Capítulo 19. Resistência e Sobrevivência

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    Depois de uma noite de jantares agitados e merecido descanso, os competidores despertaram com os primeiros raios de sol, ao som de uma voz metálica e impessoal que cortava a quietude da manhã, ecoando pelos alojamentos. Sua frieza calculada ressoava, quebrando o silêncio de forma implacável.

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“Atenção, competidores. Bem-vindos ao segundo dia da Competição NAVIM. O desafio de hoje é uma prova de batalha e resistência.
Testaremos suas habilidades físicas, mentais e emocionais em um ambiente imprevisível. Preparem-se, pois apenas os mais fortes avançarão. Boa sorte.”

Nos alojamentos, a escuridão começava a ceder à luz fria dos painéis de metal. O ambiente era implacável e impessoal: paredes sem adornos, uma cama de metal fria e um armário embutido eram os únicos itens presentes. Um terminal holográfico piscava, fornecendo as últimas instruções de forma indiferente. O cheiro metálico e a sensação de ar gelado tornavam cada respiração mais pesada, mais densa, como se o próprio ar fosse uma ameaça silenciosa.

Com um suspiro coletivo, os competidores despertaram, cada um em sua solidão, refletindo um cenário em que a humanidade parecia ser uma memória distante. O silêncio prevaleceu enquanto as células se formavam, agrupando-se em unidades. Sem palavras, todos se dirigiram para o portal que os conduziria à arena. O piso metálico pulsava sob seus pés, reverberando com luzes estroboscópicas que cortavam a penumbra. Hologramas de obstáculos começaram a surgir ao redor, alterando o ambiente com uma rapidez assustadora.

A prova de sobrevivência e resistência estava prestes a começar.

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O cenário transformou-se como uma alucinação. Árvores digitais, com troncos de aparência fluida, pulsavam com uma energia azulada, e o solo metálico se cobria de uma grama irreal, suave e inconstante, que parecia mudar de textura a cada passo. O ar estava denso com o cheiro de eletricidade estática e um frio cortante, o ambiente mutável gerava uma sensação de desorientação. Mas no centro da arena, uma figura monstruosa surgiu, lançando uma sombra pesada sobre o cenário onírico.

Aracne, o Guardião da Arena, se ergueu diante dos competidores com um rugido metálico que fez o chão tremer. Metade robô, metade aranha colossal, ela possuía garras afiadas que reluziam como lâminas de aço e tentáculos energizados que cortavam o ar com um zumbido letal. Sua presença era esmagadora.

A voz do narrador ecoou, transformando o medo em uma certeza fria:
“Bem-vindos ao campo de resistência. Seu objetivo é sobreviver às armadilhas, escapar do Guardião Aracne e, se possível, derrotá-lo. Lembrem-se: as armaduras estão conectadas aos nanobots da NAVIM, garantindo uma experiência completa de realidade aumentada. As emoções e os ferimentos são simulados, mas seus corpos sentirão como se fossem reais. Adaptem-se ou pereçam.”

A tensão explodiu como um estalo, e o caos tomou conta da arena. Armadilhas de alta tecnologia foram ativadas instantaneamente: flechas holográficas cortavam o ar com precisão mortal, fossos apareciam como fendas no solo, e grades de energia pulsavam com uma luz ameaçadora, selando passagens e prendendo os competidores.

As células lutavam para sobreviver, movendo-se com pressa e cautela, os corações batendo forte em seus peitos. O medo não estava apenas na mente, mas na pele, que formigava com a pressão da incerteza.

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O Enfrentamento Imminente

Saulo, líder nato do grupo dos Conservadores, se destacava pela calma em meio ao furor. Seus olhos estavam fixos nos movimentos de Aracne, antecipando suas investidas com a precisão de um veterano. Quando um tentáculo da criatura quase arremessou Marcos, dos Liberais, para um destino fatal, Saulo reagiu com uma agilidade impressionante, saltando à frente e puxando Marcos para um local seguro. O impacto de sua ação foi imediato, mas Marcos, com os olhos dilatados de raiva, empurrou-o afastado.

“Eu não preciso da sua ajuda!” Marcos gritou, o som cortante como uma lâmina. Mas Saulo, sem olhar para ele, apenas continuou a luta, desviando habilidosamente de uma chuva de raios laser que cortavam o ar com um zumbido inquietante.

Jônatas, do grupo dos Capitalistas, avançava como um titã determinado. Empunhava um bastão improvisado um metal retirado dos escombros agora espalhados por toda arena, que ele usava o objeto para bloquear os tentáculos de Aracne, mas cada impacto reverberava nas articulações, e os tentáculos pareciam se regenerar, reconstituindo-se com uma rapidez sobrenatural.

Victor, do grupo dos Sagrados, uniu-se ao ataque com sua espada reluzente, cortando o ar com precisão. Contudo, o poder do Guardião era demais. Ambos recuaram quando um campo de energia, detonando com uma explosão ensurdecedora, envolveu Aracne, forçando-os a se afastarem.

Débora, do time dos comuns, e Rose, dos Laicos, formavam uma aliança improvável e provisória, mas eficaz. Juntas, usaram a astúcia para criar armadilhas que dificultaram os movimentos de Aracne. A criatura rugiu, fúria pura, mas o atraso foi apenas momentâneo. Cada avanço de Aracne, mais furioso e determinado, parecia ressoar como um trovão, quebrando o equilíbrio da arena.

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A Última Esperança

Com o número de competidores diminuindo e sendo eliminados da simulação a cada instante, a tensão crescia como uma onda prestes a se partir. Os sobreviventes, exaustos e feridos, começaram a entender o segredo para enfraquecer Aracne: atacar os núcleos brilhantes localizados nas patas mecânicas da criatura. Por fim, após um esforço conjunto e muitas tentativas fracassadas, conseguiram desativar parte das defesas da aranha mecânica, mas a vitória ainda estava longe.

Foi quando o narrador interveio, sua voz ainda impassível:
“Atenção, competidores. As armaduras CAMUY foram atualizadas. Vocês agora têm acesso a habilidades especiais e armas exclusivas. Usem-nas sabiamente.”

Rose, com o coração acelerado, adaptou um arco holográfico com precisão quase sobrenatural. O projétil disparado cortou o ar com a velocidade de um relâmpago, atravessando o núcleo central de Aracne, causando uma explosão de luz e energia. Saulo, agora armado com duas espadas curtas, movia-se com uma rapidez felina. Suas lâminas cortavam os tentáculos que ameaçavam seus companheiros, a cada golpe um fio de sangue metálico espirrava.

Jônatas, com o novo poder virtual disponível, transfomou o bastão improvisado que usava em uma imponente clava, e a usou para desferir o golpe final, atingindo o cérebro mecânico da criatura. O som do impacto foi surdo, mas a destruição foi total.

Com um rugido final, Aracne explodiu em uma chuva de hologramas e partículas de energia, preenchendo a arena com uma luz cegante e uma onda de calor artificial. O robô narrador declarou com uma frieza cortante:
“Parabéns, competidores. Vocês completaram a prova de resistência. Os sobreviventes demonstraram habilidade, estratégia e coragem. Preparem-se para a próxima etapa.”

Enquanto a última fumaça de energia se dissipava, os competidores, exaustos e cobertos de suor virtual, se entreolhavam. Embora tivessem vencido a batalha, a incerteza do que viria a seguir se tornava cada vez mais pesada, como uma sombra prestes a cair sobre eles.

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