Capítulo 40. Skate, Patins e Notebook

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Na vibrante Praça de Jogos do Distrito Neutro, um espaço onde os competidores das diferentes células podiam relaxar, Victor estava sentado em um banco, o brilho da tela de seu notebook refletido em seus óculos. Ele era o tipo de pessoa que aproveitava cada segundo de descanso para estudar, observar, ou simplesmente absorver tudo ao seu redor. Seus dedos deslizavam rapidamente sobre o teclado enquanto ele compilava algumas ideias sobre o futuro da célula progressista, refletindo sobre as últimas competições e como poderiam otimizar suas estratégias.

Do outro lado da praça, uma figura se destacava sobre patins, deslizando com agilidade entre os outros competidores que aproveitavam o raro momento de descontração. Era Marcos, da célula liberal. Ele se aproximou de Victor com um sorriso aberto e confiante, o tipo de cara que parecia sempre saber o que dizer na hora certa.

— Victor! — Marcos o chamou enquanto parava ao lado do banco, equilibrando-se nos patins com naturalidade. — Acho que você está levando esse descanso a sério demais, hein? Deixe o trabalho de lado por um momento!

Victor riu, fechando o notebook. — Você sabe como é. Sempre tem algo a se aprender, mesmo nos momentos de pausa. Mas confesso que você parece estar aproveitando melhor do que eu.

Marcos deu uma risada leve, ajeitando os óculos escuros. — Claro! A vida é movimento, progresso, e nada melhor que patinar para sentir isso na pele. Eu acho que é como as ideias liberais — liberdade de ir e vir, de explorar. O importante é que a gente se mova, sempre para frente, sem amarras.

Victor assentiu, interessado. — Sim, faz sentido. Na célula progressista, também acreditamos que o avanço, seja tecnológico ou social, é o que nos impulsiona. Estamos sempre em busca de melhorar o sistema, mas sem perder de vista os direitos e as liberdades.

Marcos sorriu ainda mais, inclinando-se para olhar melhor o notebook de Victor. — Então estamos na mesma página. A diferença talvez seja o ritmo, mas o destino é o mesmo. Liberdade individual e progresso para todos.

Enquanto eles conversavam, uma figura em alta velocidade surgiu em um movimento fluido de skate, cortando o ar com precisão. Débora, da célula socialista, deslizava com agilidade pela pista de skates próxima à praça, aproveitando a adrenalina do momento. Ela se aproximou ao ouvir parte da conversa e, num movimento hábil, saltou do skate, carregando-o sob o braço enquanto se aproximava dos dois.

— Olha só quem eu encontro aqui, duas mentes ocupadas em uma praça de lazer. — Débora falou com um sorriso divertido. — Patins, notebook, e eu de skate. Acho que temos aqui um trio pronto para movimentar ideias, hein?

Marcos riu, apontando para os patins. — E aí, Débora, unindo o esporte ao socialismo? Como sempre, não perde uma oportunidade de se engajar, né?

Débora deu de ombros, ainda sorrindo. — É o jeito, Marcos. O esporte é o reflexo do que acreditamos, né? Todo mundo tem que ter acesso a oportunidades. Se o campo é justo, todos podem alcançar seus objetivos. É como na vida — equilibramos nossos desejos pessoais com o bem coletivo.

Victor se inclinou, curioso. — Interessante. E como você encaixa isso nas competições? Nas arenas, não há tanto espaço para o coletivo, não acha? É cada um por si, ao menos na maioria das vezes.

Débora se aproximou, sentando no chão ao lado do banco onde Victor estava. — Pode parecer assim, mas as alianças que formamos, os vínculos, até mesmo o apoio moral, tudo isso influencia. No socialismo, acreditamos que a cooperação é a base do sucesso, e até nas arenas, esse princípio faz diferença. Pode não ser óbvio, mas está lá.

Marcos interveio, girando levemente sobre seus patins. — Acho que a beleza do que estamos discutindo é que nossas células compartilham pontos em comum. O que o liberalismo defende é a liberdade de escolha, de ação, mas isso não significa que somos cegos às necessidades dos outros. Liberdade é só o primeiro passo. O que você faz com ela é o que realmente importa.

Débora olhou para ele, interessada. — Então, no fundo, você concorda que o individualismo tem limites, né? Que existe uma responsabilidade social.

Marcos balançou a cabeça. — Sim, mas com uma diferença. Acredito que o indivíduo deve ter a liberdade de agir, de escolher, mas suas escolhas podem e devem contribuir para o todo. A economia, a cultura, a sociedade... são reflexos de decisões individuais. Se cada um fizer o melhor para si, o coletivo se beneficia naturalmente.

Victor, que até então havia ficado em silêncio, escutando atentamente, decidiu intervir. — No progressismo, vemos essas questões com um foco mais pragmático. Queremos progresso, mas não podemos ignorar as desigualdades que existem. Precisamos de um sistema que promova inovação, mas que ao mesmo tempo corrija as injustiças. Liberdade individual é importante, mas o bem-estar coletivo também.

Débora sorriu, ajustando os joelhos enquanto se balançava para frente e para trás. — Então estamos mais próximos do que imaginávamos, hein? Cada célula com seu ponto de vista, mas no final, todos buscamos uma sociedade melhor. Mesmo que nossas abordagens sejam diferentes.

Marcos concordou, rindo enquanto deslizou um pouco para o lado, fazendo uma pirueta com os patins. — Sim, e olha só, sem brigas. Acho que deveríamos ser os representantes diplomáticos das nossas células. Já estamos alinhados.

Os três riram juntos, sentindo o calor do sol enquanto a praça continuava cheia de vida, com outros competidores patinando, andando de skate ou apenas relaxando. No meio de toda a tensão dos jogos, aquele momento parecia ser um respiro raro, onde eles podiam se entender como pessoas, fora das etiquetas e dos rótulos de suas respectivas células.

Mesmo com suas diferenças, a amizade entre eles florescia rapidamente, e naquele momento, não eram adversários — apenas jovens com ideias, sonhos e uma conexão que transcendia as arenas.

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