Capítulo 70: Acordo cruel.

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Ele deu alguns passos para trás, olhando ao redor como se estivesse prestes a sair correndo. Ou estava procurando uma rota de fuga para quando fosse mesmo fazer isso. Torci os lábios de leve, porque ele era mesmo um grande covarde que não conseguia aguentar o peso das próprias decisões. E era engraçado o quanto eu era completamente diferente dele nisso.

—Você achou que eu nunca ia ficar sabendo disso, não é? —Falei, abrindo um sorriso meio torto quando o rei parou e balançou a cabeça negativamente, soando completamente incrédulo. Já havia se recuperado do susto e agora o rosto era uma mascara perfeita de incredulidade.

—Não sei do que você está falando, Avery. Me chamando de papai e dando a entender que é minha filha. De onde você tirou isso? —Questionou, e pela aversão na sua voz eu bem que poderia acreditar que não sou mesmo filha dele. Que tudo isso não passa de um engano. —Não sei quem te disse isso ou como você chegou a essa ideia, mas é absolutamente ridícula. Eu tinha uma esposa. Uma rainha. Eu a amava e jamais a trairia com uma criada qualquer. E muito menos teria filhos com ela.

—Eu me pergunto como você espera que eu acredite nas suas palavras, quando tudo que você diz não tem valor algum. Você mente tão fácil quanto respira. Mente para todos os seus súditos que mata vampiros, quando isso não passa de uma farsa sua com Varek. —Afirmei, engolindo o nojo que eu estava sentindo naquele momento, por já ter servido a ele e a todos nesse castelo. —Você mentiu dizendo que a princesa era inocente e não sabia de nada, quando na verdade ela sempre soube de tudo e era conivente com as suas ações.

—Não envolva minha filha nisso. Ela é sim inocente. Tudo que eu sempre fiz foi tentar protege-la e lhe dar um mundo melhor para governar. —Retrucou, e eu me retesei no trono, sentindo como se uma faca estivesse sendo enfiada no meu coração. Por Selene ele faria tudo. Por Selene ele mataria milhares de inocentes. Tudo sempre por ela. —Você deveria me entender, já que se fingiu de minha filha para protege-la. Mas você não entende nada, não é? É só uma criada burra que se vendeu para aqueles monstros sugadores de sangue. O que eles te ofereceram para nos trair? O que você ganhou virando um deles?

—A verdade. —Afirmei, erguendo o queixo enquanto sentia as palavras dele me perfurarem por todo corpo. —Eu vivia com uma venda nos olhos, me impedindo de ver tudo que acontecia aqui. Me deixando acreditar em mentiras. Eles arrancaram essa venda de mim e me deram a verdade.

—Eles te deram mais mentiras. Eles te encheram delas e você acreditou em tudo isso, porque é fraca e ingênua. —Exclamou, apontando a mão pra mim como se eu fosse uma coisa imunda que ele gostaria de se livrar. —Seu pai era um guarda qualquer com quem sua mãe se deitou. Ele provavelmente foi embora assim que soube que ela estava gravida. E ele fez muito bem, porque olhe só o que você se tornou, uma vadia ingrata que se tornou um monstro.

O insulto me acertou em cheio. Meu peito se contraiu, enquanto o ar ficava preso na minha garganta e meu rosto fervia de raiva. Apertei com força os braços do trono, sentindo a madeira ranger prestes a se quebrar. Aliviei o aperto quando uma sombra atravessou o salão. Kaden apareceu atrás do rei antes que ele percebesse.

—Peça desculpas. —Kaden sibilou, quase derrubando o rei no chão quando ele percebeu que eu não tinha ido até ali sozinha. E pelo pavor no rosto dele, ele se lembrava muito bem de Kaden. —Fique de joelhos e peça desculpas.

—Eu nunca vou fazer isso pra uma criada... —Ele não terminou de falar, porque Kaden chutou suas pernas e ele caiu de joelhos, gemendo de dor pelo impacto contra o chão.

—Não era um pedido, vossa majestade. Eu sei que você tem o gosto de implorar de joelhos. Então faça isso de novo, porque estou muito tentado em quebrar o seu pescoço essa noite. —Kaden afirmou, batendo no rosto dele para faze-lo olhar pra mim. Havia medo naqueles olhos quando me encararam, misturados com raiva pela humilhação que Kaden estava o fazendo passar. —Peça desculpas!

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