51. Como sempre fizemos

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HOPE A minha mãe estava aflita. O relógio marcava as onze da manhã e o meu pai ainda não tinha regressado. Michael tentava acalmar-me mas eu não o iria fazer até que visse o meu pai na minha frente. Provavelmente para lhe dizer para nunca mais me chamar de filha ou então para correr para os braços dele e abraça-lo e implorar que nunca mais me deixasse. Era uma doce contradição, ou melhor amagra e cheia de magoa.


Levantei a cabeça do colo de Michael quando ouvi um grito agoniado da minha mãe vindo da cozinha. O telefone tinha acabado de cair. Perdi a noção do que se passava e deixei de respirar direito. Michael abraçou-me como se tentasse envolver-me nele e fazer-me esquecer de tudo. Corremos até a cozinha e assim que a alcançamos vi a minha mãe mais pálida que nunca, os seus olhos não tinham brilho e eu sabia que ela estava fraca. Michael puxou uma cadeira para ela enquanto eu lhe dava um copo de água com açúcar. Pensando que eu precisava de um copo com açúcar era eu.


"Por favor mãe diz-me o que se passa?" Perguntei sentindo o meu peito apertar-se de uma maneira que juro que podia sentir o meu coração saltar-me pela boca.

"Hope meu anjo..." Ela chorou puxando-me para um abraço.


"Mãe o que foi?" Voltei a perguntar já pronta para chorar. "Mãe diz-me o que se passa?" Separei-me dela voltando para o meu sítio. Respirei fundo antes dela falar.

"Hope... Eu não sei como dizer isto." Ela levou as mãos a cara limpando as lágrimas friamente. "O teu pai morreu"

O meu mundo parou. Cai de joelhos no chão e a dor não me atingiu. Michael baixou-se apanhado-me nos braços dele. Os meus gritos de dor ecoavam pela casa inteira. Sentia o ar desaparecer dos meus pulmões, quase que sentia água no lugar do ar. Sentia-me como se todos os adeuses que tinha direito a ouvir estavam a ser gritados bem alto nos meus ouvidos cruelmente.

Michael prensou-me contra o seu peito e eu puxei pela sua camisola. Não sentia o meu corpo, não sentia nada. Tudo ficou negro. O meu mundo parou. Michael sussurrava-me para ter calma. A minha mãe não derramava lágrimas mais. Eu estava a ficar sem ar a cada segundo que passava.

"Como?" Arranjei maneira de questionar. Todas as vezes que Michael me puxava para cima eu caia novamente.

"Não aguentou outro coma alcoólico." Sentia a morte tocar-me no ombro friamente.

Só horas depois quando Michael ligou para informar os outros é que fiquei consenciente que não me despedi do meu pai. Ele morreu. Ele partiu, e eu não me despedi. Não disse que o amava. Não disse que amava, ele partiu sem saber o quanto eu o amava independentemente de tudo. Não o abracei no seu último dia.

"Mike.." Sentei-me do seu lado abraçando-o. "Eu não me despedi dele."

"Oh meu amor" Michael puxou-me contra ele deixando-me no seu colo. Abraçou-me e não me largou. Os minutos passavam e a dor só crescia mais.

[...]



O que comi nos três dias seguintes foi obrigado. Não via a luz do dia, e não queria estar com ninguém. Algo em mim me gritava o quão má filha em fui durante o tempo em que o meu pai viveu. Eu não o ajudei. Sinto-me culpada.


"Está na hora." Joanne entrou de preto no meu quarto. Limpei as lágrimas e sai do mesmo.


Como deveria eu sentir-me ao saber que estava a caminho do funeral do meu pai?



O tempo passava e Michael não parava de me abraçar. O vento era gelado, cortava os meus lábios e deixava-me corada. O cabelo Michael escapava pelo gorro, e o seu casaco de três quartos aquecia-me. As minhas lágrimas pareciam congelar sempre que o vento me atingia.

Tinham acabado de enterrar o caixão e todos começaram a ir embora, a abandonar a alma dele ali. Não consegui ir embora. Estava colada ali literalmente. Michael puxou-me mas eu pedi para ficar só mais um pouco. O vento fazia as folhas voarem, as árvores gritavam com o vento e as nuvens eram negras.

"Desculpa pai por nunca te ter ajudado." Sussurrei deixando cair uma lágrima sobre a sua lápide. Michael abraçava a minha cintura enquanto eu colocava uma rosa sobre a lápide. Abraçou-me quando eu acabei acariciando a minha bochecha.

"Michael eu não sei o que fazer mais." Rodeie o seu antebraço com o meu para não cair e encostei-me ao seu peito. Sentia-me fraca.

"Vamos ultrapassar a tua perda juntos.. Como sempre fizemos."



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Peço desculpa pelo capítulo ser pequeno mas não consegui escrever de outra forma. Espero que gostem!


HOPE » Michael CliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora