Controle Celular

Capítulo 7. Uma manhã de domingo

Era domingo, o primeiro dia da semana, e Saulo despertava lentamente. A luz do sol já se insinuava por entre as frestas da janela, iluminando o quarto com um brilho suave e acolhedor, como se quisesse embalar a tranquilidade de seu dia de folga. Ele se espreguiçou, sentindo a maciez do cobertor, e ouviu o som alegre de passos leves no corredor: era Sofia, sua irmã mais nova, já acordada e animada.

Aos 9 anos, Sofia tinha uma energia que parecia infinita, especialmente nos domingos, quando ia à igreja com a família. Saulo sorriu ao ouvir a risada dela ecoando pela casa, e, sem pressa, levantou-se e escolheu uma camisa simples e calças confortáveis. Quando desceu as escadas, a cozinha já estava repleta dos aromas familiares de café e pão fresco, e sua mãe, com o habitual sorriso carinhoso, ofereceu-lhe uma xícara.

Sofia não parava de falar sobre suas expectativas para o dia, enquanto o pai os olhava com um ar divertido. Conversaram por alguns minutos sobre a semana que passou e, em seguida, se prepararam para a caminhada até a igreja. Os quatro saíram juntos, andando lado a lado, com Sofia saltitando ao lado de Saulo, animada e curiosa com o que veria no caminho.

A rua estava calma, envolta na luz suave da manhã, e as folhas das árvores dançavam ao vento. Chegando à igreja, Saulo sentiu a serenidade do lugar se intensificar. As vozes do coral começavam a ecoar, enchendo o espaço com um som acolhedor e reverente. Ele se sentou ao lado dos amigos do grupo, enquanto Sofia observava tudo com os olhos brilhando de curiosidade e fascínio.

Enquanto a cerimônia se desenrolava, Saulo olhou para sua família e sentiu-se profundamente grato por aquele momento simples, mas cheio de paz e harmonia. Era mais um domingo, mas, cercado de pessoas que amava, sentia que não poderia haver começo de semana melhor.

A reunião já havia começado. Saulo estava entre seus melhores amigos: Lucas, Sara, os gêmeos João e Maria, e o casal Mateus e Miriam, todos parte do coral de jovens. Após o louvor, ele se acomodou no banco ao lado deles, ouvindo as palavras de um dos bispos, quando sentiu uma mão firme em seu ombro. Ao se virar, viu que era seu pai, o senhor Elias, um homem sempre sério e devoto. Surpreso, ele se levantou, notando os olhares curiosos de seus amigos ao seu redor. O que seria tão importante para que Elias o chamasse justamente naquele momento?

Saulo acompanhou o pai em silêncio pela escada lateral da igreja até o gabinete, onde o bispo Barnabé, líder da igreja local e outros membros do ministério aguardavam. O senhor Barnabé, um homem de porte imponente com ombros largos, barba espessa e uma cicatriz marcante sobre um olho de vidro, o cumprimentou com um sorriso leve.

"Saulo, meu irmão, sente-se," disse o senhor Barnabé, com uma voz grave e acolhedora. "Paz, meu rapaz. Recebemos uma notícia especial esta manhã: você foi escolhido para representar nossa célula nos Jogos da NAVIM."

Saulo lançou um olhar surpreso para o pai, que mantinha-se em silêncio, com a cabeça levemente baixa, em postura respeitosa. Ele voltou seu olhar para o pastor e respondeu, hesitante:

"Sim, Bispo... Na verdade, recebi a notícia na última quarta-feira. Fiquei surpreso, para ser honesto. Existem tantos outros candidatos mais experientes na célula, como Lucas e João. Mas fico honrado pela indicação e farei o meu melhor para representar nossa comunidade."

O pastor inclinou-se para frente, com uma expressão atenta. "Você se sente preparado, Saulo? Você Sabia que no passado eu também competi nos jogos? Foi onde eu ganhei essa cicatriz. Na época os desafios eram bem mais... digamos, brandos. Me falaram que a estaca estava na arena por falha, mas o fato que eu só soube que a dor era real depois que tirei o traje e senti o sangue escorrendo pelo meu rosto.
Sabemos que é um jovem dedicado e um exemplo para a congregação. Seu pai, mesmo nunca tendo sido escolhido, sempre foi uma referência de fé e seriedade. Queremos que você saiba que estaremos todos ao seu lado, apoiando e intercedendo por você. A propósito, queria falar um pouco sobre nossa situação..."

Barnabé fez uma pausa, observando a reação de Saulo. "Nosso distrito, vem enfrentando algumas dificuldades com os recursos da NAVIM nos últimos anos. Nossas últimas participações nos Jogos foram apenas medianas, segundo os critérios da organização, e isso desmotivou os investidores e a liderança. Com você nos representando diretamente agora, acreditamos que a situação pode melhorar. Queremos que saiba que toda a comunidade está pronta para apoiar você e sua família."

Saulo assentiu, embora sentisse uma leve pressão crescer em seu peito. Olhou para o Bispo, para o pai em silêncio e, depois de um instante, respondeu com voz firme: "Obrigado, senhor. Darei o meu melhor. Com o apoio de todos e suas intercessões, acredito que nossa célula poderá se destacar nos Jogos."

Barnabé levantou-se e estendeu a mão para Saulo, que a apertou respeitosamente. Quando ele estava prestes a sair, o bispo chamou-o novamente.

"Ah, Saulo, mais uma coisa. Como você sabe, recentemente perdemos nosso presbítero mais antigo, o irmão João Batista. Precisamos de alguém para completar o quadro, e estamos considerando seu pai como um dos candidatos. Sua participação nos Jogos pode ter um papel importante na decisão do conselho. Que tal essa notícia para encorajá-lo ainda mais?"

Saulo olhou para o pai, que manteve-se sério, apenas acenando levemente para ele. Sentindo o peso da responsabilidade, Saulo respondeu, embora um tanto desconfortável: "Sim, bispo... Fico grato pela confiança. Que seja feita a vontade de nosso Senhor."

Eles saíram do gabinete e, no corredor, o pai de Saulo deu um tapinha em seu ombro. "Fique tranquilo, Saulo. Vai dar tudo certo. Eu e sua mãe estaremos intercedendo por você. Nosso Senhor está no controle."

Saulo respondeu, sentindo a pressão ainda em seu peito, mas tentando manter-se firme: "Sim, pai. Vou fazer o meu melhor."