02. "O que se passa contigo Hope?"

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O som de uma batida na porta fez-se ouvir. Eles tinham chegado, e eu só queria desaparecer. Joanne rapidamente atravessou os cômodos a correr para me abraçar, fazendo Calum o seu namorado, rir.

"Estás a esmagar-me Joanne" Falei quase sem ar. Por fim largou-me.


"Uma pessoa não pode ter saudades dos amigos e demonstrar o afeto" Falou completamente indignada indo em direção de Tara, retirando-lhe a taça de pipocas das mãos.


"Podias demonstrar esse afeto ao teu namorado também" Calum comentou fazendo os rapazes rirem enquanto Joanne se acomodava no seu colo.


"Calum, tira as botas de cima da minha mesa" Tara ordenou com a mão na anca enquanto Ashton a ajudava com o resto das taças e bebidas. Tara sem dúvida era a mais responsável de nós todos.

Tentei sentar-me o mais longe possível de Michael, mas como Tara já sabia o que se tinha passado por bem decidiu sentar-se no lugar para o qual eu estava a caminhar, deixando-me assim sem alternativa. Tinha de ficar do lado dele a noite toda. O filme decorria, e todos prestavam atenção de vez em quando Calum comentava alguma coisa idiota fazendo-nos rir e outras vezes Joanne reclamava das cenas violentas dos filmes dizendo o Calum não era normal por gostar e ainda rir-se destes filmes. Em tempos todo nesta noite iria ser memorável, mas agora a única coisa que pensava era que o meu coração estava a partir e Michael estava do meu lado e ele é a razão de tudo isto estar a acontecer.


Precisava de apanhar ar, urgentemente.


Dei a desculpa de que não me estava a sentir muito bem e sai. Caminhei pelo longo corredor até alcançar a saída. Não estava ninguém no jardim, o que era raro mas agradeci mentalmente por isso, sentei-me na relva apoiando os meus cotovelos nos meus joelhos. Não estava ninguém em redor, não precisava de fingir mais que estava bem e que nada me poderia atingir.

Acaba sempre assim, quando se brinca com o amor. Alguém sai de coração partido, e esse alguém fui eu. Tentei sempre ficar forte e não me viciar no toque de Michael, tentar não me viciar nos beijos famintos dele, tentei não ama-lo. Mas é impossível não amar alguém que nos toca como se fossemos a salvação de tudo, não amar alguém que nos protege de tudo e todos. É impossível não amar Michael. Algumas lágrimas escorriam pelas minhas bochechas frias, limpei-as assim que ouvi alguns passos. Levantei discretamente o meu olhar vendo o Michael caminhar em minha direção.


Gritei milhares pedidos de socorro mentalmente.


"O que se passa contigo Hope" Michael falou sem rodeios, quase frio.


"Eu preciso de estar sozinha"


"Não" Michael sentou-se na minha frente. "Tu precisas de me dizer o que se passa"

"Quero parar com isto" Disse, arrependendo-me logo em seguida.

"Parar com o que?" Michael questionou confuso.

"Com o que nós temos, eu não consigo continuar" Disse sentindo algumas lágrimas caírem.

Michael levantou-se e eu imitei o seu ato, ele era muito mais alto que eu e isso estava a deixar-me insegura.

"Isso quer dizer que.." Disse ele sem reação alguma, como se acabasse de descobrir qual seria a morte dele.

"Sim eu quebrei a promessa Michael" Murmurei. "Desculpa Mikey."

"Eu sabia que isto ia acontecer, afinal olha para ti Hope? És a rapariga mais insegura que eu conheço."

"Não fales como se eu quisesse isto" As palavras fluíam e eu não pensava nelas, nem no sentido que elas faziam.


"Por favor Hope, se a tu és igual a tua mãe eu entendo o porque de o teu pai vos ter deixado" Michael disse friamente, partindo o meu coração. Tudo em mim partiu, o meu coração, a minha alma.

Não sabia o que fazer, fiquei imóvel vendo-o desaparecer na escuridão, como eu fiz na última noite que estivemos juntos. Não estava pronta para ouvir aquilo, muito menos vindo dele. Sempre soube que Michael tinha problemas em expressar o que sentia mas o que não sabia era que ele podia ser tão frio, tão cruel ao ponto de me deixar assim. Ser frio ao ponto de em deixar despedaçar.

Minutos depois, que pareceram horas, Joanne e Tara estavam do meu lado sentadas na relva. Ambas me abraçavam pedindo que tivesse calma e explicasse o que se tinha passado. Acho que já não chorava por Michael mas sim pelas memórias que pairavam na minha mente, memórias essas que fazia questão de não me lembrar.

Memórias de uma infância problemática, de uma infância de ilusões e mentiras. Memórias de gritos de dor e de raiva, de copos partidos e de álcool. Memórias de noites passadas em branco e de uma dor no peito de nunca desapareceu, de um vazio que apenas Michael preencheu, mas agora ele arrancou-o. Como se tivesse plantado flores em mim, mas arrancou-as antes que pudesse ver o bem que lhe podiam fazer.

HOPE » Michael CliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora