O homem no sótão - Parte 1

1 0 0
                                    


Em algum lugar longe, mas muito longe mesmo, a voz de Sarah ecoava, chamando por ela. Os sentidos de Francesca se desligaram. Seu estômago embrulhava e remexia agressivamente o que acabara de comer.

Não podia ser verdade... Era ele...

-Fraances...??

Ele era um criminoso foragido da polícia.

-...Amiga? - a voz de Sarah falava, longe demais para ser compreendida.

Ele estava envolvido com o ataque ao Triskelion. A polícia estava procurando por ele. Ele e mais algumas outras pessoas.

Mas ele!

A expressão da moça era de total choque, com uma mão na boca e outra no peito. O jornal já havia até saído daquele vídeo, e ainda assim ela o via! Ele, naquela imagem em branco e preto, com aquela estranha armadura no braço jogando longe uma arma, digna de um fuzileiro, após abater um homem.

Pareceu que aquele instante em que congelou e questionou a própria sanidade durou uma eternidade.

"Não pode ser ele! Mas é! Você passou tempo suficiente com ele para reconhecê-lo."

Um monólogo consigo mesmo se desenrolou em pouquíssimos minutos na sua cabeça:

"Nããoo. O que eu vou fazer??? Eu tô escondendo um criminoso! Você pode ser presa, Francesca!!!"

Ficou desacreditada consigo mesma, pelo primeiro caminho que seus pensamentos tomaram.

"É sério que essa é a minha principal preocupação?? Ele é um bandido! Talvez um assassino!!

Seu lado racional concordou com essa afirmação, relembrando a agressividade do vídeo. A forma como ele se movimentava firme, o jeito violento que jogou longe a arma - possivelmente já descarregada - e o homem caído no chão que ele deixara para trás.

"Sim, ele pode te fazer mal! Fazer mal a sua família!"

Por outro lado, seus instintos questionaram o seu lado cauteloso:

"Mas estou certa de que é ele mesmo??"

Afinal, esse meio tempo que conviveu com ele - desde sua abordagem assustadora no carro, mas não violenta como no vídeo; até quando chegaram na sua casa e suavizou sua postura após mostrar o quanto estava ferido e fragilizado; quando entraram em silencioso entendimento durante sua cirurgia; sua gratidão pela comida e pelas roupas; e quando tentou consolá-la pelas informações sobre sua mãe e toda sua cooperação e compreensão pelo ritmo em que podia se dispor a ajudá-lo - só provou para mostrar o quanto ele não era uma ameaça para ela. Ou pelo menos que não tinha a intenção de ser.

"Sim, sim, está certa!!" - A parte racional não queria deixá-la continuar tomando decisões imprudentes e perigosas.

"Eu devo estar enlouquecendo! O que você vai fazer, Francesca??"

Ela não queria entregá-lo. Não importava o que a TV estava mostrando, ela o vira pessoalmente. E pessoalmente ele não parecia o monstro que aquele jornal estava pintando.

"Não, não, não! Se ele quisesse me fazer mal ou a minha família, já teria feito. Você já concluiu isso antes. Essa história já está velha! Ele não vai me fazer mal!"

Por mais impactada que estivesse, por mais que o choque de realidade a tivesse abatido, ela já estava começando a tomar uma decisão sobre o que faria.

"Você não vai chamar a polícia?? Você vai continuar guardando isso só pra si mesma, Francesca??? Ele matou aquele homem..."

Hesitou só um pouco, pois precisava ter certeza de que iria mesmo ignorar sua parte racional e seguir a emocional. Afinal, ele era da Hydra... Assim como sua mãe.

Paixão InvernalOnde histórias criam vida. Descubra agora