Capítulo 15. O Primeiro impacto

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Com um zumbido mecânico, V.A.L.O.R. deslizou para o centro da arena. Seus olhos artificiais, frios e penetrantes, acenderam-se com um brilho inquietante enquanto seus braços se erguiam em um gesto quase teatral, que, por um instante, beirava a humanidade. Sua voz ressoou pelo campo, reverberando pelas arquibancadas, anunciando o início do evento.

De um lado, os Conservadores, liderados por Saulo, com rostos sombrios e olhares rígidos. Do outro, os Liberais, sob o comando de Marco, seus gestos cheios de confiança e olhos firmes. Em volta deles, outras facções dividiam-se em zonas de ataque e defesa, segurando suas danjous – bolas ovais que representavam mais do que simples objetos; eram os símbolos de suas ideologias, as convicções que definiriam seus destinos.

O campo de batalha se estendia como um labirinto traiçoeiro. Altos obstáculos e terrenos irregulares erguiam-se diante dos competidores, testando sua agilidade e resistência em cada centímetro. Saulo, com a danjou conservadora presa com firmeza entre as mãos, avançava com o rosto tenso, a mandíbula cerrada, movendo-se com a obstinação de quem acredita estar carregando o peso de toda uma tradição. Ao seu redor, seus companheiros o protegiam com devoção silenciosa, cada um pronto para sacrificar-se em nome de um ideal que julgavam eterno.

Do lado oposto, Marco observava com olhos aguçados, como se cada detalhe, cada movimento de Saulo, fosse um quebra-cabeça a ser resolvido. Seu rosto não mostrava emoções desnecessárias; era um estrategista nato, moldado pela precisão de um líder que vê cada jogada como um manifesto. Quando indicou aos batedores que avançassem, não precisou falar; bastou um aceno contido, calculado. Para Marco, essa partida era uma prova de conceito, uma chance de demonstrar que suas ideias eram mais que palavras. Cada avanço era um argumento, cada jogada uma afirmação de liberdade.

Os olhares de Saulo e Marco se encontraram, intensos, carregando uma rivalidade que ia além do campo. Era um choque silencioso entre duas almas obstinadas, cada uma desejando provar que seu ideal era o mais verdadeiro. Marco, com um sorriso sarcástico, se aproximou o suficiente para murmurar, a voz cheia de sarcasmo, enquanto os times se preparavam para o confronto direto.

— Vai desistir, "irmão"? — ele provocou, em tom calculadamente despreocupado. — Sua tradição não passa de uma relíquia. O mundo mudou, e só quem se adapta tem lugar nele.

Saulo desviou de um golpe, recuando alguns passos, mas sua expressão permanecia inabalável. Ele ergueu o olhar, com a tranquilidade de quem tem raízes profundas, e respondeu com firmeza:

— Liberdade sem valores é um abismo, amigo. Vocês querem reconstruir o mundo sobre uma base volátil. É isso que os torna vulneráveis.

Os primeiros golpes foram trocados, os corpos se chocando com força no centro da arena. Os telões ao redor capturavam cada detalhe do embate, transmitindo-o para os distritos, onde grupos de espectadores discutiam acaloradamente, defendendo seus representantes como se suas próprias crenças estivessem em jogo.

No setor dos Conservadores, o bispo Barnabé assistia ao avanço de Saulo com olhos de aprovação. Ao redor dele, conselheiros murmuravam palavras de apoio, inclinando a cabeça em respeito.

— Ele honra nossos valores — comentou o bispo, em um tom de admiração solene, recebendo acenos de concordância.

Do lado dos Liberais, o ambiente era de entusiasmo calculado. Pequenos grupos discutiam a estratégia de Marco, admirando sua habilidade de controlar o campo, sua adaptabilidade diante do imprevisível. Era uma batalha que ultrapassava o físico; era uma luta ideológica, onde cada um defendia com fervor aquilo em que acreditava.

