizado, mas em algum lugar dentro de mim, eu sabia que aquele tempo com ele valia cada segundo. E, mesmo sem admitir em voz alta, já estava ansiosa pela próxima aula com Viktor — e pelo que poderia acontecer além dos estudos.

Corações GeladosOnde histórias criam vida. Descubra agora