volume I - Lua crescente
Forks, a pequena cidade no estado de Washington, sempre esteve envolta em uma neblina constante, como se o mundo natural tentasse esconder os segredos que ali se abrigavam. Mas naquela noite, algo diferente se aproximava, al...
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capitulo XXII
O restaurante estava quase vazio naquela tarde chuvosa. Cada gota batendo nas janelas parecia marcar o tempo com lentidão cruel, misturando-se ao tilintar distante de talheres e ao murmúrio da cozinha.
Um homem entrou, passos silenciosos, avaliando cada mesa, cada sombra projetada pela luz difusa. O terno impecável, cabelo perfeitamente alinhado, postura ereta; a presença dele era uma declaração de controle. Chegou ao balcão e pediu, com uma calma quase letal:
— Uma cerveja.
A garçonete trouxe o copo gelado sem hesitar. Ele se sentou, dedos envolvendo a base, olhos percorrendo cada canto, cada movimento — à procura dela. Mas a cadeira ao lado permaneceu vazia.
Horas passaram como se o tempo tivesse sido arrancado de qualquer sentido. Cada cliente, cada risada, cada tilintar de talheres, tudo parecia irrelevante diante da ausência de quem ele esperava. Primeiro, tentou racionalizar — talvez estivesse ocupada, talvez algo tivesse surgido. Mas a sensação de provocação, de ser ignorado propositalmente, crescia dentro dele como um fogo negro.
— Você se diverte? — murmurou para si mesmo, a voz baixa, carregada de veneno, enquanto seus olhos retornavam à porta. Cada minuto era um desafio silencioso, uma afronta que não podia aceitar.
Então, surgiu uma presença ao seu lado. Silenciosa, quase imperceptível, carregando consigo um perfume frio de autoridade. O ar entre eles se condensou, denso, como se a própria sala reconhecesse a tensão.
— Interessante... — disse a voz, baixa e carregada de julgamento — parece que você está frustrado.
O homem permaneceu imóvel, cada músculo rígido, cada palavra medida. Mas uma faísca de raiva escapava de seus olhos, intensa, concentrada.
— Estou esperando alguém que deveria estar aqui — murmurou, quase um rosnado contido — mas ela decidiu ignorar o convite... inaceitável.
O silêncio se estendeu, pesado, apenas a chuva e o murmúrio da cozinha preenchendo a distância.
— Inaceitável... é pensar que pode esconder algo de mim — disse a voz, fria, calculada, cada sílaba uma lâmina.
— E quem seria você para ditar isso? — Price respondeu, a voz baixa, carregada de desprezo. — Achei que estivesse ocupado demais para aparecer aqui.
Um sorriso frio curvou os lábios da presença, pequeno, mas suficiente para deixar claro que cada palavra era medida, um golpe silencioso:
— Ocupado? — repetiu, lento, cortante — ou seria mais adequado dizer... apagando rastros que deixava para eu seguir, enquanto armava suas peças para minha sereia?
Price desviou o olhar, calculando, processando, absorvendo cada nuance da provocação. — Um jogo meu, como sempre. — A voz baixa, cada palavra mortal, cada sílaba cuidadosamente posicionada.
— Algo seu? — disse a voz, saboreando cada sílaba, carregada de perigo — eu já deixei claro meu conselho: não me faça repetir. A sereia é minha. Diferente das outras. Você não vai tirá-la de mim.
— Não pretendo, apenas... me divertir — Price murmurou, controlando a raiva crescente — saber que ela está próxima de Carlisle torna tudo ainda mais interessante.
O silêncio retornou, pesado, quase sufocante, até que a voz se aproximou, firme, baixa:
— Estou de olho em você, Price.
O nome cortou o ar como uma lâmina afiada, rompendo o véu do mistério. Price arqueou a sobrancelha, soltando um leve sorriso que não alcançava os olhos:
— Está me ameaçando? — murmurou, voz carregada de ironia.
— Mais do que isso — respondeu a voz, fria, calculada — tenho observado cada movimento seu, mais profundamente a cada década que passamos juntos. Aprendi a ler você... cada hesitação, cada disfarce, cada truque.
— Interessante — Price sorriu lentamente, letal — e o que isso significa? Que você já encontrou o que queria? Que eu não sou mais importante?
— Exatamente — veio a resposta, a ameaça velada permeando cada sílaba.
Price deixou o silêncio se alongar, saboreando o peso daquelas palavras. Então falou, cada sílaba fria, maquiavélica, mortal:
— Duvido muito que apenas uma seja suficiente — disse baixo — e eu sei das suas pesquisas, dos seus objetivos finais. Se realmente quer aquilo... no final, vai perceber que sou peça fundamental no seu quebra-cabeça.
O olhar da presença era firme, calculado, mas uma tensão sutil denunciava irritação.
— Não mate minha sereia, Price — disse finalmente, voz carregada de aviso — ou verá o pior de mim. Lembre-se: sou o vampiro mais velho aqui.
— Não me ameace — Price retrucou, sem recuar — você pode ser o mais velho, mas se tem algo que aprendi ao longo dos séculos é matar seres como você.
Um silêncio mortal caiu sobre a mesa. O tilintar distante de talheres, o sussurro da chuva, tudo parecia pequeno diante da tensão que acumulava entre eles.
— Talvez então morramos os dois — murmurou, os olhos gelados — a menos que trabalhemos em conjunto. Sem segredos: você quer se vingar de Carlisle, eu quero a sereia. Pronto. Armamos para os dois.
Price sorriu, lentamente, com a frieza de quem saboreia cada segundo de um jogo mortal:
— Sem segredos, então. Mas lembre-se... se a caça é minha, a vitória também será.
O clima carregado, quase palpável, envolvia-os como uma armadilha prestes a se fechar. Cada gesto, cada palavra, cada silêncio era parte de um jogo antigo e mortal — um duelo entre predadores que se conheciam há séculos, mas cujo próximo movimento definiria mais do que apenas o destino de uma sereia.