Mais distante, Victor, o líder dos Sagrados, avançava com uma precisão quase fria, a danjou de sua equipe firmemente segura. Suas mãos, rápidas e experientes, ativavam dispositivos que criavam labirintos tridimensionais, exibindo o avanço tecnológico dos Sagrados e sua crença de que o progresso era o verdadeiro caminho para a iluminação.

— A ciência é nossa força e nosso guia — ele murmurou, enquanto seus seguidores o observavam com reverência. Para ele, cada movimento era uma demonstração de superioridade intelectual.

Do outro lado, Rose, dos Laicos, observava Victor com olhos afiados, o rosto marcado por uma expressão de desprezo e desafio. Para ela, a fé era a essência que os seres humanos não podiam descartar sem perder-se.

— Ciência sem espiritualidade é uma máscara vazia — sussurrou Rose para seu grupo. Ela sentia a fé como uma chama viva, algo que transcendia qualquer explicação racional.

Victor a ouviu, sorrindo com ironia, e respondeu sem hesitar:

— Quantos mais serão sacrificados por suas ilusões, "pagã"? A verdade está nas mãos de quem domina o saber.

Rose o encarou, seus olhos brilhando com uma convicção que Victor não conseguia abalar.

— A fé sustenta onde a razão falha. É isso que vocês não compreendem, e é por isso que nunca encontrarão a paz que procuram.

Enquanto isso, Jônatas, líder dos Capitalistas, se movia com astúcia, seus olhos percorrendo o campo em busca de cada pequena oportunidade. Para ele, o jogo era uma representação de meritocracia; um campo onde apenas o melhor sobreviveria.

— Cada brecha é um investimento potencial — ele murmurou, sem desviar os olhos do campo. Com precisão cirúrgica, orientava seus batedores, seus movimentos precisos e planejados.

Do outro lado, Débora, dos Comunistas, o observava com uma expressão de desdém. Ela via em Jônatas a personificação do egoísmo, alguém incapaz de compreender o valor da coletividade.

— O problema do seu mundo é o narcisismo — murmurou ela, suas palavras afiadas como lâminas. — Vocês acreditam em um mérito vazio, mas a verdadeira força está na união.

Jônatas apenas deu um sorriso cínico.

— União? Claro. Mas cada um com seu valor, "comuna". Alguns nascem para liderar; outros, para seguir.

À medida que o jogo se aproximava da fase final, os times lutavam com intensidade crescente, cada um buscando avançar suas danjous para o ponto decisivo. Saulo, com um último esforço, encontrou uma brecha na defesa dos Liberais e avançou. Ele usou toda sua força para esquivar-se dos ataques e, num último impulso, posicionou a danjou no local marcado.

A voz mecânica de V.A.L.O.R. ecoou pela arena:

— Vitória dos Conservadores!

A arena explodiu em aplausos e gritos de apoio. Saulo, ofegante e exausto, ergueu o punho em triunfo, lançando um olhar firme para Marco, que, em silêncio, mantinha o olhar frio e determinado. Saulo sabia que aquele era apenas o começo.

Logo depois, Victor e os Sagrados cruzaram o campo com eficiência, protegendo sua danjou. O segundo ponto foi garantido com destreza, e os Sagrados comemoraram, o ar de superioridade evidente em seus rostos, como se a vitória fosse uma inevitabilidade.

Por fim, Jônatas, com uma estratégia impecável, garantiu o ponto final para os Capitalistas. Ele olhou para Débora, seus lábios curvados em um sorriso calculado.

— O mérito sempre prevalece.

Débora virou o rosto, frustrada, mas seu olhar mantinha a chama da resistência.

V.A.L.O.R. anunciou o fim da rodada:

— As vitórias vão para Nova Roma, Nova Arcádia e Nova Israel! Parabéns aos vencedores!

Nos telões, a celebração de cada célula ressoava em aplausos e murmúrios. Para Saulo, Victor e Jônatas, essa vitória era apenas o início de uma longa jornada. Para Marco, Débora e Rose, a derrota era um lembrete de que precisavam se fortalecer. Sabiam que os próximos confrontos não testariam apenas a força física, mas suas crenças, suas convicções e os próprios espíritos.

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