━━━━━━ (𝑡𝑤𝑒𝑛𝑡𝑦-𝑓𝑖𝑣𝑒)

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Ivy caminhava pelos corredores pouco iluminados de 12 Grimmauld Place, os ecos de seus passos se dissipando nas paredes envelhecidas. Ela havia percorrido todo o lugar, movendo-se de sala em sala, até chegar ao terceiro andar. Ao passar pela porta marcada com as iniciais "R.A.B.", Ivy percebeu que cada quarto tinha as iniciais de um membro da família.

Continuando pelo corredor, chegou a uma porta fechada adornada com as iniciais "S.O.B.", que se referiam a Sirius Orion Black.

Com uma leve batida, Ivy esperou por uma resposta, mas a sala permaneceu em silêncio. Empurrando a porta, que rangeu ao se abrir, ela espiou para dentro, seu coração afundando ao ver a cena diante dela. Harry estava sentado na cama de seu padrinho. De costas para ela, olhava pela janela.

- Harry? - sua voz era suave enquanto abria a porta um pouco mais, esperando que ele lhe desse um sinal para sair. Mas ele não fez nada. Harry apenas lançou um olhar por cima do ombro antes de voltar a olhar para fora.

Ivy fechou a porta cuidadosamente atrás de si e se moveu lentamente ao redor da cama, parando na sua extremidade, não muito longe de onde Harry estava. Ela viu que ele segurava a foto da Ordem da Fênix original. O retrato estava dobrado de modo que o lado voltado para seu rosto mostrava seus pais, Lily e James Potter, ao lado de um Sirius mais jovem.

Ivy avançou para ficar mais à frente dele. Ao fazê-lo, obteve uma visão melhor de seu rosto. Os olhos de Harry estavam levemente vermelhos, e sua expressão estava marcada pela dor.

- Harry? - chamou suavemente, na esperança de alcançá-lo. Mas, quando ele não respondeu, decidiu se afastar, dando-lhe espaço.

Foi o puxão em seu pulso que a fez parar. O aperto dele era firme, quase desesperado, embora seu olhar permanecesse distante. Ela se ajoelhou na frente dele na cama, pretendendo segurar sua mão gentilmente, mas seu aperto se intensificou da parte de Harry, como se ele tivesse medo de que ela fosse desaparecer.

- Não vá embora. - ele sussurrou, a voz rouca.

- Eu não...

- Não vá embora. - Seu olhar finalmente encontrou o dela, algumas lágrimas escorrendo por suas bochechas. Ivy franziu a testa e, com um gesto suave, enxugou as lágrimas dele, balançando a cabeça.

- Eu não vou.

Ivy se sentou ao lado de Harry, afastando o cabelo bagunçado de seu rosto. Não levou mais de dois segundos para que Harry finalmente desabasse. Ele envolveu seus braços ao redor da cintura de Ivy, pegando-a de surpresa ao puxá-la para perto. Levou um segundo, mas, lentamente, Ivy envolveu os braços ao redor da cabeça de Harry, segurando-o com cuidado. Ela podia sentir a leve tremulação de seus ombros.

- Está tudo bem, eu não vou embora. - Ivy o lembrou, a voz suave enquanto acariciava seu cabelo negro.

Ela se afastou um pouco, mas os braços de Harry permaneceram apertados ao redor de sua cintura. Ela olhou para baixo, segurando o rosto dele com as mãos.

Ele não usava os óculos; eles estavam na mesa de cabeceira de Sirius, o que significava que ele não podia vê-la muito bem. Mas ele conseguia distinguir seu rosto enquanto ela olhava para ele. Ivy passou o polegar ao longo da bochecha dele, traçando levemente a cicatriz em forma de raio em sua testa antes de abraçá-lo novamente. Permaneceram assim, Harry permitindo que suas lágrimas caíssem enquanto o abraçava, encontrando conforto na presença dela. Ela sussurrou palavras tranquilizadoras, acariciando sua cabeça, seu toque suave e gentil.

Depois de algum tempo, Ivy viu a porta se abrir. Harry não ouviu quando ela rangeu. À medida que a porta se abria completamente, revelou Ron, Ginny, Fred e George em pé ali. Todos estavam quietos enquanto olhavam para os dois. Ron fez um movimento com os lábios, o que fez Ivy mover a mão para indicar que eles deveriam ficar em silêncio. George sinalizou que era hora de ir, enquanto Ivy acenava para os quatro saírem e fecharem a porta. Eles assentiram e fizeram o que ela desejava, escorregando silenciosamente para fora e fechando a porta gentilmente atrás deles.

