Capítulo 22. Um mundo para cada um

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Na Célula dos Liberais

A recepção foi calorosa. Assim que Marcos desceu da nave, foi saudado por um grupo de amigos. Risadas, aplausos e conversas animadas ecoavam pelas ruas movimentadas. A Célula Liberal, sempre pulsante, era um centro de cultura, arte e inovação.

Sua irmã, Camila, correu ao seu encontro, abraçando-o com entusiasmo.
— Você foi demais, Marcos! Eu vi tudo! Você estava lá, derrotando aqueles obstáculos com a cabeça erguida!

Marcos sorriu, mas dentro de si sentia um vazio que nem os aplausos poderiam preencher. Seus amigos eram expansivos, cheios de otimismo, mas o fardo que ele carregava permanecia invisível para eles.

Ao chegar em casa, foi surpreendido por abraços calorosos dos pais.
— Gostou da surpresa, mano? — disse Camila, meio sem graça. — Eles insistiram para que eu não te contasse que estavam chegando de viagem.

— Sim! Sim, irmã, claro... — respondeu Marcos, desconcertado.

A presença inesperada dos pais o deixava desconfortável.

— Meu filho, nossa maior mente! — disse a mãe, orgulhosa. — Estamos todos muito orgulhosos.

Marcos fingiu um sorriso, mas algo o perturbava. Seu pai, um político liberal renomado e herói da Célula, havia lutado por direitos civis. O peso de seguir aquele legado pairava sobre ele como uma sombra constante.

— Às vezes, me pergunto se estou à altura disso tudo... — murmurou Marcos, quase inaudível.

— O que disse, filho? — perguntou o pai, levantando-se para pegar mais pratos enquanto a mãe colocava a mesa.

— Nada... Só estou pensando em tudo o que ainda está por vir.

Por mais que fosse um bom estrategista, Marcos temia fracassar e decepcionar aqueles que acreditavam nele.

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Na Célula da Opulência

A nave pousou suavemente em uma pista privada, cercada de arranha-céus luxuosos. Victor desceu, ajustando os óculos tecnológicos enquanto observava o familiar cenário de opulência. Apesar do brilho, a cidade parecia fria e impessoal.

Seu pai, um magnata do ramo imobiliário, esperava ao lado do carro, cercado por seguranças. Não houve abraço, nem sorriso. Apenas um aceno de cabeça, carregado de expectativas.

— O que conseguiu? — perguntou o pai, direto.

— Ainda estamos acumulando pontos, mas já tenho estratégias para as próximas fases — respondeu Victor, sempre pragmático.

— Bom. Lembre-se: não estamos nesse jogo por orgulho. Estamos aqui para vencer. Se falhar, será substituído.

A frieza era rotina para Victor. Crescera em um lar onde resultados importavam mais do que emoções. Ao entrar na cobertura, com paredes de vidro exibindo a metrópole abaixo, sentiu o vazio do luxo. Mesmo rodeado de tudo o que o dinheiro podia comprar, carregava a sensação de que nunca era suficiente.

Victor sabia que a tecnologia, embora fosse seu talento, era também um obstáculo entre ele e relacionamentos genuínos.

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Na Célula dos Capitalistas

Jonatas desceu da nave e seguiu para a mansão da família. A opulência era evidente: colunas brancas imponentes e jardins perfeitamente podados mostravam o padrão de sua vida.

Os pais estavam, como sempre, em uma festa. Ele mal os via. Crescera cercado de servos e tutores, treinado para ser um líder implacável. Na ausência de amor, encontrara consolo na força física.

No quarto, cercado de troféus esportivos e fotos de seus pais ausentes, Jonatas sentou-se na cama e encarou a solidão de sua infância. Fora preparado para vencer, não para sentir.

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Na Célula da Resistência

Débora chegou à sua Célula em meio ao caos habitual. Ruas sujas, prédios desgastados e o barulho incessante preenchiam o ar. Ela se misturava à multidão, como alguém acostumada a lutar para sobreviver.

Sua mãe esperava do lado de fora do pequeno apartamento.
— Filha! Você está de volta! — disse, sorrindo com alívio.

Débora a abraçou, sentindo o calor familiar em contraste com o ambiente frio e hostil. Ali, vencer os jogos era uma questão de sobrevivência.

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Na Célula Espiritual

A chegada de Rose foi marcada por cânticos e rituais. A espiritualidade permeava o ar, e ela foi recebida com uma cerimônia de purificação.

Os pagãos, devotos à natureza e aos antigos espíritos, viviam de forma humilde, mas profundamente conectados com o mundo espiritual.

Ao redor da fogueira, Rose refletiu sobre sua jornada. A perda da irmã mais nova, vítima da falta de recursos médicos, havia sido o catalisador de sua busca por cura e sabedoria.

Enquanto os anciãos cantavam, Rose pensava nos outros participantes dos jogos. Cada um trazia suas dores, crenças e traumas, moldando-os para o inevitável confronto.

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