Capítulo 77: Corvos.

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Tudo aconteceu rápido demais. Oren tentou ajudar, mas foi agarrado por dois. Deslizei para perto de Elowen, com medo de que eles usassem aquele momento para tentar fazer alguma coisa com ela. A respiração ficou presa na minha garganta quando Lucian usou as mãos, ainda acorrentadas, para atacar um dos homens que tinha chegado com Selene, enfiando a espada no estômago dele até atravessa-la nas suas costas.

Isso foi a única coisa que ele conseguiu fazer, antes do outro homem se transformar em um lobo no meio do salto. A espada escapou das mãos dele quando o lobo o jogou no chão. Tentei ir ajudá-lo, antes do homem que estava nos ameaçando antes cortar meu caminho, virando um lobo tão rápido que eu apenas dei um passo para trás. Minhas mãos ainda estavam acorrentadas e eu sabia que não poderia fazer nada sem que ele me partisse ao meio com aqueles dentes.

—NÃO! —O grito de Elowen fez todos os pássaros nas árvores voarem para longe como se alguma coisa tivesse os assustados.

Me virei para olhar, sentindo gelo atravessando meu sangue quando Lucian puxou uma faca que estava escondida na sua calça e afundou na garganta do lobo, assim que os dentes dele afundaram no seu ombro, quase rasgando a sua garganta até fazê-lo gritar. O medo me fez agir rápido demais, sem pensar direito. Disparei até me tornar um borrão, tentando alcançar os dois.

Fui lançada contra uma árvore que se partiu ao meio com o impacto, antes de um som que parecia um grunhido escapar pela minha boca quando aquele lobo saltou por cima de mim, fechando os dentes bem ao lado do meu rosto, como uma ameaça. Elowen tentou correr na direção deles, enquanto Lucian puxava aquela faca e a enfiava de novo, fazendo isso várias vezes.

Ele gritou ainda mais quando isso não foi suficiente para fazer a boca do lobo o soltar. O sangue manchou as roupas dele, pingando no chão até formar uma poça. O cheiro grudando no meu nariz quando minha visão ficou borrada pela sede.
Lucian estava com medo, porque o cheiro era tão doce que era quase insuportável sentir. Pisquei contra a vontade absurda de sede, mordendo minha própria língua quando vi Lucian começar a ser arrastado por aquele lobo em direção ao penhasco.

—Lucian! —Elowen quase caiu no chão, mas continuou a correr para tentar alcançá-lo. Eu e Oren não conseguimos fazer absolutamente nada além de observar. Aquele lobo ia morrer. A faca ainda estava cravada na sua garganta, de onde escorria sangue. Mas ele ia terminar o que tinha começado. —Não... Lucian!

Elowen caiu no chão com um grito agoniado que estilhaçou meus ossos, estendendo a mão para agarrar uma das pernas de Lucian antes de ele e o lobo serem engolidos por aquele penhasco. Fechei meus olhos com força quando o grito dele durante a queda ecoou pela floresta, até o som de algo batendo na água e nas rochas lá embaixo preencher o ar.

Vi Oren cair de joelhos, abaixando a cabeça enquanto o peso da culpa pesava em seus ombros. Sabia que era isso que ele estava sentindo, porque eu me sentia da mesma forma. Não conseguimos fazer nada. Não poderíamos ajudá-lo mesmo se quiséssemos. Ele tinha caído naquele rio lá embaixo, com a boca do lobo ainda cravada em seu ombro.

Elowen se arrastou até a beirada do penhasco, gritando o nome dele sem parar. Não sei se ela conseguia ver o corpo dele lá embaixo ou se ele havia sido engolido pela água. Mas quando ela afundou o rosto entre os joelhos, chorando tanto a ponto de soluçar, antes de soltar um grito que pareceu parar até o ar ao nosso redor, tive certeza de que Lucian tinha sido engolido por aquela escuridão lá embaixo.

O lobo saiu de cima de mim, e eu me ajoelhei no chão, sentindo as lágrimas escorrerem pela minha bochecha e pingarem do meu queixo para o vestido. Havia um rastro de sangue do corpo da bruxa até onde Elowen estava caída. O rastro por onde Lucian tinha sido arrastado.

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