48. Riffs

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A luz forte embatia nos meus olhos. O quarto estava iluminado por tons alaranjados. Sentei-me na cama e esfreguei os olhos amarrando o meu cabelo em seguida. Depois de despertar é que consegui ouvir os riffs que Michael tocava, provavelmente na sala. Arrepiei-me com o som que a guitarra imitia. Caminhei lentamente adentrando a sala, ali estava ele. Tão concentrado. Ele tinha tanto talento. Fechei os olhos e deixei-me ficar ali, encostada na parede a ouvir. A sua voz juntou-se a guitarra e eu posso jurar que nunca ouvi nada tão belo. Tão melódico. A sua voz rouca com os riffs, era a combinação perfeita. Suspirei e acho que ele me ouviu pois virou-se para trás, sorrindo-me.

"Bom dia.." Apoio-se nas costas do sofá olhando-me. Sorri e encaminhei-me para o seu lado. Michael retirou a guitarra do seu colo e colocou-a com cuidado no chão, deitei a minha cabeça no espaço vago agora.

"O que vais fazer hoje?" Questionei dobrando as minhas pernas, colocando-as sobre as costas do sofá. A mão de Michael estava no meu cabelo, massajando carinhosamente o meu couro cabeludo.

"Os rapazes e eu vamos ensaiar de tarde. O dono do bar pediu-nos para tocar lá este fim de semana" Informou-me mudando de canal, era cedo e nestes horários apenas passavam as televendas na televisão.

"Achas que eles vão suspeitar de alguma coisa?" Perguntei mordendo o lábio.

"Hope, tu dormiste aqui. Só se quiseres que te leve agora para a casa deles." Michael retirou o telemóvel do bolso, vendo as horas. "São quase sete horas, eles ainda estão num sono muito profundo." Ri, era verdade.

"Vou vestir-me então." Levantei-me caminhando novamente até ao quarto, Michael beijou a minha bochecha antes de eu ir.

Vesti umas calças minhas quaisquer que ainda ainda estivessem aqui e deixei a camisa dele. Calcei as minhas botas e antes de sair dirigi-me a casa de banho penteando o meu cabelo. Quando este finalmente ficou apresentável eu voltei até ao encontro de Michael que já estava encostado na parede do hall da entrada com as chaves de casa e do carro na mão.

"Eu queria que ficasses comigo sabes.." Michael suspirou tristemente quando chegamos ao meu destino.

"Eu também queria ficar, mas é melhor desta maneira." Sorri acariciando a sua bochecha. Ele sorriu fechando os olhos por momentos.

"Eu amo-te Hope" Michael disse ternamente. Beijando os nós dos meus dedos antes de eu sair.

O meu coração tremeu quando vi o carro desaparecer na rua. Eu não queria estar sem ele, mas algo em mim me gritava que era melhor assim. Adentrei a casa de Calum e Joanne e em passos muito pequenos e delicados corri para o quarto.

[...]


"Dormiste bem Hope? Chegaste tarde ontem do trabalho!" Disse Joanne inocentemente. Oh não foi do trabalho que eu sai.

"A Miss Wood precisou de mim, faltou pessoal para preparar as coisas" Inventei uma desculpa. "Sabes como é, acabei por me distrair com as horas e depois a Miss Wood deu-me boleia" Falei calmamente rezando para não me engasgar.

"Hope.." Joanne suspirou. E a minha respiração travou. "Não deves trabalhar assim, não deixes que abusem de ti lá por seres mais nova" Aconselhou-me e eu senti-me mal por manter este segredo dela. Por lhe estar a mentir.

O dia passou e Calum insistiu em levar-nos com ele. Assim que chegamos vi Michael sair do sue carro dirigindo-se até a mala para retirar a guitarra. Joanne olhou-me para verificar se estava bem, sorri-lhe fracamente.

Quando entramos no bar, Joanne sentou-se do meu lado numa mesa perto deles. Eles falavam alto e riam sobre as conversas dele. Quando Michael sorria ou ria o meu mundo ficava melhor, como se encontrasse tranquilidade nele.

Joanne olhou-me chateada pois provavelmente ela apercebeu-se que não a estava a ouvir.

"Estás apática Hope" Disse batendo levemente no meu braço.

"Distraída" Corrigia rindo. "O que estavas a dizer?" Questionei-a.

"Ontem o Calum disse-me que esteve a tratar de algumas coisas para o casamento, e que já arranjou data." Disse nervosa pulando na cadeira.

"Oh.." Sorri abertamente rindo agarrando nas mãos dela. "Isso é bestial" Rimos. "Quando é?"

"Daqui a três semanas" Mordeu o lábio. "Eu sei que parece pouco tempo, mas a minha mãe já andou a tratar das coisas chatas e o vestido é rápido." Ela riu abanando a mão tentando relaxar-me.

"Estou tão feliz por ti" Sorri-lhe já imaginando o dia. "Nem sabes o quanto eu melhorei com esta notícia. Hope tu tens razão, uma tempestade não dura para sempre e eu não posso ficar presa ao passado!" Ela falou docemente.

A conversa prolongou-se, falava com Joanne observando-os. Michael olhou-me sorrindo rapidamente. Corei rindo para mim mesma. A tensão que havia entre nós era demasiado grande. Eles pensavam que era por um motivo mas na verdade era por outro.

"Pareces a Hope de algum tempo atrás, se é que me faço entender" Joanne disse ironicamente. Olhei-a fingindo-me de desentendida.


Hope anda lá tu consegues aguentar só mais um pouco!


HOPE » Michael CliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora