18. Não me deixes assim pai.

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Michael


Neste espaço de tempo provavelmente infringi todas as regras de condução, nunca tinha visto o ponteiro da velocidade tão no fundo. Mas não queria saber, nada era importante agora.


Se tinha vontade de beber agora? Muita, se o ia fazer? Claro que não, eu não queria ser mais uma desilusão para Hope, não queria partir o seu coração.


Calum disse que era importante mantermos-nos juntos agora, e que mesmo longe era essencial dar apoio a Hope.


Bati rudemente na porta de Calum e rapidamente o mesmo abriu-a. Os meus olhos estavam vermelhos, e os nós dos meus dedos ensanguentados devido aos vários murros que havia dado numa parede. Calum viu isso, e fechou a porta atrás dele sentando-se no muro a minha frente.


"Ouve Michael, ela precisa de o fazer sozinha" Calum disse, repetindo as palavras de Hope.


"Não a viste como eu a vi, ela não o pode fazer sozinha. Eu não a posso deixar agora" Estava nervoso, muito demasiado.


"Mike tem calma por favor, assim não a consegues ajudar" Calum pediu e eu ouvia o desespero na sua voz. "Ela precisa de ti"


"Eu preciso de estar com ela agora, eu vou ter com ela." Cuspi para o ar. "A Hope precisa de mim agora e eu preciso de a apoiar neste momento"


"Michael eu não te posso impedir de ir"


"Ninguém me vai impedir, eu sei que ela precisa de alguém para estar com ela agora. Esse alguém vou ser eu"


Joanne apareceu assustando-me. Ela estava com os olhos inchados e podia sentir a dor dela no olhar. Eramos todos demasiado próximos.

"Eu preciso de estar com ela Michael" Joanne disse, fungando o nariz.

"Eu vou ter com ela, sozinho" Disse adentrando a casa de Calum.

"Mike" Calum gritou por mim caminhando atrás de mim. "Por favor tem calma"

"Não tenho calma, porque eu estou a ver-me na situação dele. Eu não quero, eu não vou acabar assim" Gritei. "Eu necessito de estar com a Hope"

Calum assentiu entendendo-o a minha mensagem. Voltei para o carro dirigindo-me de novo ao aeroporto.

Hope

O meu corpo doía, sentia-me dormente. Uma senhora acordou-me assim que cheguei a minha terra. Manhattan. A minha mãe rapidamente veio ao meu encontro, já fazia algum tempo desde a última vez que a vi. Nunca pensei rever a minha progenitora desta maneira. Ela estava magra e usava roupas escuras, seu olhar estava pesado, parecia outra.

Durante o caminho não trocamos nenhuma palavra, o ambiente estava pesado e eu tinha dificuldade em respirar. Sentia-me uma estranha, com a minha própria mãe, neste momento questionava-me sobre o porquê disto?

"Deves estar cansada Hope" Disse cortando o silêncio.

"Não estou, quero ver o pai" Disse observando as ruas que em tempos bem conheci.

"Como queiras, os médicos ainda não o conseguiram acordar" Avisou e eu sentia a frieza na sua voz. "Ele já chegou um pouco tarde"

Engoli em seco as suas palavras, sentia-me nervosa. As memórias, boas e más, que tinha com ele assombravam a minha mente deixando-me tremelicante. Queria chorar mas agora era diferente, agora tinha de ser forte. Mas eu sabia que não o era, teria de fingir que nada me atingia quando por dentro estava completamente destruída, magoada, quebrada.

Assim que entrei no hospital segui a minha mãe, a minha gargante parece ter fechado pois até a minha saliva parecia impossível de engolir, o ar parecia água nos meus pulmões.

No momento em que rodei a maçaneta da porta, tudo pareceu acontecer em câmara lenta. Ele estava ali deitada naquela cama inconsciente e entubado.

Desmoronei

Estava sozinha agora, por isso não precisava de aguentar mais nada. Cai de joelhos ao lado da cama. Agarrei na mão dele com força e deitei a minha cabeça sobre ela.

"Desculpa pai, por não te entender por nunca ter procurado ajuda para ti. Tu merecias outro fim, não este. Eu amo-te muito pai, por favor acorda não me deixes assim. Não me deixes sem primeiro me despedir de ti, não me deixes sem que nos perdoemos um ao outro. Pai eu desculpa por tudo o que te disse, eu não te odeio tu és o melhor pai que eu podia pedir. Tens os teus problemas os teus defeitos mas todos os temos."

Eu apertava a sua mão, mas ele não apertava a minha. Sabia que provavelmente ele me ouvia, mas não tinha a certeza, apenas precisava de dizer aquilo.

Apenas precisava de parar de afastar as pessoas, o Michael está certo eu não posso continuar a afasta-lo, não agora. Não agora que preciso de estar nos braços dele.

HOPE » Michael CliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora