A sirene ecoou pelo distrito, um som baixo e contínuo que se misturava ao sussurro dos ventos que varriam as ruas desertas. Saulo já sabia o que aquilo significava. Era o som que todos no Distrito aprendiam a temer desde a infância, um chamado inevitável, embora ninguém desejasse de verdade ouvi-lo.
Naquele dia, o céu estava tingido de um cinza metálico, refletindo o clima pesado que pairava sobre os blocos de concreto e ferro que dominavam a cidade. Ali, a vida era prática, funcional, desprovida de excessos. Todos cumpriam suas tarefas com precisão, sob as diretrizes da IA e da NAVIM. Mas, por trás dessa fachada organizada, o temor era real, um fardo que crescia com o passar do tempo. Eventualmente, os jogos chegariam até eles, e agora... havia chegado a vez de Saulo.
Ele olhou para o relógio digital em seu pulso, sentindo o peso da responsabilidade prestes a se abater sobre ele. Desde o anúncio da NAVIM, todos sabiam que a luta seria feroz, que um distrito inteiro poderia ser obliterado enquanto o vencedor teria o direito de refazer o mundo. Essa disputa não era apenas física, era uma guerra de ideologias, e a arena seria o palco onde essas visões se confrontariam.
Saulo ajustou seu uniforme simples e saiu do quarto austero. Atravessando a pequena sala, sua mente estava repleta de memórias do longo treinamento. No Distrito dos Conservadores, a seleção dos guerreiros era rigorosa, baseada em atributos físicos, mentais e, acima de tudo, na lealdade. Ele representava o pragmatismo, a eficiência e a ordem que o distrito tanto prezava. Ainda assim, um nervosismo estranho se instalava em seu peito. Sabia que a arena não era só uma questão de força, mas de inteligência, estratégia e, muitas vezes, sorte.
Ao sair para a rua, uma brisa fria o atingiu, e ele percebeu o silêncio das pessoas que o observavam. Alguns o olhavam com esperança, enquanto outros tinham nos olhos a incerteza de quem já não confiava na procedência dos jogos. Saulo era agora um símbolo, o guerreiro que poderia garantir o futuro de sua comunidade.
"Saulo!" Uma voz o chamou, e ele se virou para ver Sara, sua amiga de infância, correndo em sua direção. Atrás dela vinham Lucas, Mateus, Miriam e os gêmeos, João e Maria, todos com expressões ansiosas. Sara o alcançou primeiro, abraçando-o com força. "Então, é hoje o dia!
Ele assentiu, com um olhar silencioso que dispensava palavras. O grupo se aproximou, formando um círculo ao seu redor. Maria o fitou, com um olhar de preocupação. Lucas, sempre mais otimista, tentou sorrir, mas o sorriso tremulou. "Saulo, você é o mais forte entre nós," disse ele. "Se alguém pode vencer, é você."
Mateus deu um tapinha em seu ombro, tentando disfarçar a tensão.
"Não vamos nos despedir cara, você vai voltar logo." São só três dias depois você volta pra casa e descansa para a próxima semana, isso se você for escolhido denovo.
"Estão falando que agora os participantes vão ser alternados, e que os times podem ser alterados à cada semana dos jogos." Disse Maria com um olhar de medo e incerteza.
"Sim! Eu também ouvi falar isso no centro de treinamento, entre os instrutores. Talvez seja essa a oportunidade de nós participaremos juntos nos próximos desafios, afinal... é para isso que estamos treinando, não é?" Disse Lucas meio incerto quanto a concordância de seus amigos em volta.
Nem todos compartilham desse mesmo entusiasmo em relação aos jogos Lucas. Esses desafios estão cada vez mais perigosos e a credibilidade dos jogos cada vez mais questionáveis. Disse em tons baixos a ruiva do grupo, Sara.
Os amigos o abraçaram em um último adeus coletivo. Havia algo de precioso naqueles momentos, uma lembrança a que ele se agarraria nos dias mais sombrios.
Saulo se afastou, mas antes de seguir, seus pais, Elias e Marta, vieram ao seu encontro, trazendo consigo sua irmã Sofia. Marta o abraçou demoradamente, apertando-o com força. "Saulo... meu filho, lembre-se de quem você é. Estamos com você, em pensamento e em oração."
Sofia puxou a alçade de sua mochila, tentando esconder as lágrimas. "Volta logo, Saulo. Promete?"
Ele se agachou, passando a mão no cabelo da irmã. "Prometo, Sofia. E quando eu voltar, a gente vai fazer aquela passeio no parque, Fica bem."
Elias, seu pai, colocou a mão em seu ombro. Era um gesto firme, mas que escondia um temor profundo. "Você foi preparado para isso. Eu acredito em você, filho. E eu sei que, não importa o que aconteça lá dentro, você vai honrar o nosso lar."
Quando o chamado final soou, Saulo deu um último olhar àqueles que amava e, com um aceno, atravessou as grades, escoltado por agentes da NAVIM, indo em direção à base central do distrito, onde os preparativos para os jogos eram finalizados.
Na base oficial da NAVIM, no distrito dos conservadores, Saulo ajusta seu traje de treino, ao lado de outros escolhidos de sua célula, ele foi conduzido à sala de armamento. Lá, os guerreiros receberam suas armaduras tecnológicas - os camuy - cada uma ajustada ao perfil de seu usuário, projetadas para potencializar suas habilidades naturais.
"Essas armaduras não são apenas ferramentas," explicou a instrutora Ester. "Elas são extensões de vocês. Aprendam a usá-las ou a arena não terá piedade."
Saulo olhou para sua armadura prateada e aerodinâmica, onde pequenas luzes azuis pulsavam em seu pulso e peito. Sentiu a energia fluir quando a vestiu. O camuy se moldou a seu corpo como uma segunda pele, leve, porém imbuída de um poder quase sobrenatural. O visor interno projetava informações que ele ainda tentava assimilar.
"Ester está certa," continuou outro instrutor, com um tom severo. "Vocês entrarão em arenas que desafiarão não só sua força, mas também sua mente e sua resistência emocional. Estudem cada informação e cada ferramenta."
Saulo fixou o olhar na armadura, ajustando-a ao corpo, sentindo que aquela luta seria mais do que física - seria uma batalha por tudo o que ele acreditava.
Enquanto ele se preparava, sabia que o momento na arena se aproximava. A luta por sua célula começaria em breve.
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Controle Celular
AventuraSinopse: Controle Celular Em um futuro próximo, o mundo foi devastado por uma Terceira Guerra Mundial causada pela corrupção, violência e a polarização política e ideológica. Após a grande explosão atômica de 2024, a humanidade foi dizimada, restand...