Helijah Lewis

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Diário de pesquisa 23 de dezembro de 1965

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Diário de pesquisa
23 de dezembro de 1965

Nova Orleans

O odor do Natal permeia o ar, como um perfume agridoce que enoja minha alma imortal. É a época do ano em que os humanos se perdem em seus próprios delírios de virtude, mascarando suas mesquinharias com luzes brilhantes e promessas vazias. Um espetáculo cansativo, que não mudou nos séculos desde que abandonei a mortalidade. Festas adornadas com hipocrisia e o toque mórbido de uma civilização que se recusa a aceitar a própria decadência. 

Os sinos da cidade clamam por redenção, mas minha mente está ocupada com encontros recentes – alguns mais desagradáveis que outros. Em Nova Orleans, cidade de segredos antigos e sombras ainda mais antigas, cruzei meu caminho com Vincent Price. Oh, o infame caçador de vampiros! Que ironia amarga encontrar este homem, que uma vez ergueu sua lâmina contra os nossos, agora reduzido àquilo que mais desprezava. 

Price tornou-se uma sombra, um espectro de sua antiga glória, agora tomado pelo que há de mais vil e depravado. Sua alma está corrompida, saturada de um sadismo que supera até os prazeres mais mórbidos dos imortais. Ele se autodenomina um "justiceiro", mas seus atos não têm mais nada de justiça. Ele é tão vampiro quanto aqueles que jurou destruir, embora sua transgressão seja mais grotesca: a hipocrisia de um homem que abraçou a escuridão que prometeu erradicar. 

Fui obrigado a vê-lo por dias a fio, analisando seu comportamento. Ele ainda acredita ser um predador, mas não passa de uma presa que se alimenta de dor e desespero, um animal ferido que não percebe que já perdeu o controle. Não há glória nele, apenas uma podridão que envergonha até os mais degenerados dos nossos. 

E então há as bruxas. Essas criaturas, cujas vidas são dedicadas a um equilíbrio traiçoeiro entre o poder e o desespero, sempre me despertaram um desgosto peculiar. Não pelo que são, mas pelo que representam. Bruxas não são apenas humanas tocadas pelo sobrenatural; elas são um lembrete constante do quão baixo a humanidade pode se inclinar em sua busca por poder. 

Elas operam na escuridão, mas não com a elegância dos vampiros. Suas magias são caóticas, um insulto à ordem natural do mundo. Não há harmonia em seus feitiços, apenas a sede desenfreada de manipular o que não compreendem plenamente. Eu as vejo como parasitas da energia, desrespeitando as leis que regem nossa existência. 

Nova Orleans é o reduto delas. As bruxas daqui são especialmente presunçosas, acreditando que seus rituais podem controlar até mesmo os imortais ou torná-las em algo ainda mais poderoso. Conheço suas histórias e segredos. Elas se escondem em becos sujos e casas aparentemente inofensivas, mas suas práticas são imundas. Não compartilho do fascínio que alguns de minha espécie têm por elas; considero suas alianças frívolas e seus juramentos facilmente quebráveis. 

Ainda assim, há um respeito sombrio por sua tenacidade, mesmo que me repugne. Elas vivem, morrem e renascem em um ciclo contínuo de ambição e desespero, um ciclo que, francamente, as consome mais rápido do que os séculos consomem a mim. 

Hoje, a lua cheia se ergue sobre Nova Orleans. A cidade é uma pintura grotesca de decadência e beleza. Ouço os cânticos ao longe, o som de feitiços sendo lançados por aquelas mesmas bruxas que desprezo. Sinto a energia vibrando, pesada e intoxicante, como se a própria terra estivesse se contorcendo sob o peso de suas palavras. 

E enquanto os humanos celebram o nascimento de seu salvador com vinho barato e sorrisos falsos, eu observo, desapegado, lembrando-me de que este mundo – e todos os seus jogadores – não é nada mais do que um palco para a decadência que todos negam. 

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