Ivy permaneceu ali com Harry, sem se importar com quanto tempo passava. Ela apenas queria que o garoto se sentisse melhor. Continuou a segurá-lo, sussurrando palavras reconfortantes e acariciando seu cabelo, oferecendo o conforto e a presença que ele tanto precisava. À medida que os minutos se transformavam em horas, a sala se tornava mais escura com o pôr do sol, mas Ivy permaneceu ao lado de Harry.

1995

Ivy desejava que estivesse chovendo. Queria que o tempo estivesse horrível, que houvesse um céu nublado, algo que refletisse como se sentia por dentro.

Mas não estava. Era um dia bonito lá fora. Não muito nublado, nem muito frio, apenas certo.

Um dia horrível para um clima tão agradável.

Fileiras de pessoas, conhecidas e não, formavam uma fila para prestar suas homenagens. Os pais de Cedric, Amos e Maria Diggory, estavam inconsoláveis. Eles se agarravam um ao outro, seus soluços sendo o único som que cortava o pesado silêncio.

Ivy estava ao lado do caixão de seu irmão, seu rosto uma máscara de anestesia. Ela cumprimentava cada um dos presentes com um sorriso forçado. Por dentro, sentia-se vazia. Seus olhos estavam secos, em um contraste gritante com as lágrimas constantes de seus pais.

- Obrigada por virem. - repetiu pela centésima vez, a voz firme apesar do turbilhão interno. Uma sequência constante de pessoas se aproximava, oferecendo condolências e compartilhando histórias sobre Cedric. Ivy assentia e escutava, mas era como se estivesse observando à distância, desconectada da realidade da situação.

Ela lembrava do momento em que viu o corpo sem vida de seu irmão. O choque a havia anestesiado então, e ainda não havia se dissipado. Cedric, seu confidente e protetor, se fora, deixando um vazio que nada poderia preencher. Ela permanecia ao lado do caixão, uma sentinela silenciosa, seu coração congelado em um estado perpétuo de descrença.

A cerimônia prosseguiu com discursos e elogios, mas Ivy não ouviu nada. Seu olhar estava fixo no caixão, sua mente replays as memórias de Cedric: seu riso, seu sorriso, a maneira como ele sempre estivera ali por ela. Parecia surreal, como um terrível pesadelo do qual não conseguia acordar.

À medida que o dia avançava, Ivy continuava a agradecer a todos, sua voz um eco monótono. Abraçava estranhos e amigos, sentindo o vazio em seu peito crescer a cada momento que passava. O mundo ao seu redor era um borrão de roupas pretas, rostos manchados de lágrimas e sussurros de condolências.

Quando o sol se pôs, e os últimos raios de sol mergulharam abaixo do horizonte, lançando longas sombras sobre o cemitério, Ivy permaneceu enraizada no mesmo lugar, seu olhar fixo na sepultura do irmão. Todos haviam partido agora, seus pais tinham sido gentilmente guiados por amigos próximos, seus soluços ainda ecoando nos ouvidos de Ivy. Mas ela não conseguia se trazer a deixar o local.

Perdida em seus pensamentos, foi surpreendida pelo som de passos se aproximando sobre o cascalho atrás dela. Virou-se, meio esperando por outro enlutado que havia se demorado demais. Em vez disso, viu Jake.

- Oi. - Jake disse suavemente, dando alguns passos cautelosos à frente. - Só queria ver como você estava.

- Eu estou... não sei. - ela respondeu, a voz mal saindo em um sussurro. - Eu fico pensando que vou acordar e isso tudo será um pesadelo horrível.

- Imagino. Mesmo que eu não o conhecesse muito bem. Cedric era... ele era o melhor de nós. - Ivy olhou de volta para o túmulo, o nó em sua garganta crescendo.

- Só não consigo entender porque tinha que ser ele. Por que ele teve que morrer.

Jake se aproximou, colocando suavemente a mão em seu ombro.

- Nada disso faz sentido. É injusto, e dói pra caramba. Mas seu irmão... ele não gostaria que você ficasse sozinha nisso. Ele gostaria que você se apoiasse nas pessoas que se importam com você.

- Eu não sei como fazer isso sem ele, Jake. Não sei como seguir em frente. - Jake a puxou para um abraço apertado, segurando-a enquanto ela soluçava em seu ombro.

- Você não precisa fazer isso sozinha, Ivy. Todos nós estamos aqui por você. Eu estou aqui por você.

Pela primeira vez naquele dia, Ivy se permitiu realmente sentir o peso de sua dor. Cercada pelo silêncio do cemitério e pela presença reconfortante de Jake, ela deixou as lágrimas fluírem, lamentando seu irmão de uma forma que não conseguia antes.

Daylight ࿐ Harry PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora