Controle Celular

Capítulo 8. Amigos de todas as horas

No final da reunião, ao saírem para o jardim da congregação, Saulo e Lucas sentiram o peso dos olhares. Ali, os irmãos mais velhos discutiam sobre religião e política, em um círculo de gestos sérios e cabeças baixas; as mulheres conversavam sobre a rotina doméstica e os filhos, enquanto algumas crianças corriam e riam ao redor. Os jovens, por sua vez, conversavam em grupos espalhados pelo gramado, mas todos lançavam olhares e cochichavam sobre o recente chamado de Saulo. Era como se a notícia tivesse se espalhado pelo ar, e ele sentia-se cada vez mais desconfortável.

Com um suspiro, ele se virou para Lucas, seu melhor amigo.

— Vamos caminhar um pouco, Lucas. Preciso de um ar.

Lucas, percebendo o desconforto do amigo, concordou prontamente:

— Claro, meu amigo. Hoje o clima está pesado por aqui, você virou uma verdadeira celebridade. Mas, honestamente, parece que você está indo para uma jaula de leões, ou pior, uma fornalha. Deus me livre dessa gente que só gosta de fofocar. Vamos dar uma volta no parque.

Assim que os dois começaram a se afastar, seus amigos perceberam e foram atrás.

— Ei, vocês dois! Onde pensam que vão? — disse Sara, a ruiva do grupo, cujas sardas brilhavam sob o sol. Ela sorria, com um toque de travessura no olhar.

— Sim, vocês sempre escapam juntos! Estão indo para algum lugar especial? E nem nos chamam — completou Mateus, o jovem alto de pele morena e cabelos curtos em corte militar. Ao seu lado, Miriam, sua namorada, concordou.

— Vamos todos à Praça dos Anjos! — sugeriu Miriam, empolgada. — Que tal irmos à sorveteria? Está muito calor hoje, a igreja parecia um forno!

Os gêmeos João e Maria, os caçulas do grupo, se aproximaram e logo se animaram com a ideia.

— Ótima ideia! — disse Maria, olhando para Saulo e os outros. — Desde que o Mateus pague nosso sorvete, né?

— É mesmo, riquinho do grupo — brincou João, com seu jeito descontraído, os fones de ouvido pendurados no pescoço e um sorriso cínico no rosto.

Mateus riu, balançando a cabeça.

— Tá bom, vamos lá, só dessa vez. Mas na próxima é a sua vez, Japa! — disse ele, dando um tapa leve na cabeça de João e bagunçando seu cabelo liso.

Enquanto riam, Sara se aproximou de Saulo, notando seu silêncio.

— E você, Saulo? Hoje está mais calado do que o normal. Está tudo bem?

Ele suspirou, olhando para os amigos ao redor, ainda com o peso das expectativas do ministério sobre ele. Por um instante, tentou encontrar as palavras certas, mas, ao ver os rostos de cada um, tão cheios de entusiasmo e sem preocupações, esboçou um leve sorriso.

— Sim, está tudo bem, Sara. Acho que só preciso de um pouco de tempo para processar tudo.