17. Coma (parte 1)

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Hope


As cortinas do quarto de Michael estavam abertas, ele nunca as fechava, então pela manhã os raios de solo penetravam as paredes iluminando o espaço tornando dormir algo impossível. Acho que ele deixava as cortinas assim para despertar, e mesmo assim era complicado para ele acordar.

"Mike" Abanei o seu corpo delicadamente e o mesmo grunhiu afundando a cabeça na almofada. "Mike acorda"


"Deixa-me dormir Hope caralho" Grunhiu novamente afastando-se de mim.


"Vou tomar banho Michael" Ri destapando-me, assim que levantei o meu corpo da cama senti uma leve pontada no interior das minhas coxas, quase uma espécie de ardor, mas ignorei. Michael sentou-se imediatamente na cama cochando os olhos.

"Não ias tomar banho?" Questionou decepcionado assim que me viu abrir o seu armário, estava tudo desarrumado como era de esperar. Retirei a sweat que usava sempre quando dormia aqui. Vestia, vestindo em seguida umas leggings pretas simples.

"Agora que acordaste mudei de ideias" Ri.

Michael revirou os olhos levantando-se, assim que tive a oportunidade de o ver de costas pode ver as minhas marcas nas suas costas, sorri depois rindo-me demasiado alto captando a sua atenção.

"Qual é a piada menina Hope?" Questionou depois de vestir uma camisola qualquer preta de manga comprida.

"Tens uns arranhões muito artísticos nas costas, a tua gata deve ter umas unhas muito compridas" Mike caminhou na minha direção depois de apertar o cinto das suas calças e quando pensei que me fosse beijar, afastou-se rindo-se afonicamente.

"Não me provoques, o dia ainda agora começou" Sussurrou fazendo-me rir ainda mais.

(...)

Senti um leve toque no meu ombro no fim da última aula do dia, era Joanne. Virei-me para ela apoiando nas costas da cadeira.


"Podemos almoçar juntas, por favor?" Joanne mordia o interior da sua bochecha em conjunto com o lábio. Conhecendo-a como conheço só podia ser algo grave, pois só o fazia quando estava nervosa.

"Claro que sim" Sorri.

Assim que o toque se fez ouvir arrumei as minhas coisas, e levantei-me caminhando com Joanne até ao restaurante mais próximo da faculdade. Pedimos o prato do dia, e assim que o mesmo chegou comecei a comer observando Joanne que parecia ter um nó na garganta.

"Está atrasado. O meu período está atrasado" Disse nervosa bebendo um pouco de água no fim.

Os meus olhos estavam arregalados, e a minha boca aberta.


"Tu achas que estás-?" Joanne não me deixou terminar a frase.

"Sim, eu acho" Suspirou. "Ainda não fiz o teste, talvez o faça mas não tenho coragem. E agora Hope? Eu tenho 20 anos, eu ainda nem acabei o meu curso nem sequer tenho casa e nem sequer sei se Calum quer este filho nem eu mesmo sei se o quero" Joanne estava prestes a chorar, agarrei na sua mão e fiz-lhe algumas festas.

"Ouve, tu não tens a completa certeza que estás grávida, e o Calum sempre quis ser pai ele nunca te iria abandonar. Estamos no último ano, para o ano já acabaste e casa arranjas uma, o Calum tem casa. E sobre o bebé, Joanne ser mãe é um milagre é algo puro e tu sempre quiseste ser mãe" Não sabia o que fazer, apenas não queria que nada estivesse mal na vida dela. Sei que independentemente de estar grávida ou não ela ficaria bem com Calum ele tomaria bem conta dela. E o facto de estarmos cada vez mais próximos do futuro de como seriam as nossas vidas depois destes anos de loucura deixava-me feliz e ansiosa. Quem seria o primeiro a criar família?

Antes de Joanne poder falar o som do meu telemóvel fez-se ouvir, pensei que fosse Michael mas assim que vi o nome Mãe escrito no visor senti uma pontada tão forte no peito que tive de agarrar a mesa com força numa tentativa de a aliviar. Ela quase nunca ligava, ligava as vezes necessárias mas não muitas.

"Sim mãe?" Perguntei desconfiada.

"Hope tens de voltar para casa o teu pai está no hospital"

O meu mundo caiu ao chão fiquei sem ar, senti-me impotente. Não sabia o motivo, mas suspeitava. A minha vista imediatamente ficou turva Joanne agarrou a minha mão com força fazendo-me chorar ainda mais.


"O que se passa mãe? O pai? Mãe o pai por favor o que se passa?" Chorei tentando falar ainda com a respiração falha.


"Filha o pai entrou em coma alcoólico" Podia sentir a dor na sua voz. O que mais temia estava a acontecer.


"O que faço mãe?"

"Preciso de ti aqui, apanha o voo mais próximo que tenhas, eu pago" Disse rapidamente. "Acabei de transferir o dinheiro para a tua conta, filha preciso de ti aqui" Ambas chorávamos.

Desliguei o telemóvel e olhei para Joanne desfeita em lágrimas, eu temia perder o meu pai. Temia isso a cima de tudo. Por muitos problemas por muita dor que ele me tenha causado eu não o podia perder. Eu amava-o. Eu era a menina dele, a sua única filha. A menina de ouro do papa.


"O meu pai entrou em coma Joanne, coma alcoólico" Não tinha uma expressão no rosto. "Eu vou ter de ir embora, provavelmente vou esta noite" Avisei-a.

Fizemos o caminho de volta a faculdade por esta altura já todos sabiam o que tinha acontecido. Joanne disse que Michael saiu da sua aula para me vir ver, ele sabia de tudo, não parava de chorar e assim que cruzei os portões da faculdade os braços de Michael apertaram-me com força, envolvendo-me num abraço. Sentia-me bem como ele, ele era o meu lar o meu significado de casa. Os braços dele eram o meu lar.


"Eu sinto muito anjo" Murmurou beijando o topo da minha cabeça.

HOPE » Michael CliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora