O resto da semana foi uma loucura. Entre os preparativos do casamento e organizar o quarto do bebê, eu e Apollo mal tínhamos tempo de respirar. E, sinceramente, quanto mais o via empolgado com tudo, mais me apaixonava. Nunca imaginei que viveria algo assim, mas agora não conseguia me imaginar de outro jeito. Ontem mesmo, enquanto começávamos a preparar o quarto para pintar, senti uma cólica horrível, acompanhada de um enjoo inesperado. Foi a primeira vez que tive enjoo durante a gestação, mas isso nem chegava perto da dor que a cólica causava.
Apollo e Neo, como sempre, entraram no modo "protetores oficiais". Passaram o dia inteiro me mimando, ignorando todas as vezes em que eu dizia que já estava bem. Naquela madrugada, mesmo depois que dormi, os dois ficaram acordados, monitorando meu sono. Era impossível não achar fofo o quanto se preocupavam comigo.
Agora era meia-noite, e eu não conseguia dormir. Faltavam apenas três dias para o casamento, e minha ansiedade estava à flor da pele. Depois de muito rolar na cama, me desvencilhei devagar de Apollo para não acordá-lo, especialmente depois da noite anterior.
Fui para a sala, me sentei no sofá e liguei a TV. Zapeei pelos canais até que algo chamou minha atenção: Ghost – Do Outro Lado da Vida. Sorri, nostálgica. Era o filme favorito da minha mãe. Fechei os olhos por um momento e me permiti imaginar como seria se ela ainda estivesse aqui. Pensei nela me assistindo ganhar o estadual, vibrando de orgulho. E, naquele instante, a realidade me atingiu como um soco no estômago.
Se minha mãe estivesse viva, talvez eu nunca tivesse feito o que fiz para acabar numa clínica psiquiátrica. Imaginei como ela reagiria ao meu pedido de casamento, à notícia de que seria avó. Mas, acima de tudo, me doía saber que ela não estaria no meu casamento, não veria os primeiros passos do meu bebê, não comemoraria o aniversário de um ano dele. A pessoa mais importante da minha vida não estaria presente para presenciar tudo isso.
Sem perceber, as lágrimas começaram a cair, uma atrás da outra, como um rio transbordando. Peguei o celular na mesinha de centro e procurei o contato do meu irmão. Pensei em ligar, mas hesitei. Neo passou a noite acordado com Apollo cuidando de mim e passou o dia inteiro gravando um clipe. Ele provavelmente estava exausto. Não podia acordá-lo só para falar da nossa mãe, ainda mais sabendo o quanto isso o afetava. Ele nunca teve a chance de se despedir dela, e carregar essa culpa parecia pesar mais sobre ele do que sobre mim.
Respirei fundo, tentando acalmar o choro, e coloquei o celular de volta na mesa. Precisava me distrair. Foi quando senti um chute preciso na barriga.
— Oi, bebê, você também não consegue dormir? — murmurei, passando a mão pela barriga.
Um pensamento me atravessou como um raio: o bolo de canela da minha mãe. Sorri, limpando as lágrimas, e me levantei.
— Vamos fazer o bolo da vovó. Se ficar ruim, você promete não contar pra ninguém, tá? — falei, caminhando para a cozinha.
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Mil Versos -apollo Mc
Romanceleonor era uma das maiores mcs do rio de janeiro, era apaixonada pelo que fazia , e recentemente foi considera a rainha do tanque , por ser a MC feminina com mais títulos naquela batalha , Léo conheceu a cultura através do seu irmão neo , depois de...