O que aconteceu com Francesca Vacciano - Parte 1

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---MÚSICAS TOCADAS NO CAPÍTULO (na ordem):
Mario del Monaco - Un Amore Cosi Grande // Kansas - Dust In The Wind

**Dica: Se ouvir enquanto lê, a experiência fica mais legal ;D

----------BOA LEITURA----------


6 Meses atrás.

Era abril, meio de primavera.

A noite estava agradavelmente quente. Não aquele calor de suar a nuca e fazer a meia colar no pé, aliás, porque esse tipo de calor não fazia em uma cidade arborizada, com prédios baixos e com pequenos rios cruzando o centro, como a cidade de Frederick, em Maryland. Fazia um calor que permitia qualquer pessoa usar uma camiseta básica branca e moderadamente justa, de tecido leve, acompanhando uma calça social cáqui.

E era assim que Benito Vacciano se vestia naquela noite agradável e fresca, em que retornava de uma fazenda em Thurmont, onde visitara seu mais recente fornecedor de pimentas Pepperoncini.

Ele dirigia sua caminhonete sem pressa, enquanto ouvia clássicos de Mario del Monaco.

Se Benito era um homem de 47 anos, primeira geração de italianos de sua família a crescer na América, patriota forte de um país em que viveu apenas até os 4 anos e meio de idade e visitou ao longo de sua vida bem sucedida somente 5 vezes em algumas férias - sim, as melhores férias que teve -, doutrinado com todos os hábitos barulhentos, de muita comilança e de reunir a família para cada mini evento e pequena novidade possível de se reunir muita gente numa casa; sim, ele era esse tipo de homem.

Já estava cansado do longo dia que teve, mas nem por isso desanimado.

O trabalho, e a grande ocupação que ele acarretava, era o que vinha lhe dando forças mentais desde a morte trágica, injusta e inesperada de sua esposa e filho há três semanas.

É claro, o trabalho e sua família lhe davam essas forças; sua grande família unida e barulhenta. Que discutiam por qualquer coisa todas as vezes que se reuniam, cada um tentando falar mais alto que o outro, ter mais razão que o outro e os mais velhos sempre querendo engordar os mais novos e ensinar tudo que acreditavam ser certo. Eles eram intrometidos na vida uns dos outros e davam palpites bem vindos e não bem vindos em tudo, e ajudavam no que podiam.

E ajudá-lo a superar um luto tão grande como aquele era o que seus parentes estavam fazendo de melhor nessas últimas semanas. Ele amava cada membro enxerido de sua grande família italiana.

Benito acompanhava a letra da romântica e poética música, prestando atenção na estrada. Como sempre, tentando manter os pensamentos bem longe de coisas que pudessem deixá-lo mal.

Ele era daquele tipo de pessoa que tentava seguir em frente, apesar dos pesares. Porque acreditava precisar ser forte por ele e por outros também.

Teve os seus dias que precisou chorar e lamentar a própria situação deitado em sua cama até mais tarde. Agora esses dias acabaram e era hora de levantar, trabalhar, cuidar de si mesmo e suas responsabilidades, porque a vida continuava. E sua filha precisava dele.

Suas raízes não haviam sido encerradas naquele acidente. Ainda lhe restara uma filha. E ela, apesar de já ser adulta, independente e autossuficiente, de vez em quando precisava de apoio emocional. E que tipo de apoio lhe daria se ele mesmo estivesse no fundo do poço?

Por isso decidiu que se permitiria sentir a perda gigante que teve, mas que não se entregaria à dor dela. Continuaria vivendo e nesse ritmo manteria sua mente sã e seu coração acolhido por essa sanidade. No fim, o tempo iria curar suas feridas; isso era um fato.

Cantava a música, enquanto dirigia, com o mesmo romantismo de Mario del Monaco, porém, com um timbre bem menos potente.

Paixão InvernalOnde histórias criam vida. Descubra agora