Me and you - Emma Koch e Rafe Cameron

Cap 70

Rafe estava sentado na sala, com os pés descalços tocando o chão frio. A casa estava tranquila, com o som suave da respiração de Lily vindo do quarto ao lado. Emma estava na Koch, e ele tinha decidido passar o tempo olhando algumas coisas da infância dela, coisas que ela nunca realmente lhe contou. Ao mexer nas gavetas, ele encontrou um diário antigo, bem cuidado, com a capa de couro já meio amarelada. Ele sabia que Emma não gostava de falar muito sobre o passado, mas ali, naquele diário, talvez ele encontrasse um pedaço dela que nunca conheceu.

Ao abrir a primeira página, ele ficou surpreso com a caligrafia impecável. As palavras de uma garotinha de 6 anos, mas escritas com uma precisão impressionante, como se ela já estivesse tentando organizar seus pensamentos de uma maneira adulta, muito mais madura para sua idade. Ele leu em voz baixa para si mesmo:

"Hoje a professora me disse que tenho que ser mais alegre. Eu tento, mas às vezes as coisas não são tão fáceis. Papai disse que tudo vai melhorar, mas às vezes fico sozinha, mesmo quando estou com as pessoas. Às vezes, parece que ninguém me entende."

Rafe sentiu um aperto no peito. Ele nunca soubera o quanto Emma, mesmo tão nova, se sentia sozinha. Ele sempre soubera que a vida dela não tinha sido fácil, mas ler aquelas palavras o fez perceber o quão pesada tinha sido sua infância. Ele virou a página, seus olhos deslizando sobre as palavras delicadas:

"No evento na praça, vi um menino que me deu um camarão de pelúcia. Ele parecia tão simpático, mas eu não sabia o nome dele. Eu queria perguntar, mas eu tinha medo de fazer algo errado. Ele sorriu pra mim e foi embora. Eu espero que ele lembre de mim algum dia."

Rafe parou por um momento, sentindo um sorriso involuntário surgir em seus lábios. Era como se aquela frase tivesse sido escrita por um anjo inocente, uma criança que ainda acreditava no poder da gentileza dos outros. Ele olhou para a data e fez as contas rapidamente. 2009. Ele se lembrou do evento na cidade, do camarão de pelúcia. Ele se lembrou de como ele tinha dado aquele presente para ela, sem saber quem ela era na época. Como ela tinha ficado tímida, sem saber como reagir. Ele sempre achou curioso o jeito que ela olhou para o brinquedo, como se estivesse esperando algo mais, algo que ela não conseguia encontrar.

Aquele gesto de sua parte parecia tão simples, tão inocente, mas para ela, tinha significado tanto. E ele não sabia, naquele momento, que ela estava escrevendo sobre ele.

Ele leu mais, e as palavras seguintes o pegaram de surpresa:

"Eu gostaria de poder ser mais como as outras crianças. Elas sabem como sorrir e brincar sem se preocupar com nada. Eu só queria que alguém me visse, de verdade."

Rafe sentiu uma dor profunda, como se o peso daquela frase o estivesse esmagando. Ele tinha se apaixonado por ela sem saber a história completa, mas agora, lendo aquelas palavras, ele entendia mais sobre o que a havia moldado. Ela nunca tinha sido só a mulher forte que ele conhecia. Ela sempre tinha carregado o fardo da solidão, da expectativa.

Fechando o diário com um suspiro, Rafe se apoiou no sofá, com a sensação de que, pela primeira vez, ele tinha tocado uma parte de Emma que ela nunca havia compartilhado com ele. Ele não tinha mais dúvidas sobre o quanto ela era especial, e o quanto ele queria ser o alguém que a fazia sorrir de verdade agora, em seu presente.

E por mais que o passado de Emma fosse doloroso, ele sabia que, com ele, ela nunca mais precisaria se sentir sozinha.

Rafe abriu o armário onde Emma guardava álbuns de fotos. Ele puxou um deles, a capa em tom creme com detalhes dourados, e começou a folhear as páginas. As imagens estavam perfeitamente organizadas, como era típico de Emma. Cada fotografia parecia carregar uma história especial, mesmo sem legendas.