43. Assombração do passado

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Três semanas depois.

O tempo passava mas os problemas não desapareciam. Agora desejava poder voltar atrás no tempo. Não gostava de viver desta forma, com tantos problemas. Amy docemente arranjou-me um emprego num museu perto de casa. Não podia estar mais agradecida. Tara voltara a ser a pessoa fria que era, questionava-me onde estava a Tara que eu conheci, a Tara do inicio.

A noite fria começava a cair, estava cansada. Queria o conforto da minha cama apenas queria os cobertores em mim assim como os braços de Mike, mas isso teria de esperar.

"Estava a ver que não chegavas" Michael brincou assim que adentrei o já tão conhecido bar.

Joanne estava com Amy e Tara numa mesa a conversar. O olhar dela continuava sem brilho e ela escolheu vestir-se de preto. Apesar de nunca ter tocado ou visto o seu filho era uma perda, uma morte. E não a pior perda que a de um filho. Calum já não sorria como dantes. Eles lentamente voltavam ao normal, lentamente curavam a dor.

"A Miss Woods precisou de mim para arranjar a exposição deste fim de semana" Expliquei a Mike que assentiu afinando a última corda da guitarra.

"A minha menina a trabalhar num museu quem diria" Gozou fazendo-me revirar os olhos. "É perfeito para ti, estas rodeada de arte e eu sei que adoras Hope" Beijou rapidamente os meus lábios antes de eu invadir a conversa delas, sentei-me no meio de Amy e Tara ficando de frente para Joanne.

"Bons olhos te vejam" Riu fracamente Joanne dando-me uma joelhada debaixo da mesa.

"Como estás?" Perguntei delicadamente.

"Bem eu acho. A vida tem de continuar Hope.." Agarrei na mão de Joanne como um geste de apoio e sorri-lhe.

Lentamente começamos a conversar como nos velhos tempos, Tara estava distante mas falava também quando captava algo. Olhei para Joanne e vi-a pálida, ela já era branca dela mas isto parecia que Joanne estava a ver uma assombração. Virei-me para trás, para onde ela olhava. O meu mundo caiu, e em segundos raiva era apenas o que sentia. Tentei levantar-me e caminhar até Michael mas Joanne e Amy agarram-se discretamente.

"Esta puta está a fazer o que, aqui?" Joanne perguntou e eu revirei os olhos.

"Achas que eu sei?" Rudemente olhei para Michael que pareceu contente em vê-la. "Acho que me vou embora.." Levantei-me mas Joanne puxou-me fazendo-me voltar a sentar violentamente do lado dela.

"Não vais a lado nenhum Hope" Joanne olhou-me com o seu olhar intimidante.

"Venho já" Ignorei Joanne e levantei-me. Chamaram-me mas naquele momento eu não ouvia nada.

Dirige-me até a casa de banho, molhei a minha cara com água fria. Lembrei-me de tudo o que já passei por causa daquela loira. De todas as vezes que me empurrou e que me culpou de coisas que não fiz. Lembro-me também de quando Abigail descobriu o meu maior segredo e o contou simplesmente por maldade. Quando contou que o meu pai era alcoólico e todos me abandonaram.

Bati com o meu punho tentando descarregar tudo o que sentia. Não estava a resultar, queria gritar mas ninguém me ouviria pois a música do bar era alta e os gritos ainda maiores. Eles tinham começado. A minha cabeça doía. Latejava de raiva. Michael vinha sempre ter comigo no fim, mas esta noite penso que se esqueceu de mim. Sempre que olhava para o balcão via-os a beber alegremente. Queria fazer algo mas eu não era ninguém para fazer alguma coisa o que podeira eu fazer?

[...]

MICHAEL

Perdera a consciência dos meus atos. A sensação tão conhecida de não estar sóbrio começava a fazer-se sentir. Ela estava aqui. Eu não respondia por mim, quase como se não tivesse controlo sobre mim.

