40. Tentaremos remediar a dor.

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JOANNE

A dor tornava-se mais forte a cada segundo que passava. Assim como o meu medo. Calum estava tão nervoso, ele não conseguia esconder o nervosismo. Mas assim que me senti húmida e vi uma mancha de sangue na roupa todo o meu mundo caiu ao chão. Morri um pouco por dentro e chamei Calum que estava na sala a tentar distrair-se.

"Cal.." Disse fracamente sentindo as lágrimas começarem a cair.

Assim que ele viu o que eu tinha visto, ficou sem reação. Caminhou até mim e caiu de joelhos na beira da cama, do meu lado. Agarrou a minha mão com tanta força mas tão delicadamente ao mesmo tempo. Beijou-a.

"Diz-me o que eu tenho de fazer amor." Calum falava sem fôlego. Apontei para a minha mala onde tinha tudo o que era necessário.

Contra a minha vontade Calum levou-me até ao colo até ao carro. Acelerou pelas ruas, quebrando a maioria das regras e leis. Gemia agoniada. De todas as dores que senti esta era a mais forte, a pior. Acariciava a minha barriga tentando prometer a esta família que tudo ia acabar bem, que íamos ficar os três são e salvos. Mas algo em mim gritava morte, algo em mim não estava bem. Eu conseguia sentir.

"Joanne, meu amor" Calum disse quase gritando. Olhei-o, ele estava focado na estrada mas mesmo assim apertava a minha mão livre.

"Calum..." Fechei um pouco os olhos devido a forte luz do sol. Vi-a o hospital aproximar-se e tremi assim que Calum estacionou o carro e me arrancou do mesmo correndo comigo. A mancha estava um pouco maior, e a dor era tão forte que eu já não sentia nada além dela.

CALUM

Tudo parou dentro do edifício. As atenções foram postas em nós, vários médicos rodearam-nos tirando-a dos meus braços. Colocaram-na numa maca e eu corria com eles do lado dela nunca largando a sua tremelicante mão.

"Quanto tempo está?" Perguntou-me o médico já que ela não conseguia falar direito devido as dores.

"Cinco, quase seis. Alias esta semana faz os seis." Respondi nervosos. Tudo estava a desmoronar e eu não tinha força para aguentar com o telhado.

O médico olhou-me bem nos olhos, não precisou de falar. Eu vi no seu olhar que estava tudo mal, algo se passava. Era cedo demais.

O tempo passava mas eu não sentia as coisas, apenas seguia o amor da minha vida de um lado para o outro. Ela chorava tão alto que se devia ouvir em todos os cantos e becos deste hospital. Neste momento estavam a fazer um ultra som nela, Joanne olhava para as figuras estranhas que eram visíveis no ecrã. Não era igual. Estava diferente.

Os médicos falavam entre si apontando para certos sítios. Ali estava o meu filho. Assim como Joanne, eu sempre sonhei com isto. Se algo mau está a acontecer é com ambos. A dor é de ambos.

"Não precisamos de fazer mais exames.." A médica começou limpando o gel da barriga de Joanne.

Olhei-a confusa, sentindo um trago de raiva apoderar-se de mim. Joanne estava tão assustada, beijei a sua mão entrelaçando os nossos dedos. Agora ambos tremiam. Eu não sabia se queria ouvir.

"Vamos ter de operar a menina. Infelizmente o bebe pode ter falecido devido aos quistos que Joanne tem nos ovários. O risco é muito alto para ela, temos de operar agora." Joanne não gritou, não chorou olhou para mim e bastou ver que o meu amor havia perdido tudo. O seu olhou ficou sem brilho algo morto estava dentro dela, esse algo era o meu filho. O nosso filho. Não consegui, chorei afundando a cabeça na mão dela.

Numa fração de segundos, eles retiraram-me do quarto. A última coisa que vi foi Joanne a gritar por mim assustada. Olhei-a e fiz um esforço para o meu olhar ser seguro para ela.

HOPE » Michael CliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora