Uma falha tentativa de se comunicar

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---MÚSICA CITADA NO CAPÍTULO---
Boney M. - Rasputin

**Dica: Se ouvir enquanto lê, a experiência fica mais legal ;D



----------BOA LEITURA----------


2 Semanas e meia atrás.

Era 1pm, 24 de outubro de 2014, quando um Jeep Wrangler, na cor verde musgo, dirigia pela Rodovia Urbana Pike - ou como muitos em Frederick e em Urbana chamavam, "a estrada velha".

A moça que assumia o volante do carro era Francesca Vacciano, tinha 25 anos de idade, cabelos e olhos castanhos, uma recente franja cortada até as sobrancelhas e usava um suéter azul cobalto com pequenas florzinhas de outros tons bordadas nele. Uma peça delicada e bem aquecida, para o frio que fazia naquela região, junto com um macacão jeans aveludado preto por cima.

Ouvia uma música animada no rádio do carro e batucava o volante, com a mão esquerda, no ritmo dela. Ambas as mãos usavam munhequeiras ortopédicas ajustadas para trazer o maior conforto e estabilidade para os membros deficientes.

A mão direita possuía tiques em alguns dedos e estes doíam levemente ao se fecharem por completo ou quando faziam muita força; a esquerda ficava constantemente aberta, pois os nervos que mandavam os comandos de movimento foram gravemente danificados meses atrás em sua falha tentativa de suicídio.

Francesca teve sequelas que nunca poderia corrigir, apenas conviver com elas.

-Hey, hey, hey, hey, hey, hey - cantarolou a introdução da canção. Aliás, estava animada e não podia evitar. Não tinha um motivo pra ficar feliz de verdade há meses.

"There lived a certain man in Russia long ago (Vivia um certo homem na Rússia há muito tempo atrás)

He was big and strong, in his eyes a flaming glow (Ele era grande e forte, em seus olhos um brilho de fogo)

Most people looked at him with terror and with fear (A maioria das pessoas olhava pra ele com terror e com medo)

But to Moscow chicks he was such a lovely dear... (Mas para as garotas de Moscou ele era um queridinho...)

Músicas antigas eram suas favoritas. Tudo que houvesse sido composto antes dos anos 90, Francesca sabia apreciar.

Enquanto ouvia distraída a música, pensava na reunião bem sucedida da qual retornava em Washington DC. Ela não esperava que a entrevista que havia feito ontem pudesse ter um retorno tão rápido. A dona do restaurante no qual se candidatou à vaga de sub-chefe ligou pela manhã, enquanto estava no curso de confeitaria que começou a fazer há pouco mais de um mês, em uma escola técnica no centro de Washington DC. Abandonara a aula na metade para ir fazer um teste prático no restaurante, antes de o mesmo abrir para o almoço.

Ela havia sido aprovada e contratada logo em seguida após a execução de um Coq au Vin perfeito. O fato de ter uma deficiência nas mãos não a impedia de fazer com maestria o que era apaixonada, cozinhar.

Deveria comparecer novamente no dia seguinte para receber instruções e entregar a documentação necessária.

Francesca se preparava mentalmente para contar a novidade à sua família. Muitas mudanças teriam que ser feitas e não sabia como eles lidariam com isso, principalmente seu pai e seus avós, com quem voltara a morar depois daquele fatídico dia.

Todos estavam tratando ela como se fosse de vidro e mesmo tendo passado por algumas sessões de terapia obrigatória e se esforçado muito para mostrar a todos que estava bem e equilibrada mentalmente, ainda não havia conquistado a confiança e despreocupação da maioria.

Paixão InvernalOnde histórias criam vida. Descubra agora