Quando dei por mim, estava rodeado pelas paredes grafitadas da casa de banho. Tudo parecia girar já não sentia prazer em estar assim. Gritava para parar mas lago em mim me impedia. Os beijos dela não eram os de Hope, não me despertava interesse quando esta beijava o meu pescoço, não era quem eu queria. Ela era um fantasma do passado que eu nunca mais desejava ver. Eu nem sei bem o que estou a fazer com esta coisa nesta casa de banho que está a cair aos bocados. Se estivesse com Hope seria deveras tentador mas não era. E quando ganhei consciência que não era já era tarde pois Hope já chorava mais do que devia por mim.

"Nunca mais me toques, eu odeio-te" Hope gritou e virou-me costas. Empurrei Abigail e corri atrás dela.

"Não me digas que podes explicar o que eu vi! Eu sei bem o que vi! Esquece que eu existo" Voltou a gritar mas agora mais alto. Ela chorava.

"Hope.." Tentei falar mas ela começou a andar. "Caralho Hope, ouve-me" Puxei-a pelo braço.

"Olha para ti? Estás uma lástima Michael, sentes-te bem assim? Gostas de ser decadente? Porque ela?" Vi a raiva nos olhos de Hope sabia que se estivesse mais próximo dela, ela estaria a esmorrar o meu peito ou a minha cara.

Segundos depois, estavam aqui todos em nossa volta. Joanne abraçou Hope assim como Amy e Tara.

"Parece que voltamos aos velhos tempos" Abigail disse aparecendo no meio deles. Senti-me a pior pessoa do mundo neste momento. Talvez eu fosse a pior pessoa do mundo. Talvez Hope não merece isto. Eu destruí tudo.

"Minha filha da puta chega-te aqui" Joanne largou Hope e antes que Calum pudesse fazer alguma coisa puxou Abigail pelos cabelos.

"Ainda estas com o Calum? Foda-se Joanne pensei que não fosse durar" Comentou depois de Calum fazer Joanne lagar-la.

[...]

HOPE

Três dias depois Joanne obrigou-me a ir buscar as minhas coisas. Exigi ir sozinha. Precisava de fazer isto sozinha. Assim que adentrei o meu temporário lar, rezei para que ele não estivesse lá. O cheiro a tabaco e a álcool era tanto que por momentos pensei que tivesse recuado no tempo e isto fosse eu a acordar numa manhã onde o meu pai estava de ressaca. Abanei a cabeça e comecei a colocar algumas roupas dentro do saco de couro preto que trazia.

Quando vi Michael a adentrar o quarto todo o meu mundo parou. As olheiras deles, a barba mal e a magoa que carregava no olhar. Ele estava mal eu sabia, mas não estava pior que eu. O que diriam os ancestrais sobre nós? Duas almas gêmeas quebradas e destinadas a destruição. A verdade é que Michael fez o meu coração tremer, dobrar, quebrar mas eu não conseguia virar costas e deixa-lo.

"Hope.." Michael murmurou a culpa no seu tom fazia o meu sangue ferver. Porque tinha eu de ser tão fraca quando toca a ele?

"Não fales comigo" Gritei-lhe atirando as últimas peças de roupa para dentro do saco.

"Não me deixes..." Michael chorou alto caindo de joelhos no chão. Vi a cena em câmera lenta. O meu mundo caiu e o tempo parou. "Não Hope, por favor não vás não me deixes meu amor.."

As lágrimas já corriam pela minha cara. Eu não podia ceder mas seria impossível sair por aquela porta e deixar Mike para trás assim. Acabei por me ajoelhar na sua frente, ele era tão maior que eu. Mesmo assim eu sentia-me pequena do seu lado. Mesmo quando a razão era minha.

"O que devo fazer eu agora?" Perguntei alto. "Ficar e se fraca ou partir e viver com a dor, Michael o que farias?"

"Não te deixava"

"Eu preciso de tempo..." Respirei fundo e levantei-me. Peguei no saco coloquei-o no meu ombro e assim como entrei sia rapidamente.


HOPE » Michael CliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora