Encruzilhadas.

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Eu levanto minha cabeça e, ao olhar ao redor, percebo que estou pronta para sair, mas uma tontura repentina me atinge. Que merda. Resmungo, abrindo a porta do carro e correndo para a calçada, onde sinto que o vômito está prestes a sair. 

— Que saco! — digo, enquanto limpo a boca com a mão. 

— Tá tudo bem? — escuto a voz de um garoto se aproximando.

— Tá sim, obrigada. — respondo, tentando manter a compostura.

— Acho que não tá não. Bebeu muito? — ele pergunta, preocupado.

— Não. — falo, séria, enquanto me levanto da calçada para voltar ao carro.

— Carro bonito, ele é bem atual. — o menino comenta, olhando para o veículo.

— Obrigada. — respondo, forçando um sorriso. — Vou dizer ao meu namorado que você gostou do carro dele.

Fecho a porta com um movimento brusco, mas, para minha surpresa, ele insiste e bate no vidro. 

— Que saco, que moleque chato! — resmungo, abrindo o vidro novamente.

— Toma. — ele me entrega um chiclete ardido. — Vai ajudar a tirar o gosto ruim da boca.

Eu pego o chiclete, agradecendo com um aceno de cabeça. 

Depois, fecho o vidro novamente, dando-lhe um pequeno sorriso antes de sair com o carro. O motor ronca alto, e eu sigo em frente, aliviada por estar longe daquela situação.

Eu vou em direção à delegacia, estaciono o carro e entro. O ar frio do ar-condicionado contrasta com o calor da noite lá fora. A recepcionista, uma mulher de cabelos castanhos presos em um coque bagunçado, ergue os olhos do computador quando eu me aproximo. Mas quando chego lá, Lyle já não está mais.

— Quero falar com o detetive James Thompson — digo, tentando manter a voz firme.

A recepcionista me observa por um momento, parecendo avaliar minha determinação.

— Infelizmente, ele está ocupado agora — responde ela, com uma entonação mecânica. — Mandou avisar que não está disponível e não quer ninguém o incomodando.

— Então tá. 

Me dirijo a um banco na sala de espera e me sento, observando o movimento ao meu redor. A recepcionista volta a olhar para a tela do computador, mas não antes de lançar um olhar rápido e quase curiosa para mim. Ela parece estar escondendo um sorriso, mas logo se concentra novamente em seu trabalho.

Enquanto isso, o telefone dela começa a tocar. 

— Certo, senhora, preciso que se acalme — ela fala, em um tom profissional que contrasta com a crescente frustração no meu interior. A conversa parece se estender, e eu percebo que aquela era a minha chance perfeita.

Levantando-me silenciosamente, me aproximo da porta da sala do detetive. A madeira polida e escura brilha sob a luz fluorescente, e um pequeno nome em uma placa diz "Detetive James Thompson". Coloco a mão na maçaneta e faço uma rápida verificação para garantir que ninguém me está observando.

Eu entro na sala e vejo o detetive ali, deitado no banco, com as pernas apoiadas sob a mesa, fumando um cigarro e em uma ligação, rindo de algo que claramente não tinha graça. O cheiro de tabaco se mistura com o ar pesado do ambiente, e uma pilha de papéis desordenados se amontoa ao lado dele, como se os casos não solucionados estivessem esperando por um milagre.

— Merda! — ele fala, desligando o celular abruptamente e apagando o cigarro, o que faz uma nuvem de fumaça se erguer e flutuar lentamente em direção ao teto manchado. Ele se endireita, ajusta a gravata amassada e, com um olhar desafiador, me encara. — Não te falaram que estou ocupado?

Lyle menendez, ódio ou amor?Onde histórias criam vida. Descubra agora